13º salário deve injetar R$ 10,5 bilhões na economia da Bahia
Paloma Rodrigues, 27, é uma daquelas pessoas que adora reunir a galera e que sofreu com os momentos de isolamento social. Não por acaso, vai organizar uma festança de aniversário neste ano e decidiu usar o dinheiro que vai receber do 13º salário para arcar com os custos. Só na Bahia, cerca de 4,7 milhões de trabalhadores formais, beneficiários da Previdência e aposentados terão acesso ao benefício, o que significa que R$ 10,5 bilhões devem ser injetados na economia do estado. Nacionalmente, o valor chega a quase R$ 250 bi.
A primeira parcela do benefício terá de ser paga pelas empresas até o dia 30 de novembro e a segunda até 20 de dezembro. Em média, cada baiano beneficiado deve receber R$ 2.066,48 de 13º salário, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos na Bahia (Dieese). A média calculada é inferior à nacional, de R$ 2.672, o que aponta para o abismo social entre regiões do país.
“O Nordeste e o Norte têm uma renda mensal mais baixa do que o Sudeste e o Sul e isso faz toda diferença na hora de tirar a média. Além disso, a maioria dos trabalhadores formais que recebe entre um e dois salários também está concentrada nas regiões que possuem média inferior”, explica o economista membro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA) Edval Landulfo. O maior valor médio para o 13º deve ser pago no Distrito Federal (R$ 4,7 mil), enquanto o menor será no Maranhão (R$ 1,8 mil).
Em relação ao valor médio recebido por pessoa na Bahia, houve um aumento de 6,5% em comparação com o ano passado, quando foi de R$ 1.939. Também houve um acréscimo de 5,3% no número de trabalhadores beneficiados.
“A gente vê um crescimento no valor recebido, mas praticamente não há aumento se levarmos em consideração a inflação”, explica a supervisora técnica do Dieese-BA Ana Georgina Dias.
Entre ingredientes para feijoada, karaokê, bolo e doces, o custo da festa da profissional de Comunicação Paloma Rodrigues deve chegar aos R$ 5 mil. Apesar de o Dieese não realizar sondagem sobre a destinação do 13º salário, uma pesquisa do ano passado feita pela Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL) apontou que 33% dos trabalhadores gastaram com presentes de Natal e 24% com festas e viagens.
“Este ano queria muito estar com meus amigos [no aniversário], amo festa, dezembro e reunir a galera. Fazer aniversário em dezembro é ótimo com o 13º”, diz em tom de brincadeira.
O número de endividados na Bahia neste ano já ultrapassou os 4,3 milhões de pessoas. Por isso, a supervisora técnica do Dieese-BA acredita que muitos baianos devem utilizar o valor recebido para quitar os débitos e garantir crédito no mercado.
“A maioria das pessoas deve usar o 13º para pagar dívidas e até se endividar de novo. São poucos os que vão conseguir poupar neste momento de inflação que vivemos”, afirma Ana Georgina. Até sábado (12), a Serasa realiza o Feirão Limpa Nome na Praça Irmã Dulce, em Salvador, com ofertas especiais. As negociações também podem ser feitas por canais digitais.
O que fazer com o seu 13º salário
Quando o ano começa, Ana de Oliveira, 33, formada em Serviço Social, já sabe para onde vai o que receber do 13º salário: matrícula do colégio da filha e farda escolar. Neste ano, no entanto, ela não sabe se o valor vai ser suficiente para os planos, já que a mensalidade aumentou R$ 330 porque a filha vai entrar no ensino médio. “O salário já está comprometido com a mensalidade de dezembro, mas vai ajudar a pagar a matrícula de janeiro com desconto”, afirma.
Edval Landulfo, que também é educador financeiro, explica que se planejar é o melhor caminho para definir os gastos. Quem está com dívidas, deve tentar quitá-las: “Como muitas famílias vão precisar de crédito para comprar um bem essencial e o 13º não seria capaz de suprir essa demanda, o ideal é utilizar o dinheiro para quitar totalmente as dívidas e sempre negociar para não pagar juros”.
Já para aquelas pessoas que não possuem obrigações, o educador diz que o dinheiro deve ser usado para projetos pessoais a longo prazo. Esse é o caso de Yasmin Mesquita, 24, que vai aproveitar o dinheiro para completar o que falta para pagar a autoescola e tirar a carteira de motorista.
“O 13º vai fechar o valor que eu preciso para pagar todos os trâmites”, revela a auxiliar de atendimento.
13º corresponde a 2,7% do PIB na Bahia
O 13º salário foi uma conquista dos trabalhadores brasileiros que entrou em vigor há exatos 60 anos. Sua importância reflete no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, soma de todos os bens e serviços finais, e corresponde a 2,7% dele. Na Bahia, os empregados do mercado formal representam 52,1% do total de pessoas que receberão os benefícios.
Já aposentados e pensionistas do INSS equivalem a 46,5% e o emprego doméstico com carteira assinada responde por 1,4% no estado. Todo empregado que trabalhou formalmente por mais de 15 dias e que não tenha sido demitido por justa causa tem direito ao 13º proporcional ao tempo que desempenhou a função.
Para calcular o valor é preciso dividir o salário bruto por 12 e multiplicar pelos meses trabalhados no ano. Também devem entrar na conta verbas como horas extras e adicional de insalubridade.
Quem tem direito ao 13º?
Todo empregado que exerceu alguma função ao longo do ano com carteira assinada. Aposentados, pensionistas e pessoas que receberam auxílio-doença, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão têm direito a gratificação. O pagamento é realizado conforme determina a Lei 4.090/1962.
Quando o 13º salário será pago?
A primeira parcela do benefício terá de ser paga pelas empresas até o dia 30 de novembro e a segunda até 20 de dezembro.O valor pode ser depositado em uma ou duas parcelas.
Como o valor é calculado?
O salário bruto é dividido por 12 e multiplicado pelos meses trabalhados no ano. No cálculo da remuneração, devem entrar todas as verbas de natureza salarial, como por exemplo: horas extras, adicional de insalubridade, periculosidade, etc.
Existem descontos no 13º?
Sim. O Imposto de Renda e a contribuição ao INSS incidem sobre o 13º salário. Os descontos ocorrem na segunda parcela sobre o valor integral do 13º salário. Já o FGTS é pago tanto na primeira como na segunda parcela.