Safra de grãos da Bahia deve bater recorde em 2022
Pelo segundo ano consecutivo, os produtores de grãos da Bahia vão ter motivos para comemorar. Depois de atingirem o recorde de 10,5 milhões de toneladas em 2021, os agricultores do estado devem colher 864,6 mil toneladas a mais em 2022, chegando a 11,4 milhões de toneladas produzidas. É isso que aponta o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) divulgado na quarta-feira (8) pelo IBGE. Um dado que faz a Bahia seguir a Bahia como a sétima maior produção de grãos do país, colhendo 4,3% do total nacional.
Os números do LSPA indicam um crescimento de 8,2% na produção de grãos em terras baianas. Ascensão puxada pelo milho, com 90,8 mil toneladas colhidas a mais (+4,3%), e pela soja, com mais 130,7 mil toneladas (+1,8%). Produtor de milho de Jaguaquara, no sul do estado, Bernardino Santos afirma que a ampliação do recorde está ligada, principalmente, às condições climáticas favoráveis de 2022.
"O clima favorável fez os produtores terem maior produtividade por hectare. As chuvas apareceram e favoreceram a produção. [...] Quando o período é de pouca chuva, fazemos só um plantio por ano. No máximo, dois. Como 2022 está sendo bom de chuva, eu mesmo estou indo pro terceiro", conta o produtor, que até abriu novas áreas para plantio nas suas terras.
No caso do milho, de acordo com o LSPA, houve aumento no rendimento médio, que passou de 4.773 kg/hectare para 4.979 kg/hectare. Com isso, a previsão é de uma safra 15,3% superior à do ano passado. A Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri) foi procurada para falar sobre esse crescimento, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.
O que explica a alta
O sucesso na produção do milho, da soja e de outros grãos em 2022 não se limita ao fator climático, segundo Luiz Stahlke, gerente de infraestrutura e agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Aumento da demanda e a produção pecuária influenciam na alta. "Temos maior demanda por grãos, principalmente soja e milho, porque fazem parte da ração animal. Frango, boi, porco e tudo que se consome de proteína precisa dessas fontes e, por isso, existe esse crescimento de produção. [...] Além disso, a produtividade tem aumentado pelo clima e os investimentos do produtor no solo e no controle de pragas e doenças", destaca Stahlke.
Produtor de grãos do oeste da Bahia, Paulo Schmidt detalha os investimentos citados pelo gerente da Aiba. De acordo com ele, o aumento consecutivo da produção por aqui é resultado de um processo de investimento. "O produtor baiano vem investindo pesado na produção tanto na parte de tecnologia como nos tratos culturais. Também vem melhorando toda a parte de treinamento de pessoas e isso tudo dá reflexo na produção. [...] O clima vem nos ajudando nos últimos dois anos, a lucratividade vem muito boa, porém os custos de produção estão muito altos", cita Schmidt, alertando que isso pode prejudicar na próxima safra.
Nas primeiras safras do ano, no entanto, esse impacto ainda não apareceu. A Aiba destaca ainda que a situação da produção de grãos até então tem feito bem para a economia do estado e para a geração de emprego. "A gente tem um aumento grande no valor bruto da produção. As culturas da soja, do milho e algodão representaram R$ 28,5 bilhões de valor bruto da produção. Claro que tem o desconto dos custos de produção, mas é o que gira na Bahia. [...] Aumenta também diretamente no emprego e também de forma indireta em prestação de serviço e comércios que dependem da agricultura", pontua Stahlke, afirmando que a Aiba ainda não tem números dessa geração de emprego.
Impacto do combustível
O impacto que não chegou nas primeiras safras do ano deve dar as caras daqui para frente. Os produtores de milho já esperam custos muito maiores para o segundo semestre, segundo Bernardino Santos. "No primeiro semestre, tivemos um lucro 22% maior do que no ano passado. Nós vamos sofrer essa alta do diesel e dos fertilizantes agora no segundo semestre porque parte dos insumos compramos no fim do ano passado. [...] Para o segundo semestre, vamos comprar e vai chegar a grande diferença dos preços de insumos", relata ele, explicando que os insumos são adquiridos sempre seis meses antes de cada safra.
Para Paulo Schmidt, o aumento nos custos é inevitável. Ele fala que o maquinário dobrou de preço e cita insumos que vão influenciar nos custos produtivos. "A gente acredita que vai chegar uma hora que vai precisar equalizar isso tudo. Esse aumento no preço dos produtos não está refletindo em um lucro maior para o produtor porque também há um maior custo. Combustíveis, fungicidas, pesticidas e, principalmente, o fertilizante estão com os preços em alta", afirma Schmidt, ressaltando que a alta é mundial.
A crescente no preço das próximas safras não tem a ver com a margem de lucro dos produtores. Luiz Stahlke faz questão de ressaltar que, apesar de preços maiores, agricultores vão lidar com um lucro bem inferior ao atual. "Todo esse reflexo dos aumentos em insumos é para a safra do segundo semestre, já que as aquisições estão sendo feitas agora. Então, isso vai ser parte dos custos e a margem de lucro vai ser muito menor para o produtor", fala ele, que, apesar do encarecimento, descarta a possibilidade de falta de diesel para os próximos plantios.
Algodão tem queda
O impacto da alta dos insumos será mais forte para os produtores de algodão. Isso porque, em meio a alta dos outros grãos no primeiro semestre, a produção do algodão herbáceo caiu de 1,379 milhão de toneladas para 1.361 milhão.
Para a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), o excesso de chuva durante plantio e a falta nos meses de fevereiro, março e abril impactou na expectativa de produtividade e produção. A associação espera uma redução em torno de 10%, com produtividade variando entre 280 e 300 arrobas de algodão por hectare, contra 311 arrobas estimadas anteriormente,
Porém, esta safra ainda dará lucros aos produtores pela mesma razão dos outros grãos: os insumos foram adquiridos quando os preços eram menores. Presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, fala que os insumos foram adquiridos em patamares de preço anteriores à guerra entre Rússia e Ucrânia, e o algodão foi comercializado em valores superiores a US$0,80 por libra-peso, sendo que cerca de 70% da safra 2021/2022 já foi vendida.
Para a segunda parte do anos, contudo, a situação é mais preocupante. “Os preços de fertilizantes chegaram a triplicar. Ainda assim, boa parte das aquisições foi feita em valores anteriores à guerra e acreditamos que mais da metade dos produtos demandados já estão nas propriedades”, afirma Bergamaschi.