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Na contramão do que aconteceu no Brasil em maio, Salvador e a Região Metropolitana registraram o maior aumento de preço dos últimos 27 anos, com a aceleração de 1,29% da inflação, ocupando o lugar de 2ª maior inflação do Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Enquanto isso, no cenário nacional, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, ficou em 0,47% em maio. A taxa é inferior ao 1,06% registrado em abril. Na Região Metropolitana de Salvador, o aumento entre abril e maio deste ano foi de 0,32%. Alguns dos principais produtos e serviços que ajudaram a puxar o aumento da inflação na RMS foram a gasolina (6,66%) e a energia elétrica (2,56%).

Para o economista e membro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Edval Landulfo, o fato da Região Metropolitana de Salvador (RMS) ser abastecida por uma refinaria privada explica o preço diferente do praticado no país.

“A Petrobras deixou de ter influência no valor dos combustíveis aqui e a Acelen [empresa que administra a Refinaria de Mataripe] passou a praticar o que chamam de livre mercado [...] Ela pratica um preço diferente porque ela possui uma outra planilha, que é justificada pela empresa ter um custo variável diferente do da Petrobras", explica o economista. No Brasil, houve desaceleração de 1% nos combustíveis em maio.

Nos 12 meses encerrados em maio, a inflação na RMS chegou a 12,98%, frente a 12,78% em abril. Continua acima do indicador nacional (11,73%) e já é a segunda mais elevada, abaixo apenas da Região Metropolitana de Curitiba (14,19%).

Energia elétrica

Para entender o aumento da energia, é preciso voltar alguns meses. Em abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou um reajuste de 21,35% nas contas de energia na Bahia. Como o aumento ocorreu dias depois do fim da bandeira tarifária de escassez hídrica, o que impactou em uma redução de 20%, a Agência justificou que não haveria aumento e sim redução de 1,6% nas contas de luz.

O acréscimo, entretanto, foi sentido no estado e destoa da realidade do país. Para se ter noção da diferença, a energia teve uma diminuição de 7,95% no Brasil. “Quando a bandeira tarifária vermelha caiu, houve diminuições de preços em todo o país, mas, alguns estados tiveram aumentos logo depois. No Ceará, por exemplo, o aumento contribuiu para que a Região Metropolitana de Fortaleza tivesse a inflação mais alta do país em maio”, esclarece a supervisora de disseminação de informações do IBGE, Mariana Viveiros.

Alimentos
Em maio, todos os nove grupos de produtos e serviços que compõem o IPCA ficaram em alta na Região Metropolitana de Salvador. Isso não ocorria desde janeiro deste ano. Outro grupo responsável pelo aumento da inflação é o dos alimentos (0,94%), que aumentaram menos do que em abril (2,22%).

De acordo com o IBGE, o acréscimo do mês foi puxado principalmente pelo leite e derivados, que registraram alta de 3,96%. Só o leite longa-vida, que possui validade estendida de até quatro meses, ficou 8,17% mais caro nas prateleiras. Aumento que foi sentido pela estudante Julia Pinto, 22.

Como mora sozinha, a jovem é quem faz as compras de casa e conta que precisou mudar hábitos de consumo para economizar na hora de ir ao mercado. A solução encontrada por ela foi reduzir o número de produtos industrializados no carrinho e comprar mais itens de feira. “No caso do leite de caixinha, por exemplo, tenho levado sempre a marca mais barata, que nunca custa menos de R$ 4”, diz.

Enquanto isso, os brasileiros não estão tendo aumento real dos salários, o que faz com que a inflação diminua consideravelmente o poder de compra das famílias. “Nos últimos cinco anos, de 2017 até 2022, as pessoas perderam cerca de 31% do poder de compra dos seus salários”, afirma Edval Landulfo.

Mais pobres sentem um peso maior

O aumento dos produtos pesa mais no orçamento das pessoas que recebem menos dinheiro, como aponta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) da Região Metropolitana de Salvador. A taxa mede a inflação das famílias que recebem até cinco salários mínimos e ficou em 1,32%.

A diferença entre o INPC e o IPCA, que não tem restrições, é de 0,03 pontos percentuais. “Os pesos dos produtos mudam dependendo da renda. Os alimentos e a energia elétrica, por exemplo, têm um peso maior para as famílias de baixa renda e elas acabam sendo mais afetadas pela inflação”, diz Mariana Viveiros. Isso acontece porque as famílias mais pobres destinam uma parte maior do orçamento para comprar comida do que os mais ricos.

Uma pesquisa divulgada na quarta-feira (8), mostra que 33,1 milhões de brasileiros passam fome, o que equivale a 15,5% da população. O número de pessoas em insegurança alimentar grave no país quase duplicou em menos de dois anos, de acordo com o levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan). Em 2020, eram 19 milhões.

Pão francês e farinha de mandioca mais caros
O valor do conjunto dos alimentos que compõem a cesta básica diminuiu em 14 das 17 capitais onde o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) pesquisa. Em Salvador, houve aumento de 0,53% em relação a abril. De acordo com o departamento, as altas foram alavancadas pelos aumentos do quilo do pão francês (3,79%) e da farinha de mandioca (3,26%).

O pão teve alta de preço em todas as cidades pelo segundo mês consecutivo e a explicação para o reajuste é a guerra entre Rússia e Ucrânia, como explica a supervisora técnica regional do Dieese, Ana Georgina Dias.

“Houve um aumento no preço do trigo no cenário internacional porque tanto a Rússia como a Ucrânia são produtores que não estão conseguindo escoar a produção no momento por conta da guerra”, afirma. No caso da farinha, a alta se deu pela baixa oferta de mandioca e a forte demanda industrial, que fizeram com que a cotação subisse no varejo.

Publicado em Economia