O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, foi interrogado nesta terça-feira (10) pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante o depoimento, Torres negou que o Ministério da Justiça tivesse qualquer evidência técnica de fraudes nas urnas eletrônicas após as eleições de 2022 e atribuiu os ataques de 8 de janeiro de 2023 a uma “falha grave no protocolo de segurança”.
Questionado pelo ministro Alexandre de Moraes sobre alegações de fraude no sistema eleitoral, Torres afirmou que o Ministério da Justiça não possuía estrutura técnica para analisar as urnas, e que, na live que participou a convite do então presidente Jair Bolsonaro, leu apenas “destaques” feitos por sua equipe, sem embasamento concreto.
“No âmbito do Ministério da Justiça propriamente dito, sem ser através da Polícia Federal, não temos setor, nem área nenhuma que trabalhe com essa questão de urnas eletrônicas […]. Tecnicamente falando, não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim”, declarou.
O ex-ministro reconheceu que, em uma reunião ministerial, mencionou “indícios de hackeamento”, mas esclareceu que se referia a propostas de melhorias no sistema, e não a provas de irregularidades. Moraes rebateu: “Indício é um termo técnico para início de provas. O senhor tinha algum indício?” Torres respondeu: “Exatamente, eu, ministro, não tinha”.
Torres também citou dificuldades em sua defesa devido à perda de um celular nos Estados Unidos, onde estava com a família quando foi preso em janeiro de 2023, além disso, negou que tenha extraviado o aparelho visando impedir que investigadores da Polícia Federal acessassem os dados contidos lá. “Ali tinha muita coisa que me ajudaria, as mensagens que mandei desesperado para o meu adjunto”, disse, alegando que o episódio o deixou “transtornado”.
Como secretário de Segurança do Distrito Federal na época dos ataques às sedes dos Três Poderes, Torres negou omissão e atribuiu o ocorrido a uma falha operacional: “Houve uma falha muito grave no cumprimento do protocolo […]. Do jeito que eu deixei o DF, era impensável que acontecesse o que aconteceu”.
Ele relatou que ficou “desesperado” ao ver as imagens e que ligou para autoridades locais, incluindo o comandante da PM e o governador, questionando as razões da falha.
Ao ser questionado acerca da “minuta do golpe” Torres afirmou que a apreensão desse documento durante uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal em sua casa foi uma “surpresa”.
“Eu nunca tratei isso com ninguém, isso veio até o meu gabinete do Ministério da Justiça, organizado pela minha assessoria, isso veio num envelope dentro, foi parar na minha casa, mas eu nunca discuti esse assunto, eu nunca trouxe isso à tona, isso foi uma fatalidade que aconteceu. Era para ter sido destruída há muito tempo, eu nunca trabalhei isso. O documento era muito mal escrito, cheio de erros de português, de concordâncias, até o nome do tribunal que estava escrito lá estava escrito errado. Então não é da minha lavra, não sei quem fez, não sei quem mandou fazer e nunca discuti esse tipo de assunto”, explicou.