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Mais da metade da água tratada pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) não chega ao consumidor que paga suas contas corretamente em Salvador. O ranking anual de saneamento do Instituto Trata Brasil, divulgado na segunda-feira (20), aponta que 57% da água potável é desviada por dois caminhos: ligações irregulares e problemas na rede de distribuição. No decorrer de um dia inteiro, é como se o volume de 487 piscinas olímpicas não fosse devidamente entregue aos clientes.

Os dados indicam que as 100 maiores cidades do país perdem, em média, 36% de água tratada. Já em Salvador, o Indicador de Perdas na Distribuição é de 57%. De todos os municípios pesquisados, a capital baiana figura em 11º lugar no ranking de cidades que mais perdem água. Na primeira posição está Porto Velho (RO), com 77% de perdas, e na última, Nova Iguaçu (RJ), com apenas 7,9%. As informações utilizadas na composição do ranking são de 2021.

A perda de água em Salvador está acima da média nacional desde o início da série histórica, em 2010. A menor perda registrada pelo instituto foi em 2015, quando 46% de toda a água potável não chegou aos consumidores que arcaram com as contas. Desde 2016, o índice fica acima de 51%. Para realizar o levantamento, foram utilizados dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis). Vale lembrar que a perda de água não deve ser confundida com desperdício, que ocorre quando os consumidores deixam uma torneira ligada por muito tempo, por exemplo.

Especialistas em recursos hídricos consideram que existem dois tipos de perda de água. Um deles é a perda aparente, consequência dos roubos e ligações irregulares, popularmente conhecidas como “gatos”. Do outro lado, existem as perdas reais que acontecem por problemas nas redes e às quais os consumidores não têm culpa.

“A diferença entre o volume de água que sai da estação de tratamento e o que chega nos hidrômetros é a perda. No caso das perdas físicas, podem ser vazamentos ocultos que estão debaixo do pavimento ou aqueles que afloram na superfície”, explica Luana Pretto, presidente do Trata Brasil. O instituto é uma organização da sociedade civil de interesse público e atua desde 2007.

Segundo dados do levantamento, aproximadamente 879 litros não chegam diariamente a cada ligação de água de consumidores que arcam com suas contas mensalmente. Ao todo, existem 1.048.358 ligações de água em Salvador. A multiplicação entre os dois números leva à conclusão de que mais de 921,4 milhões de litros de água deixam de chegar pelas tubulações aos consumidores por furtos e problemas na rede.

Para se ter noção do tamanho do problema, a quantidade de litros corresponde a aproximadamente 487 piscinas olímpicas, como aquela instalada na Avenida Octávio Mangabeira, na Pituba. A perda de água vai ao encontro do que é previsto pelo Marco Legal do Saneamento - Lei nº 14.026 - sancionado em julho de 2020. O novo marco estabeleceu que o índice de perda de distribuição de água seja reduzido para 25% até 2033.

A responsabilidade de fiscalizar os serviços prestados pela Embasa é da Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), que foi procurada para informar quais medidas tem realizado para garantir que a empresa cumpra os requisitos do marco legal. No entanto, a Agersa não se pronunciou até o fechamento desta edição, às 22h

Vazamentos
Uma das perdas reais mais emblemáticas da cidade ocorreu na quinta-feira (16), que marcou o início do Carnaval, no mês passado. Na ocasião, uma adutora rompeu na Avenida Reitor Miguel Calmon, engoliu um carro e desperdiçou milhares de litros de água. Outros três rompimentos significativos ocorreram ao longo de fevereiro em três bairros da cidade: Ondina, Fazenda Grande IV e Federação.

Vazamentos menores ocorrem com ainda mais frequência na rede de distribuição hídrica. A própria Embasa admite que acontecem 30 vazamentos diários nos 7,8 mil quilômetros de extensão de rede de distribuição em Salvador e Região Metropolitana (RMS). A média é considerada satisfatória pela empresa e por especialistas.

