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A notícia de que a primeira prefeita da história de Cachoeira está sendo ameaçada de morte chegou a Brasília, e uma comitiva baixou no Recôncavo, nesta segunda-feira (10), para averiguar a história. A ex-feirante e agora prefeita Eliana Gonzaga (Republicanos) recebeu a ministra da Mulher, Família, e Direitos Humanos, Damares Alves, e representantes do Congresso Nacional e da Procurador Geral da República.

A comitiva deu apoio à prefeita, destacou a importância do estado de direito e disse que vai acompanhar o caso. A ministra Damares foi recepcionada pela prefeita na chegada a Cachoeira. "Estamos aqui para dizer para a senhora que a senhora não está sozinha", afirmou a ministra.

Em seguida, a comitiva e a prefeita subiram para o segundo piso da Fundação Hessen, onde houve o encontro. Damares prometeu ajudar a prefeita na gestão, disse que haverá recursos federais para o município e fez uma reunião a portas fechadas com Eliana, congressistas e representantes da Procuradoria Geral.

"Se for necessário, o governo federal vem ajudar a te proteger, prefeita. A senhora terá o melhor mandato possível. A gente veio aqui para proteger uma guerreira", disse Damares. Ela não deu detalhes sobre a pauta da reunião a portas fechadas.

Eliana, que sentou ao lado da ministra, agradeceu o apoio e se emocionou ao falar do caso. "Esse ato de hoje é a defesa do direito democrático. Cachoeira está sendo exemplo de crime político, mas afirmo que eles não vão me calar. O povo de Cachoeira é um povo guerreiro que participou da independência. O primeiro grito de liberdade foi dado aqui, na praça, e agora estamos dando outro grito pela liberdade. Eu não vou renunciar", afirmou.

Ameaças
Ex-feirante, Eliana foi a primeira mulher, e negra, desde a emancipação do município de Cachoeira, em 1837, a comandar a cidade. Ela venceu a última eleição, em novembro do ano passado, derrotando o empresário Fernando Pereira, o Tato, (PSD) que tentava a reeleição. Ele já havia exercido o cargo em outros dois momentos, e se ganhasse seria o quarto mandato.

Desde que o resultado da eleição foi divulgado Eliana vem sendo ameaçada de morte. O caso ficou ainda mais grave depois que dois correligionários dela foram assassinados. Nesta segunda, a prefeita contou que depois que o caso ganhou repercussão as ameaças diretas cessaram, mas que os ataques continuam nas redes sociais. Por precaução, ela ainda não está dormindo na cidade.

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Alvo de ameaças de morte desde que foi eleita, a prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga, pediu celeridade nas investigações sobre as intimidações e homicídios que aconteceram na cidade.

Eliana esteve na sede do Minsitério Público nessa segunda-feira (26), acompanhada a vice-prefeita, Ana Cristina Soares Pereira, da deputada estadual, Fabíola Mansur (PSB) e do deputado federal, Bispo Márcio Marinho (Republicanos). Ela foi recebida pela procuradora-geral de Justiça, Norma Cavalcanti.

Também participaram do encontro o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminal - Caocrim, André Lavigne, e o promotor de Justiça da Comarca de Cachoeira, Rodrigo Rubiale.

Relembre o caso
Depois de se eleger em novembro do ano passado derrotando Fernando Pereira, o Tato (PSD), empresário forte da região que tentava se reeleger pela quarta vez, a atual prefeita vem sendo ameaçada de morte e já teve dois correligionários executados após à sua posse.

A primeira vítima foi Ivan Passos, morto em 17 de novembro, dois dias após a vitória de Eliana. A segunda vítima foi foi Georlando Silva, que era coordenador de obras da prefeitura, morto no mês passado, com 10 tiros. Além disso, a prefeita já recebeu ligações onde ouvia barulhos de tiros do outro lado da linha e foi seguida por homens em uma moto, que fugiram após intervenção da polícia.

De acordo com a gestora, as ameaças e os assassinatos tem o objetivo a renuncia de Eliana do cargo. No entanto, nascida e criada no bairro de Ipitanga, a prefeita filha de Cachoeira mostra confiança para seguir à frente da terra de bravos guerreiros, que deu o primeiro grito de Independência da Bahia e, consequentemente do Brasil. E é por isso, a sua ancestralidade à credencia à luta.

“Eu não vou renunciar. Eu não tenho medo. Junto com os meus ancestrais, aqui também pulsa a veia sindical, e muito forte e não sou covarde. A veia do sindicalista não recua”, disse ela, que já foi líder sindical e vereadora na cidade dois mandados (2009/2016).

Dois suspeitos por ameaças feitas à Eliana Gonzaga foram presos, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Por meio de nota, a SSP disse que “no início deste ano, recebeu a prefeita e de imediato reforçou o patrulhamento com equipes da Polícia Militar, na sua residência, no local de trabalho e também em agendas externas”. “Destaca ainda que, após o encontro, a Polícia Civil deflagrou a Operação Cidade Heroica que culminou nas localizações de dois criminosos apontados como autores das ameaças”.

