Supermercados usam inteligência artificial para fidelizar clientes
Menos média, mais personalização. É esse o lema que move os negócios a aderirem ao uso das Inteligências Artificiais (IAs) e deixarem de lado a criação de modelos de investimentos baseados em projeções generalistas. A bola da vez, agora, é o foco na individualidade do cliente e consumidor. Por dentro da tendência e pensando em se adequar a essa nova realidade, os supermercados baianos já estão analisando a possibilidade de aplicar as IAs com o intuito de se modernizar e impulsionar suas vendas. Dois sistemas, em específico, já estão na mira de grandes redes de vendas de mercadorias na Bahia.
O primeiro sistema é o CRM, sigla em inglês para Customer Relationship Management, que em tradução livre significa Gestão de Relacionamento com o Cliente. Por meio desse sistema, o cliente cadastrado em um clube de fidelidade do supermercado de sua escolha tem todas as compras feitas com o CPF registradas em um histórico de consumo. Após essa etapa, as IAs fazem a análise do perfil dessas compras com o intuito de gerar ofertas específicas para os clientes.
"Isso faz com que o cliente se fidelize, compre mais e volte sempre na loja. Ao mesmo tempo, os supermercados começam a ofertar produtos e serviços direcionados àquele perfil do consumidor", destaca Mauro Rocha, superintendente da Associação Baiana de Supermercados (Abase).
Mauro aponta outro sistema no radar dos supermercados baianos que faz uso da Inteligência Artificial com base, desta vez, na análise de imagens de câmeras distribuídas no espaço físico das lojas, operando como indicativo de zonas de calor, como ocorre na análise dos jogos de futebol. "No caso dos supermercados, existem as câmeras que percebem a movimentação dos clientes e mostram onde, exatamente, eles mais costumam estar dentro do mercado. Se eles indicam uma zona ligada, por exemplo, ao açougue, então é uma oportunidade de promover melhor as vendas naquela área", afirma o superintendente da Abase.
Segundo ele, na Bahia, essas tecnologias auxiliadas pelas IAs estão sendo aplicadas ou pelo menos avaliadas pelas maiores redes de supermercado presentes no estado, como Hiperideal, Rede Mix e Atakarejo. Diretor comercial e sócio-fundador da Rede Mix, João Cláudio Andrade Nunes afirma que tem analisado de perto a implementação dos dois sistemas nas suas lojas.
"Nós ainda não temos os sistemas, mas sabemos da importância extrema para a relação com o consumidor. Nós temos um formato de venda de delivery, por onde temos informação dos clientes, mas ainda não temos essa tecnologia para mandar oferta personalizada para cada um deles. Estamos em processo de busca de soluções para isso", assegura João Cláudio.
Para ele, o varejo do futuro tem as IAs como elementos indispensáveis. "O varejo vai ser composto pela utilização de inteligências artificiais. Cada cliente é um consumo. O varejo do passado, até então, usava tudo na média. As decisões eram tomadas na média. Hoje em dia, com as Inteligências Artificiais, o varejo vai ser mais certeiro e muito mais preciso nas tomadas de decisões. Esse é o caminho para o varejo. Quem não enxergar essas necessidades vai acabar ficando para trás", projeta.
As discussões e análises sobre a presença das IAs no modelo de negócios do supermercado devem ganhar ainda mais forma entre terça-feira (11) e quinta-feira (13), quando acontece, no Centro de Convenções de Salvador, a Super Bahia, maior feira de varejo de alimentos do Norte-Nordeste. Voltada para fornecedores, distribuidores e empresários do setor, a 12° edição do evento tem como objetivo debater sobre o tema "Inovação Transformando o Varejo", com a pretensão de abordar de que maneira as novas tecnologias podem ser aplicadas aos pequenos empreendimentos.
O CORREIO tentou contatar os supermercados Atakarejo e o Hiperideal, mas não obteve sucesso. O Assaí Atacadista e Carrefour Brasil também foram contatados, mas alegaram que não conseguiriam responder até o prazo estipulado para fechamento desta matéria.
Crescimento do delivery
O uso da tecnologia nos supermercados durante a pandemia foi intensificado pelo aumento da demanda online. Antes do período pandêmico, o serviço de delivery – que compreende o e-commerce – correspondia a até 3% do faturamento anual dos supermercados. Durante o tempo de isolamento social, essa porcentagem chegou ao marco de 10%. Agora, no período pós-pandemia, ao contrário do esperado, esse valor praticamente não decaiu.
"Eu diria que a pandemia fez uma revolução no varejo de alimentos no que se refere à venda online. Hoje, na Bahia, o delivery se mantém entre 8% e 9%", revela Mauro Rocha.
Para sustentar a demanda do e-commerce, os mercados têm investido mais em tecnologia de ponta. De acordo com a Abase, não há dados acerca da receita investida, mas é possível apontar que há muito sendo empregado pelas difíceis exigências das demandas online.
"Uma tecnologia dessa não é barata. Para implantar a venda online no supermercado é necessário que haja um controle exato do estoque e precificação correta. Isso não é fácil, mas é indispensável, porque no momento que você coloca, consegue fidelizar o seu cliente", ressalta.
Cenário positivo
Conforme dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o setor supermercadista alcançou o valor de R$ 695,7 bilhões em faturamento, em 2022. A Abase aponta que cerca de 10% desse total seria a parte relativa à contribuição da Bahia para um cenário que o superintendente Mauro Rocha classifica como positivo.
"O cenário está muito positivo. As lojas estão, em sua maioria, fazendo investimento em reformas para atender melhor o consumidor. O varejista da Bahia é muito otimista. Estamos com expectativa de ter um grande ano", afirma.
Para 2023, a projeção é de uma participação semelhante ao ano de 2022, com possibilidade de aumento de 2% na participação no faturamento nacional, chegando a 12%, o que corresponderia a um faturamento de R$ 75 a R$ 80 bilhões do estado, segundo estima Mauro Rocha.
Na maré contrária da parte majoritária do setor varejista, ele reflete que a pandemia só impulsionou a atual situação dos supermercados. "Nós atendemos a população, não tivemos problema de abastecimento e, obviamente, houve um aumento de demanda porque a população ficava em casa e precisa fazer as compras, em sua maioria, online. Houve um aumento, sem dúvidas nenhuma, de vendas", frisa.
Para Mauro Rocha, o único desafio que o setor precisa enfrentar é se adaptar às novas tecnologias. "É [preciso] estar se aliando a essas novas tecnologias, modernizar as lojas para atender cada dia melhor o consumidor, porque a competição está cada dia maior. Quem estiver antenado com essas novas tendências e perfis de consumo do cliente, vai fidelizar o consumidor e ter um resultado melhor", finaliza.