O levantamento do Instituto Trata Brasil não especifica quanto das perdas acontecem por problemas de vazamento e quanto é consequência de “gatos”. Porém, dados do Plano Municipal de Saneamento Básico de Salvador, de 2020, indicaram que 55,9% do recurso tratado é perdido na cidade. Desse total, 32,3% são causados por perdas reais (vazamentos) e 23,6% por perdas aparentes (o que não é pago por quem utiliza).

A Embasa foi procurada para comentar o assunto e não informou o quanto deixa de faturar pelas perdas de água na rede de distribuição. A empresa informou apenas que as ligações irregulares - “gatos” - correspondem a 30% do volume não contabilizado em Salvador.

Como solucionar o problema?
Para evitar as perdas que ocorrem por vazamentos, é preciso que investimentos sejam feitos na rede de distribuição hídrica, como indica o engenheiro sanitarista Jonatas Sodré, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA). “Uma série de fatores podem ser levados em consideração para evitar as perdas reais. É preciso realizar manutenção com frequência, melhorar a qualidade das tubulações”, afirma.

Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil, analisa que a diminuição da perda de água passa pela setorização da distribuição hídrica. “É preciso ter um programa estruturado de redução de perdas. Para fazer isso, é preciso dividir a cidade em pequenas partes e colocar hidrômetros nas entradas para saber o quanto de água está chegando para cada morador”, defende. Válvulas redutoras de pressão também deveriam ser instaladas para evitar vazamentos, de acordo com a presidente.

Procurada, a Embasa informou que atua em duas frentes para evitar as perdas de água. Por um lado, a empresa diz que realiza um “adequado controle operacional e manutenção do sistema, por meio de equipamentos de controle de vazão e pressão, e orientado por tecnologia de monitoramento remoto, para reduzir a ocorrência e o tempo de correção dos vazamentos".

Já para conter as perdas comerciais (furtos), a Embasa afirma que investe constantemente na renovação de hidrômetros e relacionamento com usuários, proporcionando a renegociação de dívidas para evitar os “gatos”. Um trabalho também é realizado em conjunto com forças policiais para desfazer ligações clandestinas, informa a Embasa.

Publicado em Bahia

A água que usamos para tomar banho e cozinhar é potável. Em teoria, sempre será própria para uso. Mas, uma pesquisa do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, a partir de dados sobre a qualidade do líquido consumido pelos baianos entre os anos de 2018 e 2020, aponta que em sete de 196 cidades do estado, surgiram índices acima do permitido de substâncias cancerígenas pelo menos uma vez, o que representa 3,5% do total de municípios testados.

O maior responsável pela contaminação é um componente gerado no próprio tratamento do recurso hídrico. As cidades de Camaçari, Cruz das Almas, Itabuna, Itiruçu, Jequié, Lauro de Freitas e Vitória da Conquista foram as sete dentre as listadas no levantamento que apresentaram contaminação.

Os dados da pesquisa do Sisagua/MS foram compilados pelo Mapa da Água, da Agência Repórter Brasil e cedidos ao CORREIO. A cada quatro cidades do país onde foram realizados os testes, uma, ao menos, teve como resultado água contaminada.

Em Cruz das Almas, somente dois testes de qualidade foram realizados e os dois identificaram água imprópria. Em Itiruçu, de dois, um teste foi reprovado. Nas cidades da Região Metropolitana de Salvador, dois dos 14 testes feitos em Lauro de Freitas foram reprovados. Já em Camaçari, a testagem foi muito maior, do total de 3.677, apenas um identificou água contaminada. A quantidade de testes segue a frequência definida de acordo com o tamanho da população abastecida, segundo a Embasa.

Em Itabuna, 33 das 2.085 amostras foram reprovadas. Na cidade de Vitória da Conquista, duas das 275 amostras estavam contaminadas. Já em Jequié, um do total de 247 amostras teve as substâncias tóxicas encontradas acima do limite. Em seis das sete cidades, os componentes encontrados acima do patamar de segurança foram os ácidos haloacéticos.

Classificados como subprodutos da desinfecção da água, os haloacéticos são formados quando o cloro é adicionado ao tratamento. Os ácidos são seguros desde que mantidos abaixo da concentração recomendada pelo Ministério da Saúde.