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"Eu tenho certeza que se eu não tivesse a minha pele negra, se eu não tivesse vindo da família que eu venho, de baixa renda, que representa uma categoria de trabalhadores, porque nós somos militantes sindicais, representando a agricultura familiar, isso não estaria acontecendo", disse a prefeita de Cachoeira, cidade do recôncavo da Bahia, Eliana Gonzaga de Jesus (Republicanos), após ter recebido ameaças de morte.

Por causa das ameaças, uma reunião entre a prefeita e o secretário da de Segurança Pública da Bahia (SSP), Ricardo Mandarino, decidiu que a prefeita vai receber escolta policial.

Eliana Gonzaga de Jesus é a primeira mulher negra a ser eleita prefeita de Cachoeira. Ela afirma que não tem inimigos e acredita que as ameaças são causadas por racismo ou motivações políticas.

"Não é normal, não é natural que uma mãe de família deixe sua casa sem nenhum motivo, sem nenhuma justificativa, só a títulos de ameaças sem fundamentação alguma", disse a prefeita.

A prefeita de Cachoeira teve que se mudar de cidade por causa das ameaças que vem recebendo. O carro que ela anda é blindado e a prefeita anda escoltada por policiais e seguranças particulares.

O clima de insegurança começou em Cachoeira em novembro do ano passado, quando um dos apoiadores, que trabalhou na campanha de Eliana de Jesus, foi assassinado com dez tiros, dois dias depois da eleição. Ivan Passos morreu no dia 17 de novembro, próximo à delegacia da cidade.

"A cidade foi inundada com uma conversa de uma suposta lista onde constava diversos nomes de militantes nossos, dizendo que Ivan era o primeiro apenas da lista, onde constava o meu nome, o do meu marido, o do meu filho e de diversos companheiros de luta na nossa trajetória", explicou a prefeita.

Depois desse assassinato, a prefeita começou a receber ameaças e prestou queixa na polícia.

"No dia 2 de dezembro, eu recebei uma ligação. Quando eu atendi, foi uma rajada de metralhadora". afirmou.
Por precaução, pessoas ligadas a Eliana de Jesus se mudaram para outras cidades. Uma delas foi Georlando Silva, que foi candidato a vereador nesta última eleição também pelo partido Republicanos.

Georlando Silva não foi eleito, mas assumiu o cargo de coordenador de obras da prefeitura de Cachoeira. Ele também recebeu ameaças e chegou a postar um vídeo nas redes sociais contando a situação.

No dia 7 de março deste ano, o militante foi assassinado com 19 tiros na cabeça no meio da rua, perto do centro de Cachoeira.

Apesar da situação, Eliana de Jesus diz que vai resistir às ameaças e continuar exercendo o cargo de prefeita.

"Nós temos o sangue de guerreiros, que gritaram o grito da independência aqui em Cachoeira. Nós não vamos envergonhar os nosso ancestrais. Nós temos a honra, o dever e a obrigação de honrar todos os sangues dos nossos antepassados que foram derramados por essa liberdade"

Um homem morreu e outro foi preso durante uma operação realizada em Cachoeira, no dia 19 de março deste ano, pelo Departamento de Polícia do Interior (Depin). A SSP-BA informou que eles são suspeitos de envolvimento nas ameaças feitas à prefeita.

Ainda de acordo com a SSP-BA, o homem que morreu é suspeito de homicídio em Cachoeira e possuía mandado de prisão em aberto. Ele morreu após troca de tiros com os policiais. Com ele, foram apreendidos um revólver e munições.

Já o outro homem foi preso em flagrante em um imóvel no município, também com revólver e munições, além de porções de crack e cocaína. As identidades de ambos suspeitos não foram divulgadas.

Racismo

Em nota, a União dos Municípios da Bahia (UPB), entidade representativa dos gestores municipais, repudiou as ameaças sofridas pela prefeita de Cachoeira. Nesta quarta-feira (21), o presidente da entidade, Zé Cocá, manifestou preocupação com a segurança de Eliane de Jesus e afirmou que situações como essa precisam ser coibidas para garantir a liberdade do voto na Bahia e no Brasil.

A UPB afirmou que acionará à Secretaria Estadual de Segurança Pública sobre a necessidade de apuração dos fatos e culpados.

A União de Negras e Negros pela Igualdade Racial (UNEGRO), o Bloco Afro Ilê Aiye e o Instituto de Mulheres Negras Luiza Mahin também se manifestaram sobre o caso.

Em nota, as entidades do movimento negro e social manifestaram seu repúdio e extrema preocupação com as ameaças cotidianamente recebidas pela prefeita Eliana de Jesus.

As entidades consideram "um absurdo inaceitável que uma mulher negra democrática e legitimamente eleita, seja mais uma vez alvo da violência de grupos autoritários e violentos que não aceitam a vontade do povo expressa pelo voto. Repudiamos as ameaças de mortes, os ataques racistas e misóginos, conclamamos as autoridades competentes a apurarem e punirem os culpados. Não podemos permitir que o feminicídio político de mulheres negras que vitimou Marielle Franco se torne cotidiano no país”.

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