Já virou rotina para os motoristas em 2021: abrir o jornal e se deparar com a notícia do aumento no preço dos combustíveis. O último reajuste, oitavo deste ano, foi anunciado nessa segunda-feira (5), fazendo o preço da gasolina nas refinarias atingir R$ 2,69, e o do óleo diesel, R$ 2,81, refletindo crescimentos médios de R$ 0,16 (6,3%) e R$ 0,10 (3,7%) por litro, respectivamente.
O impacto já é sentido nos postos de Salvador, que chegam a cobrar R$ 6,09 no litro da gasolina comum e R$ 6,19 na aditivada. Neste mesmo período do ano passado, a média da gasolina em Salvador era de R$ 4,14, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O aumento de R$ 2 em um ano provocou mudanças no comportamento dos motoristas baianos. Encher o tanque virou artigo de luxo e já há quem prefira deixar o veículo em casa para usar meios de transporte alternativos e mais baratos.
O assessor de investimentos João Victor Moreira, 28, optou por assumir sozinho, no ano passado, os gastos de um carro que dividia com o pai. O veículo, que era “beberrão”, logo começou a pesar no orçamento do jovem, que viu ali uma oportunidade de transformar o prejuízo em lucro.
Valendo-se da alta no mercado de usados, ele conseguiu vender o veículo e aplicar o dinheiro em um investimento. João passou a andar apenas com aplicativos e quando viajava, alugava um carro. Somando a economia com combustível e todos os outros custos de um carro próprio, como impostos, manutenção e seguro, ele teve um impacto positivo de R$ 400 em sua conta mensalmente.
“No meu planejamento financeiro mensal, eu percebia que o carro representava boa parte de meu faturamento, principalmente porque ele bebia muito. Quando levava em consideração seguro, IPVA, estacionamento, manutenção, eu praticamente trabalhava para manter o carro. Vi que estava sendo um luxo injustificável. Então vendi e me comprometi a ficar 1 mês sem carro pra ver se eu me adaptava, e super me adaptei. Hoje minha receita mensal tem uma folga muito maior. Não fico tão preocupado com o carro depreciando e o capital da venda eu transformei em um ativo, uma vez que está me rendendo juros em aplicações financeiras”, detalha o investidor.
Quem depende lamenta
Enquanto motoristas procuram maneiras de suavizar o impacto no bolso, quem trabalha diretamente com os carros só vê o prejuízo aumentar. É o caso do taxista Sérgio Eduardo, que opta por usar a gasolina ao invés do GNV.
Posto na Barra, em Salvador (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
Em 2019, ele gastava em média R$ 1200 por mês com combustível. Em 2021, o valor já chega a R$ 2500, mesmo com uma demanda por corridas reduzida por conta da concorrência com os aplicativos. Sérgio ainda encontra outro problema, a falta de reajuste no taxímetro, congelado há 5 anos.
“Hoje numa corrida de R$ 10, R$ 6 vai para combustível, com R$ 4 de lucro, que no final fica 2 por causa dos outros custos do carro, como manutenção e impostos. Para a gente arrumar um dinheirinho tem que se matar de trabalhar. Esses aumentos estão deixando nossa profissão inviável. O preço está totalmente exagerado, sem controle”, revela o taxista, que já pensou diversas vezes em largar a profissão.
Por que a gasolina aumentou tanto
Desde 2019, a Petrobras passou a adotar no Brasil uma política de preços internacional. Ou seja: ela vende no país o combustível pelo mesmo preço praticado em todo o mundo. Desta forma, a gasolina passa a ter uma volatilidade maior, além de sofrer um impacto direto com o câmbio, visto que ela é vendida em dólar.
Nesta terça-feira (6), o valor do barril de petróleo WIT atingiu seu maior valor em 7 anos, cotado a US$ 76,98. Esta alta somada ao valor do dólar, que ultrapassa R$ 5, são as grandes causadoras do preço elevado nos combustíveis.