Roberto Márcio Souza, mestre em química analítica ambiental e professor da UniRuy Wyden, explica que o cloro evita que bactérias e protozoários nocivos à saúde humana se desenvolvam na água.

“O cloro é um agente oxidante que vai impedir que microrganismos se desenvolvam por um período. Embora seja essa sua função, podem existir reações paralelas indesejáveis nos processos físicos e químicos para tentar retirar substâncias poluentes prejudiciais à saúde”, diz.

O professor Roberto Márcio destaca que é necessário que exista um controle constante de todos os parâmetros possíveis, incluindo os que dizem respeito às reações paralelas, durante o processo de tratamento, para evitar que as substâncias apareçam em quantidade acima do permitido. Para o professor, a legislação brasileira deveria ser mais severa em relação a isso.

Ele também alerta que os danos para os seres humanos vão depender dos efeitos cumulativos das substâncias e do organismo de cada pessoa. “Têm pessoas que já possuem problemas hepáticos, por exemplo, então existe uma série de incógnitas em relação a isso”, acrescenta.

A Agência Nacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), classifica os ácidos haloacéticos como potencialmente cancerígenos para os humanos. Se consumidos em altas concentrações, podem gerar problemas no fígado, testículos, pâncreas, cérebro e sistema nervoso.

Fabrício Tourinho, gerente de controle da água e efluentes da Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa), que faz o tratamento hídrico no estado, afirma que períodos de muita chuva entre os anos analisados podem ter sido responsáveis pela concentração de substâncias acima do permissível. Segundo ele, as amostras reprovadas nos testes são pontuais e não são suficientes para classificar a água como imprópria para o consumo.

“Em algumas épocas do ano de mais chuva, a natureza acaba jogando mais nutriente e matéria orgânica nas captações de água. Esta matéria orgânica chegando na estação em quantidade maior, faz com que se precise aumentar a quantidade de cloro a ser utilizada, o que tende a formar mais subprodutos”, explica.

Diferente dos outros municípios, Camaçari apresentou nitrito em excesso na água potável. Segundo Fabrício Tourinho, esse componente é encontrado quando o recurso captado sofre poluição humana. “Ele aparece na água geralmente quando há associação por contaminação com fontes externas à base de nitrogênio, como lançamento de esgoto. A presença dele sinaliza que a água está próxima de uma área de contaminação”, diz.

Em nota, a Embasa afirmou que realizou 34.500 análises de amostras de água no período contemplado pela pesquisa do Sinagua e que apenas 0,1% delas estavam em não conformidade com a legislação estabelecida.

Enquanto as análises federal e estadual divergem, moradores das cidades afetadas ficam sem saber se a água que consomem é segura.

O estudante de Engenharia da Computação Raphael Souza mora em Lauro de Freitas e ficou assustado ao saber da pesquisa. “Ficamos sem saber se dá para confiar ou não”. Silvânia Oliveira, fotógrafa que mora em Cruz das Almas, afirma que se preocupa apesar de não ter notado diferença na água que consome. "Infelizmente é uma notícia muito ruim, chega a ser algo muito preocupante para a nossa saúde no futuro", diz.

A reportagem entrou em contato com as sete cidades baianas apontadas no estudo. A prefeitura de Jequié informou que deve agendar reunião com a diretoria regional da Embasa, através da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Meio Ambiente (Seagri). A gestão de Vitória da Conquista informou apenas que solicitou esclarecimentos da companhia responsável pelo tratamento da água.

A prefeitura de Cruz das Almas disse que vai notificar a Embasa para ter explicações sobre o ocorrido. A gestão de Camaçari afirmou, através de nota emitida pela Coordenadoria de Vigilância Sanitária e Ambiental (Covisam), que realiza semestralmente coleta de água para análises específicas. Itabuna, Itiruçu e Lauro de Freitas não deram retorno até a publicação desta reportagem.

Municípios de outros estados tiveram resultados piores do que na Bahia. Em Guarulhos (SP) por exemplo, foram sete componentes encontrados.

