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Mesmo com a alta da inflação no país, o setor de construção civil cresce na Bahia e já é o segundo estado que emprega mais do que no período pré-pandemia. Em fevereiro de 2020 eram 114 mil vagas formais, enquanto que no mesmo mês deste ano, o número saltou para 133 mil, o que representa um aumento de 15%. Enquanto isso, a capital Salvador ocupa o lugar de terceira cidade que mais gerou empregos formais nos dois primeiros meses de 2022, foram 3.043, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Os dados foram divulgados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) durante um evento realizado na tarde de quarta-feira (27) na sede do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA). Para se ter noção da importância do setor para a engrenagem da economia, 7,35% do total de trabalhadores formais no estado estão empregados na construção civil, de acordo com o Ministério do Trabalho.

“Hoje a construção civil no Nordeste emprega 20% a mais trabalhadores do que no período anterior à pandemia e isso acontece na Bahia também [...] O estado ganhou mais de 20 mil trabalhadores com carteira assinada, ou seja, é um mercado importante de geração de emprego e renda”, afirma Iêda Vasconcelos, economista da CBIC.

Seguindo a linha do setor aquecido, Salvador é a capital do Nordeste que mais lançou unidades residenciais no ano passado, foram 5,6 mil. Apesar disso, a cidade ocupa o quinto lugar no ranking de capitais que mais vendeu na região, segundo dados da consultoria Brain. Fábio Tadeu Araújo, sócio-dirigente da Brain, explica que um dos motivos que explica o fato de Salvador não ter vendido tanto quanto lançou é a baixa unidade de estoque.

“Fortaleza começou o ano passado com um estoque maior, eram cerca de 6 mil unidades em estoque. Enquanto Salvador tinha 4 mil unidades em estoque, então um dos fatores que explica Fortaleza ter vendido mais é que lá eles tinham mais o que vender [...] Salvador demorou para eliminar estoque ano passado, então faltou tempo para o lançamento. Falta muito produto em Salvador”, afirma Fábio Tadeu.

Um dos motivos que contribuíram para o cenário positivo do setor em 2021 na Bahia foi o decreto presidencial que tornou a construção civil um tipo serviço essencial durante a pandemia, em maio de 2020. “Temos que falar da importância que foi para o Brasil e para o emprego a construção civil não ter parado. Nós aumentamos em 15% a quantidade de empregos nesse período, o que é muito significativo”, diz o presidente da CBIC, José Carlos Martins.

As boas notícias sobre maior geração de postos de trabalho, especialmente no setor de construção de edifícios, deve esbarrar em um grande problema nos próximos meses: o aumento no preço dos insumos. A construção civil convive com significativas elevações de custos por conta de problemas na indústria durante a pandemia.

Entre julho de 2020 e março deste ano, pelo menos sete insumos imprescindíveis tiveram aumento de mais de 75% na capital baiana. A grande vilã é a chapa de compensado, que já acumula alta de 101%, ou seja, está valendo o dobro. Em seguida vem a fechadura para porta interna (98%), aço (96%) e vidro liso transparente (87%). A alta dos preços é muito acima da inflação brasileira, que está em 11,30% no acumulado dos últimos 12 meses, até março.

“A inflação da construção civil é muito maior do que a inflação do Brasil, então, os salários são reajustados pela inflação oficial, que está na faixa de 10%, aqui nós não temos inflação abaixo de 30%. É por isso que as famílias estão perdendo a capacidade de compra. Existe preocupação hoje dos empresários se vão conseguir dar conta de vender os lançamentos”, explica José Carlos Martins.

A elevação dos preços, no entanto, ainda não foi completamente repassada aos consumidores finais, aqueles que compram os imóveis. Isso pode ser explicado por um ditado muito usado por quem trabalha no setor: “a obra de hoje é o contrato de ontem”. Ou seja, as obras que foram realizadas ao longo de 2021 e no primeiro trimestre deste ano são fruto do ciclo de negócios iniciado em julho de 2020, quando a alta de preços não era tão significativa quanto agora.

Entre as cinco cidades analisadas pelo CBIC, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte, a capital baiana se destaca por ser a que menos aumentou o valor dos imóveis residenciais. Houve um incremento de apenas 6% nos valores dos imóveis vendidos na cidade no primeiro trimestre de 2022, em comparação com o período do ano anterior, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção.

Imóveis devem ter elevação de preços nos próximos meses

Se até agora os empresários não tinham necessidade de fazer um repasse maior do aumento do preço dos insumos, a partir de agora não tem mais jeito, os preços dos imóveis vão subir, é o que garantem os especialistas.

“É impossível lançar um empreendimento hoje com o mesmo custo que você tinha em março do ano passado ou em março de 2020. Mediante ao baixo volume de novas unidades disponíveis para comercialização, que é o estoque, e a demanda continua consistente, a tendência é de aumento de preços. Não tem como fechar a conta”, explica Iêda Vasconcelos.

Apesar dos especialistas não precisarem quando a alta de preços deve começar a ser sentida em Salvador, o presidente do Sinduscon-BA, Alexandre Landim, é claro: “A hora de comprar imóveis é agora”. Ele destaca, no entanto, que a inflação não é benéfica para nenhum dos lados e afirma que uma saída está sendo não priorizar as indústrias nacionais e comprar insumos onde os preços estão mais em conta.

“Ninguém ganha com a inflação, por isso não é do nosso interesse aumentar o preço dos imóveis e nem oportunizar isso. Mas hoje nós temos esse problema complexo [...] Estamos hoje, na construção civil, experimentando o que todo mundo já faz, que é comprar onde está mais barato no planeta globalizado”, diz Alexandre Landim.

Publicado em Bahia

O Índice Nacional da Construção Civil subiu 1,44 % em setembro, a maior alta desde julho de 2013, ficando 0,56 ponto percentual acima da taxa de agosto. No ano, o índice acumula alta de 4,34% e, nos últimos 12 meses, de 4,89%, resultado bem acima dos 3,78% registrados nos doze meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2019, o índice foi 0,37%. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Estamos atingindo três meses seguidos – fechando o terceiro trimestre -, com altas sucessivas da parcela dos materiais, que estão sendo impactantes na variação do índice nacional. Os custos da mão de obra têm se mantido estáveis. O que pesou no índice de 1,44% foi a alta em todos os segmentos de materiais – cimento, condutores elétricos, cerâmicas”, disse, em nota, o gerente da pesquisa, Augusto Oliveira.

Segundo o IBGE, o custo nacional da construção, por metro quadrado, que em agosto fechou em R$ 1.191,84, passou em setembro para R$ 1.209,02, sendo R$ 645,56 relativos aos materiais e R$ 563,46 à mão de obra.

A parcela dos materiais aumentou 2,55%, registrando o maior índice considerando a série com desoneração da folha de pagamentos iniciada em 2013. Os aumentos observados foram de 0,95 pontos percentuais acima do mês anterior (1,60%), e 2,28 pontos percentuais em relação a setembro de 2019 (0,27%).

A parcela da mão de obra com os dois reajustes observados, registrou taxa de 0,20%, subindo 0,11 ponto percentual em relação ao mês anterior (0,09%) e caindo 0,27 ponto percentual se comparada ao índice de setembro de 2019 (0,47%).

De acordo com a pesquisa, de janeiro a setembro os acumulados são 6,59% (materiais) e 1,85% (mão de obra), sendo que em 12 meses ficaram em 6,90% (materiais) e 2,62% (mão de obra).

Publicado em Economia