Quarta, 06 Novembro 2024 | Login

No primeiro dia do decreto estadual que exige a comprovação da vacinação em bares e restaurantes, a maioria dos estabelecimentos visitados pela reportagem em Salvador ainda não está exigindo o comprovante. Dos dez locais, nos bairros do Rio Vermelho e da Barra, apenas três cumpriam a exigência.

“Nós já estivemos em dois locais, um restaurante e um bar aqui na Barra, e nenhum deles exigiu. Nesse aqui, aconteceu a mesma coisa, ninguém pediu nada. Eu estou com meu cartão de vacina aqui”, conta a turista Ana Dias, que estava em um dos bares que não cumpria o decreto, acompanhada por mais dois amigos, Cristiane Ribeiro e Vítor Bruno.

Antônio Farias, gerente de outro bar e restaurante da Barra, que também não estava fazendo a exigência, explica que não começou a pedir o cartão de vacinação por falta de estrutura no local, que dificulta o controle de quem entra no bar, além de alegar que poderia perder alguns clientes, caso fizesse a exigência a todos.

“Assim, aberto, não dá. Se a prefeitura permitisse que a gente fechasse em torno das mesas, para poder colocar alguém recepcionando na porta, facilitaria, mas sem isso fica difícil, não consigo controlar quem chega e senta nas mesas. Se o garçom vai lá, depois que a pessoa chega, é capaz até de eu perder o cliente por causa disso, então não tem como exigir o comprovante de todo mundo assim”, explicou Antônio.

No Bar Bohemia, no Rio Vermelho, o comprovante de vacinação também não está sendo exigido. Segundo o gerente Alfio Nicosia, o problema está na falta de clareza do decreto que estabelece a ordem. Para ele, não há nenhuma informação de que os bares ao ar livre também tenham que cumprir a medida.

“Pra mim, o decreto não é claro. Eu ainda não entendi se é uma medida para os bares e restaurantes abertos, ou só para os estabelecimentos fechados. Estou entrando em contato com a prefeitura para saber, já mandei e-mail. Concordo com a medida, mas o decreto fala de tudo isso e não fala as circunstâncias do bar”, justificou Alfio.

De acordo com o decreto, a fiscalização do cumprimento das medidas ficará a cargo de cada município. A prefeitura de Salvador informou que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) segue com a fiscalização, mas ainda sem uma ação específica voltada ao decreto estadual publicado nessa terça-feira. A pasta aguarda a atualização do protocolo municipal.

Obedientes
Entre os bares que estão cumprindo o decreto, está o Devassa, no Rio Vermelho. Para fiscalizar se os clientes estão com o cartão de vacina, a dona do estabelecimento, Lais Rodriguez, fica na porta, recepcionando quem chega. “Eu mesma confiro e deixei essa entradinha aqui justamente para isso. Até agora eu não tive problemas, e acho que tem que ser assim mesmo se as pessoas não quiserem que tudo volte a fechar como antes”, diz.

Luís Adrian e João Marcos são enfermeiros, estavam no bar e contam que são clientes fiéis do local. Mesmo assim, já chegaram preparados com o aplicativo do Conecte SUS no celular. “Assim que chegamos ela perguntou se estávamos com o comprovante, mostramos o cartão com as três doses e entramos tranquilamente”, conta Luís Adrian.

O Boteco dos Mares também estava com uma funcionária na porta, recepcionando as pessoas para saber se estava com o comprovante em mãos. Segundo o gerente de atendimento, Sérgio Souza Machado, o dia seguiu tranquilo, apesar da resistência de um dos clientes. “Um turista chegou e disse que não tinha o cartão e que não achava necessário ter, já que ele estava vacinado. Além de não querer apresentar o cartão, foi grosseiro, mas a maioria tem aceitado tranquilamente.”