Agrotóxico proibido desde 2012 é encontrado na água de Itabuna

O metamidófos, veneno utilizado em culturas de algodão, foi proibido de ser utilizado no Brasil desde 30 de junho de 2012, mas o banimento da substância há quase uma década não impediu que ele fosse encontrado na água potável de Itabuna, localizada no sul do estado.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que a substância é responsável por prejuízos ao desenvolvimento do embrião, além de ser altamente tóxico para os sistemas endócrino e reprodutor.

O agrotóxico já havia tido o uso proibido em países como o Japão, a China e na União Europeia (UE), quando a Anvisa solicitou a sua retirada do mercado nacional, em janeiro de 2011.

O professor de química Roberto Márcio destaca que o veneno pode ser encontrado quando a água passa por propriedades que utilizam a substância proibida.

“Isso acontece em regiões onde a coleta da água para o abastecimento urbano passa por fazendas que fazem o uso de determinadas substâncias, regularizadas ou não, na produção agrícola. Do ponto de vista ambiental, a chuva pode lixiviar, ou seja, arrastar, esses agrotóxicos para o próprio solo e águas subterrâneas que acabam tendo contato com as águas que estão na superfície”, explica o professor;

Ele acrescenta ainda que é muito difícil realizar o tratamento da água para que haja uma retirada completa desse tipo de componente.

Em nota, a Empresa Municipal de Águas e Saneamento (Emasa), que atua em Itabuna, contestou os dados da pesquisa do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua). Segundo a companhia, o laboratório do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) foi contratado para verificar a qualidade da água e atestou que os metamidófos e ácidos haloacéticos estavam dentro dos padrões estabelecidos.

Apesar de proibido desde 2012, uma portaria do Ministério da Saúde, de maio do ano passado, permite que até 7 microgramas de metamidófos sejam encontrados a cada litro de água potável.

Testes Realizados x Reprovados pelo Sisagua:

*Camaçari - 3.677 e 1 contaminado
*Cruz das Almas - 2 e 1 contaminado
*Itabuna - 2.085 e 33 contaminados
*Itiruçu - 2 e 1 contaminado
*Jequié - 247 e 1 contaminado
*Lauro de Freitas - 14 e 2 contaminados
*Vitória da Conquista - 275 e 2 contaminadas

*Fonte: Repórter Brasil

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O governador Rui Costa cumpriu uma agenda de entregas no sudoeste do estado nesta quinta-feira (3), quando esteve em Rio do Antônio. Na ocasião, foi entregue a implantação do novo sistema integrado de abastecimento de água a partir da Barragem do Truvisco.

"Hoje nós estamos entregando mais de 41 km de adutora, pegando águas de vários mananciais diferentes, pra reforçar e garantir o fornecimento de água pra todas as comunidades. Junto a isso entregamos a rede e estação de tratamento de esgoto. É uma entrega muito importante pelo impacto direto na vida das pessoas", afirmou o governador Rui Costa.

A obra tem investimento de R$ 6,8 milhões e contempla a implantação de captação flutuante, com vazão de 130 m³/h, na Barragem do Truvisco; implantação de 41.393 metros de adutora de água bruta; construção de dois reservatórios com capacidade de 350 m³ cada um; e, construção de um filtro russo com três módulos filtrantes, elevando a capacidade de tratamento da estação de tratamento de água. O sistema beneficia 15 mil habitantes de Rio do Antônio e Grajerú.

O governador ainda vistoriou o andamento das obras do sistema de esgotamento sanitário de Rio do Antônio. O município ainda não dispõe de sistema de esgotamento sanitário operado pela Embasa e a obra conta com recurso de mais de R$ 9,4 milhões e beneficiará mais de 4.600 moradores.

Ainda em Rio do Antônio, o governador participou da inauguração da Unidade Básica de Saúde (Unidade de Referência para Tratamento da Covid-19), no Bairro Lagoa do Barro. A obra é um investimento da gestão municipal.

Ordem de serviço

Rui Costa ainda assinou ordem de serviço para implantação de Sistema de Abastecimento de Água para atender a Comunidade de Bastião. Serão investidos R$ 230 mil para atender cerca de 300 moradores da localidade. A rede distribuidora terá mais de quatro mil metros de tubulação e cerca de 80 ligações domiciliares.

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