Desenrola Brasil: aplicativo reunirá dívidas do consumidor
O secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, explicou que o Desenrola Brasil terá um aplicativo para que a pessoa consulte suas dívidas e verifique os descontos oferecidos pelas instituições credoras. Mello disse ainda que o pagamento desse débito poderá ser feito via Pix, à vista, ou parcelado com juros máximos de 1,99% ao mês.
O secretário explicou que o aplicativo, com base no sistema gov.br, vai congregar dados de diferentes bureaus de crédito, mostrando à pessoa qual é o valor total das dívidas que tem e o desconto oferecido pelos credores, de acordo com publicação do Estadão.
No caso das dívidas de até R$ 100, ele lembrou que as instituições financeiras que aderiram ao Desenrola precisam tirar o nome desses devedores de listas de negativados, que apontam quem são as pessoas com dívidas sem pagamento. Com isso, eles deixarão de ter restrições ao crédito, mas ainda negociarão o pagamento dos valores devidos.
O Ministério da Fazenda publicou portaria autorizando o início das operações do Desenrola para esta segunda-feira (17). Na primeira etapa, o programa está voltado para a resolução de dívidas de até R$ 100 e renegociação dos débitos para pessoas com renda mensal de até R$ 20 mil, que estão na faixa 2 do programa.
O Ministério da Fazenda estima que a remoção de devedores da lista de negativados vai beneficiar 1,5 milhão de pessoas, enquanto a renegociação de dívidas atingirá mais de 30 milhões de brasileiros.
Bahia tem mais de 4 milhões de endividados; veja como evitar ou se livrar dívidas
O aumento de 65% no percentual de empréstimos na Bahia já reflete também no número de endividados no estado. Segundo o indicador Serasa de inadimplência do consumidor na Bahia, mais de 4,1 milhões de baianos estavam com dívida em aberto em maio deste ano. No mesmo período de 2021, eram 3,9 milhões, o que representa aumento de 6,5% no número de consumidores inadimplentes. No mesmo período deste ano, o valor das dívidas negativadas superou a faixa de R$ 13 bilhões, alcançando o maior valor em quatro anos. As restrições para quem tem o nome de Serasa são o acesso ao crédito, por conta da redução do score de crédito do consumidor.
A pesquisa é complementada por afirmação da última pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor divulgada pela Fecomércio-BA, cujo levantamento mostra aumento no número de pessoas que não conseguem pagar o crédito que tomaram emprestado. Em junho, a taxa de famílias com contas em atraso chegou a 38,2%, quinta alta consecutiva e patamar mais elevado desde 2013. Atualmente, são 356,5 mil famílias inadimplentes, um aumento de 117 mil em relação ao mesmo período do ano passado.
A professora municipal de Salvador, Sarajane Bispo, 52, precisou contrair alguns empréstimos entre 2019 e 2020 para cuidar da saúde. Com esclerose múltipla, foi necessário pagar consultas caras, remédios, e até tentar um atendimento melhor em São Paulo. Passagens e hospedagens se somaram aos gastos e, no final, a servidora havia contraído cerca de R$ 15 mil no empréstimo consignado.
“Eu tenho renda pelo INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], pelo governo do estado e pela prefeitura de Salvador, então o empréstimo foi distribuído em vários bancos: uma parte no Banco do Brasil, outra no Banco Bradesco, e outra no Banco Pan. Algumas já quitei, mas outras ainda tem parcelas, tem o valor real para quitar. Não foi de vez um valor só, eu pagava e financiava. A coisa foi muito grotesca, hoje eu sei disso, mas na época eu achava que era 'ok'”, conta Sarajane.
A professora conta que chegou um período que começou a perder o controle das dívidas. “De 2019 para 2020, eu refinanciava empréstimo, uma bola de neve. Tem mais ou menos um ano que estou tentando quitar pelo menos esses empréstimos e agora está mais difícil. As pessoas devem respirar e contar até 10 antes de tomar um empréstimo, você acaba pegando um empréstimo e paga outros três”, diz Sarajane, que tem feito cursos de organização de finanças para lidar melhor com o dinheiro.
Em 2019, com a pandemia e o medo da recessão, os governos diminuíram os juros, chegando a oferecer taxas de 2% ano ano. O efeito disso, segundo o consultor da Fecomércio, foi um estímulo ao consumo e uma maior facilidade na concessão de empréstimos. No entanto, a inflação continuou a aumentar e, com ela, os juros das parcelas do empréstimo anteriormente contraído.
“Com esse estímulo a subida de juros ficou muito rápida, deixando esse crédito mais caro para pagar juros, e veio a inflação muito forte. Então as famílias não conseguiram equilibrar as contas e foi virando uma bola de neve”, afirma.
Têm dívidas? Saiba o que fazer:
*Não se desespere - o desespero pode atrair ainda mais dívidas e dificulta a reorganização financeira;
*Faça orçamento doméstico - liste os gastos da família com alimentação energia e tudo o que exige dinheiro. Depois identifique elementos que podem ser cortados ou substituídos por algo mais barato;
*Transferência - Use todo o dinheiro que sobrar a partir dos cortes e substituições para pagar as dívidas;
*Valor integral – É importante lembrar que só deve ser negociado o pagamento integral da dívida. Se o orçamento já está 100% comprometido, não tem como negociar parcelas, pois não vai ter como honrar;
*Renda Extra - Se o salário já estiver 100% comprometido, é necessário buscar alguma atividade que gere renda extra
Fonte: Edval Landulfo, economista, conselheiro do Corecon-Bahia e especialista em educação financeira.
Cuidados que evitam endividamento:
Recorrer a empréstimo só em caso de urgência - nunca é o momento de pegar empréstimo ou fazer financiamento, a não ser que seja por uma situação de emergência e a pessoa não tenha de onde tirar recursos;
Calcule os juros e analise a melhor opção - é preciso fazer todos os cálculos das prestações. Por exemplo: se pegou R$ 1.000 e vai ter entre 24% a 50% de juros sobre esse valor. É necessário calcular o valor inicial e final para analisar se vale a pena financiar ou tomar o empréstimo;
Use o crédito conforme sua renda - o cartão de crédito não é extensão da renda. De R$ 10 em R$ 10 vem aquela fatura bomba, que você nunca sabe no final quanto vai pagar. Para quem já tem planejamento, pode utilizar o cartão de crédito principalmente onde não vai ganhar desconto, mas para isso a pessoa precisa de educação financeira, para saber o preço máximo a pagar na parcela;
Parcelamento de compras - no mercado, os produtos já têm juros, então nessa situação é possível comprar no prazo no momento de inflação prejudicial à compra familiar. O ideal é pagar tudo no crédito e dividir no máximo de parcelas possíveis, porque os juros já estão calculados;
Renda alternativa - o ideal é abrir mão do lazer um pouco mais e buscar uma renda alternativa complementar, oferecer serviços naquilo em que se é bom, por exemplo, e utilizar essa renda extra para pagar prestações ou se alimentar melhor. Para pessoas que não têm possibilidade de fazer trabalhos extras, a solução é não buscar novos empréstimos, mas pedir ajuda aos amigos e à família e explicar que não tem condição a curto prazo para honrar a dívida. Além de fazer cursos para mudar de cargo e ter salário melhor através de conhecimento e aperfeiçoamento técnico;
Atenção ao consignado - no caso do servidor público ou pensionista, há uma facilidade de conseguir empréstimo. Mas os servidores devem observar que apesar de ser um crédito com valor muito mais em conta que qualquer outro, acaba sendo um valor ainda alto em relação a outros países do mundo.