Outro bar e restaurante que estava cumprindo o decreto estadual foi o Bagacinho Boteco. Quem chegava ao local já era informado da necessidade de mostrar o comprovante, o que não foi nenhum problema para Juliana Costa, Danilo Vilas Boas e Vanessa Duarte. “Eu já estou andando com o cartão há algum tempo e também vi na rede social do bar que aqui estava exigindo, o que é ótimo, porque significa mais proteção para todo mundo. Ter o cartão não é nenhum sacrifício", comentou Danilo.

Publicado em Bahia

Pessoas que receberam imunização heteróloga contra a covid-19, ou seja, doses de marcas diferentes, têm relatado dificuldade para emitir o certificado de vacinação no ConecteSUS, aplicativo do Ministério da Saúde. Embora o protocolo federal preveja essa mistura de imunizantes, a pasta admite não fornecer o certificado para quem tomou doses de marcas distintas. O governo não explica o motivo da decisão.

Além de possibilitar viagens ao exterior, comprovar a vacinação tem se tornado rotina nas cidades brasileiras, que adotam diferentes modelos de passaporte sanitário. Ao menos 249 municípios criaram regras do tipo, recorrendo também ao certificado do ConecteSUS.

O documento teria de ser oferecido para quem recebeu AstraZeneca e Pfizer, já que a prática é recomendada por especialistas e está prevista em norma federal.

Mas não é isso que ocorre. Em nota, a pasta informou que o certificado do ConecteSUS é dado para quem concluiu o esquema vacinal com duas doses ou dose única. No entanto, completou que "para quem concluiu o esquema vacinal com doses de vacinas diferentes (intercambialidade das vacinas covid-19) não é permitido a emissão do certificado de vacinação" pelo aplicativo

"Recebi a vacina heteróloga no Rio. Ambas as doses já estão corretamente lançadas no ConecteSUS, mas só a carteira de vacinação é emitida. O certificado de vacinação, aquele que tem tradução para inglês e espanhol, não aparece disponível", explica a economista Katia Freitas, de 42 anos.

Ela foi vacinada com a 1.ª dose de AstraZeneca e a 2.ª da Pfizer Essa combinação tem sido adotada em várias regiões do País por diante do baixo estoque de AstraZeneca.

"Estou um pouco preocupada com isso, pois tenho viagem internacional marcada para os próximos meses e sem o certificado em inglês não sei como comprovar a vacinação no país de destino, que não aceita documentos em português", acrescenta Katia. Para tentar resolver, abriu um chamado no próprio app, mas não teve resposta.

O caso é similar ao da jornalista Marilia Fonseca, de 58 anos, que diz ter aberto reclamação na ouvidoria do SUS. Mais de dois meses após tomar a 2.ª dose da Pfizer no Rio, ainda não teve o problema resolvido.

"Não consigo emitir o certificado de vacinação no aplicativo, nem mesmo na página do ConecteSUS, simplesmente porque essa funcionalidade não está disponível para mim. Mesmo tendo as duas doses registradas", relata a jornalista, que está agora em Amsterdã.

"Só não tive problema por não portar certificado em inglês porque na véspera da viagem, dia 29, a França divulgou uma funcionalidade de emissão de passaporte da União Europeia", conta Marilia.

Apreensão
Em abril de 2020, a gestora ambiental Aline Duarte, de 44 anos, estava prestes a viajar para a França para comemorar os 20 anos de casamento, mas adiou os planos por causa da pandemia. A viagem foi reagendada para 20 de outubro deste ano. Agora, mesmo tendo recebido vacinação heteróloga, Aline e o marido enfrentam novo problema: comprovar que estão completamente vacinados.

As segundas doses do casal, da Pfizer, não constam no ConecteSUS - foram aplicadas em 15 de setembro. "Como a Astrazeneca estava em falta no Rio, eu sabia da possibilidade de só ter a Pfizer. Pesquisei bem para ver se haveria restrições no exterior, mas percebi que muitos países europeus estavam adotando a intercambialidade." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Publicado em Saúde