Preço de itens do café da manhã aperta o bolso do consumidor
Começar o dia com um pão quentinho e a manteiga derretendo, acompanhados de um cafezinho, tem o seu lugar. Quer dizer, tinha. Isso porque a alta constante do preço da cesta básica não deu sossego nem para o café da manhã. De acordo com dados mensais da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no último mês, Salvador foi a cidade que registrou o maior aumento no valor da manteiga entre todas as capitais pesquisadas do país, chegando a 9,27%.
A psicóloga Gustavia Varjão, 25 anos, fez mudanças radicais no desjejum. Nem o café escapou: “Compramos pelo preço. O mais barato é o escolhido e também diminuímos a quantidade de colheres para uma garrafa, comparado ao que usávamos habitualmente. Com essas medidas, a diferença no carrinho chegou a R$ 200”, conta.
Salvador também registrou o segundo maior aumento no leite integral, produto que o consumidor está pagando 35,23% a mais. Sobrou até para o nosso pão francês de cada dia, que já acumula uma alta de 28,30% nos últimos 12 meses. E o impacto do desjejum nas alturas tem sido mesmo indigesto para o bolso.
A supervisora técnica regional do Dieese-BA, Ana Georgina Dias, destaca o que mais chama atenção nesse momento é a combinação de fatores, que vão desde a questão da oferta reduzida até o aumento do custo de produção para alguns desses produtos.
No caso do leite e dos seus derivados, por exemplo, a extensão do período de entressafra, devido ao clima seco e à ausência de chuvas, somada ao aumento do custo de medicamentos e alimentação do rebanho fizeram com que o consumidor realmente pensasse duas vezes antes de colocar o produto no carrinho do supermercado.
“Teoricamente, com o fim do período da entressafra até agosto, o preço do leite e dos laticínios já deveria começar a apresentar uma tendência de queda. No entanto, tem a questão do custo da produção mais elevado. Então, a gente já não consegue mais fazer uma estimativa de quando isso ainda vai demorar”, comenta.
Será que há esperança de pagar menos pelo pão ou o café? Mais um prognóstico difícil, ainda de acordo com Georgina. Apesar de nós importarmos o trigo da Argentina, a guerra da Rússia e Ucrânia – dois importantes produtores mundiais - causou uma redução na oferta e elevou o preço.
“A tendência é que, com o escoamento das produções desses países, sua oferta no mercado internacional comece a se regularizar. Mas também não podemos esquecer que toda importação do trigo é feita em dólar. Então, tem aí também a questão do câmbio. No caso do café, a mesma coisa: uma oferta menor em termos globais elevou o preço. O Brasil é um dos grandes exportadores de café. Só a próxima safra vai decidir se realmente haverá essa queda”, afirma Ana Dias.
O jeito é mesmo buscar alternativas ou trocar os produtos por marcas mais baratas, movimento que o consumidor já está acostumado - e cansado - de fazer. “O preço dos produtos que compõem o café da manhã está em alta já há algum tempo. Está tudo muito caro de forma generalizada. E aí, infelizmente, as pessoas reduzem a quantidade consumida, opta por marcas mais inferiores, tenta colocar no orçamento para fazer caber esses preços."
‘Nem queijo eu compro mais’
A enfermeira Aline Soares da Silva, 40 anos, tem também suas estratégias. Reduziu pela metade o consumo de laticínios.
“Eu comprava a caixa fechada de litro de leite. Agora compro metade. Se antes eu gastava com os itens de café da manhã entre R$ 50 e R$ 60, hoje isso pulou para R$ 150. O jeito foi substituir leite por suco de frutas, usar menos manteiga no pão e laticínios de forma geral”.
No caso da professora Ana Maria Oliveira, 62 anos, o café agora é com mais banana-da-terra e batata-doce no lugar do pão. “Nem queijo, eu compro mais. Nunca mais comprei leite em pó. Antes eu ia ao supermercado sem me importar em conferir os preços. Comprava o que eu precisava. Hoje a gente vai fazendo sorteio do que vai ser possível realmente levar para casa”, afirma.
Ainda de acordo com o levantamento feito pelo Dieese, em julho deste ano, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 120 horas e 37 minutos – sete horas a mais do que a jornada necessária no mesmo período do ano anterior, que ficou em 113 horas e 19 minutos. O trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, no último mês, 59,27% do rendimento para adquirir os produtos alimentícios básicos. Em Salvador, o valor da cesta básica chega a R$ 586,54 - alta de 21,54% no acumulado de 12 meses.
Para o economista e educador financeiro Edísio Freire, com uma inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/ IBGE) chegando a dois dígitos (11,89%) no acumulado de 12 meses, de um jeito ou de outro é a população quem paga mesmo a conta.
“Cada ida ao supermercado vai exigir a compra somente do necessário de maneira bem fracionada. Por força da alta nos preços, estamos vivenciando com coisas não vistas como produtos em reduflação com a quantidade comercializada reduzida, itens sendo vendidos com qualidade inferior. É preciso ficar atento e modificar hábitos de consumo.”
O também economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), Edval Landulfo, concorda: “É apertar os cintos e buscar alternativas. Preparar um café matinal com mais frutas da época, fazer suco com elas, reduzindo um pouco a quantidade de café e leite. Buscar as raízes como o inhame. Fazer pesquisa, tentar aproveitar as promoções de alguns produtos porque não atravessamos ainda toda a turbulência causada nesse mercado de gêneros alimentícios”, aconselha.
Variação de preço dos itens de café da manhã na Bahia*
1. Leite integral (litro): Entre R$ 5 e R$ 10,99
2. Queijo mussarela (quilo): Entre R$ 27,99 e R$ 111,99
3. Manteiga (500 gramas): Entre R$ 8,89 e R$ 41,98
4. Café (250 gramas): Entre R$ 2,99 e R$ 28,99
5. Pão francês (quilo): Entre R$ 6,99 e R$ 27,19
* Pesquisa realizada no site Preço da Hora, da Secretaria da Fazenda do Governo do Estado, na tarde do dia 7 de agosto