Os arqueólogos Jeanne Almeida Dias e Railson Cotias da Silva iniciam, nesta terça-feira (13), escavações para investigar o primeiro cemitério de Salvador, localizado no Campo da Pólvora. Jeanne, uma das líderes da escavação, destaca a importância da investigação por se tratar de um sepulcro de escravizados que passaram por um “apagamento histórico”. A data coincide com publicação da Lei Áurea, legislação que extinguiu formalmente a escravidão no Brasil.
“Houve um apagamento histórico dentro do processo de produção de narrativas, principalmente dessas populações. Não temos informações sobre seus ascendentes mais distantes, principalmente algum que tenha alguma relação com os grupos que vieram de África, relação direta com esses grupos. Então, quando você traz essa discussão, quando você traz materialidade, essa materialidade, você está diretamente contribuindo a uma escrita das populações, uma escrita que foi apagada, inclusive, dessas populações”, afirmou a arqueóloga.
Ainda segundo a pesquisadora, esta etapa servirá apenas para a coleta de dados. A eventual remoção de possíveis ossos que forem encontrados – usados para análises mais profundas – só poderá ocorrer após debates com o Ministério Público, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e outros órgãos de proteção do patrimônio, além da Santa Casa de Misericórdia, responsável pelo Conjunto da Pupileira.
Silvana Olivieri, arquiteta urbanista e doutoranda em Urbanismo pela UFBA, responsável pelo projeto de pesquisa histórica documental, ressalta que a escavação pode trazer descobertas “grandiosas” sobre o passado e aponta para um possível aprendizado com o histórico de erros, incentivando as pessoas a “agirem diferente daqui para frente”.