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A pandemia do coronavírus provocou uma onda de prejuízos para bares e restaurantes em 2020, mas, neste ano, as perdas podem ser ainda maiores. Agora, os estabelecimentos acumulam dívidas e, com limitações impostas pelo lockdown e toque de recolher, a conta não fecha. A saída, para muitos, é fechar as portas definitivamente.

De acordo com uma pesquisa realizada este mês pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Seção Bahia (Abrasel-ba), por causa do lockdown, 69% dos estabelecimentos do segmento podem fechar de vez ou já foram à falência. Já por conta do toque de recolher, o número aumenta para 74,2%, sendo que 17,4% dos entrevistados disseram que não vão mais abrir e 43,2% não sabem como vão funcionar. O levantamento foi realizado com 513 proprietários baianos.

Os dados também apontam que 77% dos estabelecimentos não estão com as contas em dia ou até conseguiram se manter até aqui, mas não terão dinheiro para pagar os boletos do próximo mês. Cerca de 67% deles têm ou vão passar a ter em abril dívidas com os bancos.

Para o presidente da Abrasel Bahia, Luiz Henrique Amaral, o cenário é caótico. “Contabilizando de março do ano passado até agora, sem dúvidas, esse quadro atual é muito mais agudo do que toda a fase que a gente já passou. Estamos com a projeção de um pico ainda pior do que o de 2020 e agora temos muitas outras variáveis, como as dívidas bancárias e os impostos, que sozinhos chegam a até 40% das despesas, por exemplo”, aponta ele.

Evaristo Castineira, sócio do Armazém Paulistano, acumula dívidas e se diz preocupado. “A gente pegou Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte]e não temos como pagar porque estamos fechados. O governo deu uma ajuda mas puxou o tapete. Mesmo fechados, temos custos de água, luz e impostos, e ainda os empréstimos que nos foram dados com juros. Se estamos fechados, a conta disso tudo não bate”, diz Castineira.

O empresário ainda afirma que, caso não haja mudança, o restaurante não terá como se sustentar já no próximo mês. “Agora, em 2021, com as novas restrições, estamos com grandes problemas financeiros, à beira do abismo mesmo. Se as restrições continuarem sem a gente receber nenhuma ajuda financeira do governo, com certeza, em cerca de um mês a gente vai ter que fechar as portas”, projeta ele.

O proprietário da Pizzaria e Pastelaria Pastelburg, Thiago Prado, já precisou demitir oito funcionários desde o início da pandemia e há meses vem fechando no vermelho. “Acumulamos dívidas de impostos, fornecedores, empresas de água e energia. E temos parcelamento de dívidas com juros, o que é um absurdo porque fomos obrigados a fechar e deixar de vender. O empréstimo ajudou, mas não chegou a cobrir nem 10% das pendências que ficaram pelo caminho e ainda tem a dificuldade de pagar isso agora”, pontua ele.

Prado ainda acrescenta que não vê uma saída e se preocupa com o futuro. “O cenário é muito ruim porque não sabemos o que nos espera e ainda estamos muito longe de uma vacinação em massa. Estamos em meio aos caos e não vemos luz no fim do túnel”, lamenta.

Falta verba
De acordo com a Federação Baiana de Turismo e Hospitalidade (FeTUR - Ba), até o início de março, mais de 80 mil colaboradores perderam o emprego desde o início da epidemia. Mesmo assim, ainda será preciso demitir mais. A pesquisa da Abrasel aponta que 90,7% das empresas irão realizar novas demissões, sendo que 71% delas terão que demitir de 10% a 50% do quadro atual.

Mas, ainda de acordo com a pesquisa, 37,6% das empresas não possuem caixa para essas demissões. Até para a redução de custos, é preciso primeiro desembolsar um dinheiro que, em alguns casos, não existe. O sócio do Armazém Paulistano explica: “Quanto aos funcionários, não tem dinheiro nem para pagar o salário e nem para mandar embora. A gente não tem mais de onde tirar dinheiro”, afirma Castineira.

E se não há recursos financeiros para a rescisão, não há nem mesmo para encerrar o negócio. O levantamento aponta que 5,2% dos estabelecimentos não possuem condições sequer de arcar com os custos do fechamento.

“O fechamento significa você zerar todo o seu passivo para poder fechar as portas. Para isso, é preciso ter reserva de caixa e é exatamente isso que alguns não têm”, diz o presidente da Abrasel. Luiz Henrique Amaral afirma que, por conta disso e também da burocracia para fechar as portas, os números podem estar por trás de uma situação ainda pior. Amaral ainda completa que enxerga saída na vacina. "A alternativa real de tudo é vacina. Sem a vacinação, todo mundo grita e ninguém tem razão", finaliza.

Delivery
Segundo o presidente da Abrasel, “os estabelecimentos que trabalham com delivery faturam cerca de 30% do que costumavam faturar normalmente”. Com isso, o modelo alternativo, sozinho, não consegue sustentar o negócio. Amaral ainda alerta que adotar o delivery pode, até mesmo, ser um mau negócio.

“A gente alerta muito nesse sentido para que os estabelecimentos tenham as contas muito bem gerenciadas porque o delivery ou a abertura somente durante o dia podem não estar compensando e dando mais prejuízo do que lucro, já que o funcionamento traz gastos”, ressalta.

Esse foi o caso de Fábio Araújo, um dos sócios da Petiscaria Quintal de Casa. Ele, então, preferiu não adotar o modelo de entrega. “Delivery não compensa porque a quantidade de pedidos é muito baixa. Eu pagaria mais do que ganharia para ter os funcionários no delivery. Para restaurantes, isso funciona, mas, para barzinho, não tem o que fazer”, explica.

Segundo ele, foi preciso demitir funcionários e segurar os preços do cardápio, mas, mesmo assim, a quantia de dinheiro que entra não consegue ser maior do que a que sai. “Reduzimos o quadro de funcionários em mais de 50%. A minha sócia faz o papel de uma auxiliar de cozinha, eu faço papel de garçom, tudo para economizar. E não estamos dando lucro. A palavra ‘lucro’ não está no nosso vocabulário desde fevereiro de 2020. Os preços são os mesmos desde novembro do ano passado, não tivemos condições de reajustar nada porque, quem tem os menores preços, ainda atrai mais clientes. A carne teve reajuste de 35% e eu não aumentei nem um centavo nos pratos”, conta Araújo.

Antes da pandemia, ele tirava o seu sustento do bar, mas, com a crise, precisou se desdobrar para conseguir pagar as contas. “Fui buscar outras coisas. Fui motorista de uber, voltei a fazer trabalho de design gráfico, voltei a dar aulas à distância; fiz de tudo”, desabafa ele.

Restrições
O governador Rui Costa confirmou, na noite deste domingo (14), a prorrogação do lockdown parcial em Salvador e na maior parte dos municípios da Região Metropolitana. Com isso, até 22 de março, nessas localidades, o funcionamento de estabelecimentos comerciais como restaurantes e bares só fica permitido em regime de delivery (operação que pode ocorrer até meia-noite), ou sistema de retirada de produtos no local (que pode ocorrer até 18h), desde que mantidas as portas fechadas ao público.

Já em todos os 417 municípios da Bahia, segue em vigor o toque de recolher das 20h às 5h, determinado pelo Governo estadual em toda a Bahia até o dia 1º de abril. Restaurantes, bares e congêneres devem encerrar o atendimento presencial às 18h e serviços de delivery serão permitidos até à meia-noite.

Publicado em Bahia