“Além disso tudo tem os custos do transporte do combustível e a margem de lucro dos postos e distribuidoras. Também tem o fator fiscal, visto que a Bahia paga um dos maiores ICMS para combustíveis do Brasil. E quem acaba pagando toda essa conta na gasolina, diesel e gás de cozinha, infelizmente, é o consumidor final”, detalha Edísio Freire, especialista em finanças e colunista do CORREIO.
Valor da gasolina na Bahia nos últimos meses
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) faz um balanço mensal com os preços dos combustíveis em postos da Bahia. No caso da gasolina comum, há dados até maio deste ano. Veja a variação desde março de 2020:
- Março de 2020: R$4,46
- Abril de 2020: R$4,06
- Maio de 2020: R$3,81
- Junho de 2020: R$3,96
- Julho de 2020: R$4,14
- Agosto: R$4,23
- Setembro: Não consta
- Outubro: R$4,35
- Novembro: R$4,40
- Dezembro de 2020: R$4,48
- Janeiro de 2021: R$4,62
- Fevereiro de 2021: R$4,95
- Março de 2021: 5,65
- Abril de 2021: 5,40
- Maio 2021: 5,76
Onde encontrar gasolina mais barata em Salvador *
- Posto Zeus, Acupe de Brotas: R$ 5,70
- Posto Narandiba, Narandiba: R$ 5,81
- Posto Alameda da Barra, Barra: R$ 5,81
- Posto do Cristo, Ondina: R$ 5,81
- Posto Pelicano, Cabula: R$ 5,83
- Posto Ponto Alto, Águas Claras: R$ 5,83
- Posto Sul América, Caminho de Areia: R$ 5,85
- Posto Trevo, Fazenda Grande do Retiro: R$ 5,85
- Posto Novo Horizonte, Paralela: R$ 5,85
- Posto São Rafael, São Marcos: R$ 5,85
*Lista feita com base no aplicativo "Preço da Hora", do Governo da Bahia. Os valores são referentes ao dia 6 de julho.
Dicas de como economizar combustível
O colunista do CORREIO Antônio Meira Jr., especialista em carros, separou algumas dicas para ajudar a economizar no combustível. Confira?
Aceleração: Controle a emoção e pise devagar no acelerador. Acelere de forma gradual, sem exigir muito do motor.
Freio: Não deixe para frear o veículo com força já em cima do sinal de trânsito.
Escolha direito: Antes de realizar a compra. Todos os veículos vêm com uma marca do Inmetro informando o consumo dele. Escolha o mais econômico.
Diminua o peso: Quanto mais pesado o carro, mais combustível ele gasta. Dê uma geral em seu veículo e tire da mala ítens não essenciais para a sua viagem.
Marchas: A troca de marcha faz muita diferença no consumo, por isso não estique as marchas sem necessidade. Um carro a 40 km/h não pode estar em 5ª marcha, ou chegar a 100 km/h em segunda marcha.
Abastecimento: Só abasteça em postos confiáveis e conhecidos. Os carros rendem a mesma coisa que com a gasolina comum e a aditivada - a diferença está apenas na limpeza que a segunda faz no motor.
Ar-condicionado: Muito se fala que o ar-condicionado aumenta o consumo. No passado realmente isso acontecia, mas os compressores modernos já não exigem tanto esforço do motor. As janelas fechadas melhoram a aerodinâmica e, consequentemente, o consumo cai.
Revisões: Faça revisões e manutenções preventivas e verifique, em especial, o estado das velas e o funcionamento da injeção eletrônica. O alinhamento das rodas é fundamental para a aerodinâmica do carro. Automóvel alinhado economiza combustível.
Pneus: Pneus murchos ou com a calibragem errada influenciam diretamente no consumo. A calibragem deve ser feita no máximo a cada 15 dias, seguindo as orientações das montadoras para pressão. Os pneus podem ser responsáveis por até 20% do consumo de combustível.