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Entre todas as capitais do país, Salvador é a que possui a internet mais lenta, de acordo com um levantamento realizado entre julho e setembro deste ano pelo site Minha Conexão. A capital baiana, além de estar atrás das principais cidades, possui banda larga pior do que municípios do interior e nem aparece no ranking dos dez com internet mais rápida na Bahia. Enquanto isso, o estado possui a terceira pior velocidade do Nordeste, com média de 82.77 megabytes por segundo (Mbps).

Durante o terceiro trimestre deste ano, a empresa realizou cerca de 6 milhões de testes gratuitos de velocidade em todo país. O objetivo da pesquisa é manter os consumidores informados sobre os provedores e regiões de boas performances. As cidades de Lagoa Real, Juazeiro e Remanso são as que possuem as melhores conexões no estado, segundo a pesquisa.

O pódio dos lugares com as melhores conexões de internet é composto, em sua maioria, por cidades de médio porte. A localização geográfica, os avanços tecnológicos na distribuição de dados, o crescimento da demanda por conectividade durante a pandemia, a descentralização de empresas provedoras e a quantidade de demandas são cinco dos fatores que ajudam a explicar a qualidade (ou não) da internet.

Isso quer dizer que não é necessariamente o tamanho de um município que determina a qualidade da internet oferecida. Salvador, por exemplo, teve como média de velocidade 85.13 Mbps no trimestre – quase metade da rapidez de Wenceslau Guimarães, no sul do estado.

Gerente de produto do Minha Conexão, Alexandre Martins elenca outros dois fatores determinantes na qualidade de internet de uma região. “A maturidade do mercado de telecomunicações, em relação à quantidade de concorrentes e de opções que o cliente tem, e questões socioeconômicas”, indica Martins.

No ranking dos estados do Nordeste, a Bahia fica na frente apenas de Alagoas e Sergipe. Já as capitais Cuiabá, Goiânia e Porto Velho se destacam quando o assunto é a conectividade mais veloz.

Como algumas regiões têm poder aquisitivo menor que outras, as empresas de telecomunicações ajustam as ofertas de plano – portanto, de rapidez e qualidade – para que sejam acessíveis para a população de determinado local.

“Por consequência, isso faz com que algumas regiões do Brasil tenham médias de velocidade inferiores do que outras”, conclui Martins.

Atualizações
Nos últimos anos, duas transformações foram determinantes para a evolução da conectividade nas cidades menores: a pandemia e a popularização da fibra óptica.

A primeira porque, ao transformar as dinâmicas sociais e de trabalho, exigiu uma conectividade maior – o acesso à internet em domicílios rurais foi de 51% a 71% e, nas cidades, de 75% a 83%, segundo o Cetic.br. A segunda, em parte consequência dessas transformações, porque facilitou a distribuição da internet.

Isso porque, antes da fibra óptica, a transmissão de internet acontecia por fiação metálica. E os metais, em uma torre, ficam sujeitos a problemas: eletromagnetismo, intempéries do tempo e até a altura do som de um carro atrapalham.

O metal também possui uma limitação física: um cabo se entende por três quilômetros. Quanto mais distante, mais cabo e menos velocidade. Já um cabo de fibra óptica, feito de vidro ou plástico, pode se estender por 500 quilômetros, sem comprometimento na qualidade da internet se houver necessidade de novos cabos.

Segundo a Anatel, a fibra óptica já representa dois terços da banda larga fixa no Brasil.

Quais são os desafios para uma internet de qualidade?

André Oliveira é analista de sistemas e dono de uma empresa localizada em Feira de Santana, a Core3, que distribui internet para 140 municípios. Quando iniciou no mercado, há 15 anos, eram necessárias até semanas para finalizar a instalação de um ponto de internet. André lembra do caso de um cliente, uma multinacional, que ele e a equipe atendem desde o início da empresa.

“Para entregar 10 megas, deu o maior trabalho, um sofrimento. Levamos quase 15 dias para instalar. Esses caras ainda estão com a gente. Fomos instalar um ponto de 1 giga, 100 vezes maior que antes, e instalamos em uma manhã”.

As dificuldades de acesso e distribuição de internet, no entanto, ainda existem. O dono da Core3 cita, por exemplo, o preço dos equipamentos, em dólar, durante a Guerra na Ucrânia e a crise econômica brasileira.

Para a professora de Energia Elétrica da UniFTC de Petrolina (PE), Marília Gabriela Alves, os principais desafios ainda são: qualidade, instabilidade e velocidade do sinal, alto custo dos planos e equipamentos, além da falta de conhecimento para uso da internet.

Os remédios para cada um deles dependem da região e nos grandes centros podem estar os maiores desafios.

"A qualidade depende dos equipamentos, número de usuários, características geográficas. O acesso à internet tem crescido, porém a qualidade não tem sido garantida", explica a professora.

A pesquisadora acredita que a melhor forma de definir a qualidade da internet no Brasil seria "um produto ainda em amadurecimento".

Publicado em Bahia

O internauta tem um dia dedicado a ele, 23 de agosto, data em que, no ano de 1991, a rede mundial de computadores foi aberta ao mundo. No Brasil, tem crescido, ano a ano, o número de pessoas com acesso à internet e a pandemia acelerou esse processo. Porém, as desigualdades de acesso ao mundo digital persistem no país, segundo especialistas.

Pesquisa promovida pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil revelou que, em 2020, o país chegou a 152 milhões de usuários - um aumento de 7% em relação a 2019. Com isso, 81% da população com mais de 10 anos têm internet em casa.

O coordenador da pesquisa, Fábio Storino, destaca que a pandemia fez com que os indicadores de acesso à internet apresentassem os maiores crescimentos dos 16 anos da série histórica.

O crescimento do total de domicílios com acesso à internet ocorreu em todos os segmentos analisados. As residências da classe C com acesso à internet passaram de 80% para 91% em um ano. Já os usuários das classes D e E com internet em casa saltaram de 50% para 64% na pandemia.

Porém, Fábio Storino explica que esse acesso à internet é desigual, uma vez que cerca de 90% das casas das Classes D e E se conectam à rede exclusivamente pelo celular.

A desigualdade de acesso à internet no Brasil se reflete também no ensino básico. O censo escolar de 2020 revelou que apenas 32% das escolas públicas do ensino fundamental têm acesso à internet para os alunos, porcentagem que chega a 65% no caso das escolas públicas do ensino médio.

Além de aumentar os investimentos em infraestrutura para internet nas escolas, o diretor executivo da ONG D3e, Antonio Bara Bresolin, que atua na produção de pesquisas para orientar políticas de educação, afirma que é necessário também capacitar os profissionais da área.

O governo federal espera aumentar a infraestrutura da internet nas escolas a partir do leilão do 5G, previsto para outubro deste ano. Segundo o ministro das Comunicações, Fabio Faria, 6,9 mil escolas públicas urbanas que hoje não têm acesso à internet receberão a infraestrutura nos primeiros anos da instalação do 5G no Brasil. O edital do 5G prevê investimentos para levar internet de alta velocidade para todas as escolas em locais com mais de 600 habitantes até 2029.

Publicado em Brasil