Fiscalização flagra festa com 800 pessoas aglomeradas e sem máscaras em Feira
Cerca de 800 pessoas se divertiam, aglomeradas em sem máscaras, em uma festa que era realizada em uma chácara, na cidade de Feira de Santana, quando foram flagradas durante uma fiscalização. O evento, que acontecia em uma chácara particular na avenida Noide Cerqueira foi interrompido e as pessoas obrigadas a deixarem o local.
Em nota, a Prefeitura de Feira informou que vai identificar e responsabilizar os autores que promoveram uma festa clandestina realizada no último sábado, 10, descumprindo as determinações legais sanitárias estabelecidas pelo poder público no enfrentamento ao coronavírus.
"As equipes da FPI (Fiscalização Preventiva Integrada) e da Polícia Militar encontraram, pelo menos, 800 pessoas, sem máscaras e aglomeradas, em uma chácara particular na avenida Noide Cerqueira", informou a prefeitura.
O superintendente do Procon de Feira de Santana, Maurício Carvalho, que também é integrante da FPI, informou que quando as equipes chegaram ao local todos organizadores evadiram da chácara.
O superintendente afirma que serão feitas mobilizações para identificar os autores e sancionar as medidas punitivas, tanto para o proprietário da área quanto para quem promoveu irregularmente o evento.
“A situação configura crime de desobediência e vamos punir com todas as medidas legais, explica. Ainda de acordo com Maurício Carvalho, a evacuação ordenada durou em torno de uma hora.
Outras fiscalizações ocorreram no final de semana, com fechamento de outros estabelecimentos, principalmente na praça de alimentação da avenida Getúlio Vargas. Os comerciantes descumpriam o horário de funcionamento do decreto municipal.
Feira registra piores números da pandemia e tem recorde de mortes em 24h
O auxiliar administrativo Matheus Oliveira, 28 anos, confessa que relaxou. Seguiu a pandemia à risca por mais de um ano até ver pais e avós vacinados contra a doença. Depois disso, se sentiu mais à vontade para ousar: uma festinha aqui, uma viagem acolá, visitas mais frequentes à sua casa e à casa alheia. Até que na segunda semana de junho vieram os sintomas: paladar e olfato ausentes, um pouco de febre e cansaço que logo evoluiu para dificuldades de respirar. Precisou ir para o hospital.
Matheus ficou internado por 12 dias até que recebeu alta médica na última segunda-feira (28), quando voltou pra casa e descobriu que seus pais e a avó mais velha, dona Juçara, 82, também tiveram a doença. Todos assintomáticos. Matheus é morador do bairro de Muchila, em Feira de Santana, que quebrou recordes em junho no número de casos ativos, novos casos em 24h, mortes em 24h e número de casos num mesmo mês.
Sobrevivente, Matheus agradece por ter escapado de estatísticas como a do dia em que teve alta, quando 14 pessoas morreram no município. Foi o maior número desde o início da pandemia, que teve o primeiro caso do estado registrado justamente em Feira de Santana.
Segundo o boletim epidemiológico da cidade, havia 7.479 pessoas contaminadas pela covid-19 - maior número até agora. Junho também é o mês com o maior número de mortes (124 no total) e o mês com o maior número de casos, 5.696.
"Quando vi que meus pais estavam vacinados, minhas avó também, me tirou um peso das costas. No começo eu tava muito estressado, alucinado mesmo com medo deles terem a doença e, quando vi que estavam com as duas doses da vacina no braço, aí confesso que relaxei", diz Matheus, que ainda se recupera da doença.
Secretário de saúde local, Marcelo Britto defende que somente a aceleração da vacinação pode dar um remédio verdadeiro contra a pandemia. "O que temos que fazer é aumentar a vacinação. Enquanto não aumentarmos a vacinação, não vamos conseguir vencer de forma definitiva a covid. Até porque depois de um ano e meio as pessoas começaram a ficar estressadas e cansadas de ficarem presas dentro de casa e começam a se soltar um pouco, principalmente na faixa etária mais jovem", afirmou.
Sobre os números de junho, o secretário afirmou que é preciso levar em consideração que Feira de Santana tem a maior população do interior do estado e tem o maior entroncamento rodoviário do Nordeste, com grande circulação de pessoas das mais diversas regiões diariamente.
Segundo o secretário, é preciso considerar que, apesar dos números incômodos, Feira de Santana tem um coeficiente de incidência de aproximadamente 8 mil infectados por milhão de habitantes. Um número menor que outros pólos do interior e região metropolitana de Salvador como Lauro de Freita (11 mil/milhão), Itabuna (15,3 mil infectados/milhão), Ilhéus (12,8 mil infectados/milhão) e Vitória da Conquista (9,5 mil infectados/milhão).
Marcelo Britto também afirma que a taxa de óbito em Feira de Santana é mais baixa que a atual média do Estado e quase a metade do que é registrado em Salvador, por exemplo. Feira tem taxa de óbito por coronavírus em 1,84% de acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia, enquanto que o Estado como um todo está em 2,5% e Salvador com 3%.
"Há necessidade de descer o máximo a idade de vacina. Hoje basicamente os hospitais de campanha internam pacientes mais jovens, justamente aqueles não vacinados. Com relação aos dados, sim, os dados são piores", afirmou o secretário.
O mês mais mortal da Bahia desde o primeiro caso de coronavírus registrado foi em março de 2021, justamente quando a pandemia completava um ano no Estado. Naquela ocasião, 2.280 pessoas morreram por complicações da doença, ultrapassando agosto do ano passado, quando mais de 1,9 mil morreram.
Foram momento de terror, no começo daquele mês, foram raros os dias em que não houve mais de 100 mortes por dia computadas no estado. Os números acentuados vieram justamente após o período em que aconteceria o carnaval em épocas normais, que seria de 15 a 17 de fevereiro.
Comércio
O comércio de Feira de Santana funcionará normalmente nesta sexta-feira (2). Apesar do feriado da Independência da Bahia, as lojas têm permissão para abrir caso desejem.
A abertura opcional ficou definida após um acordo coletivo envolvendo o Sindicato do Comércio de Feira de Santana (Sicomfs). De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, as lojas que possuem até 20 funcionários e quiserem abrir devem pagar R$ 65 para cada funcionário escalado, enquanto as que possuem mais de 20 colaboradores devem bonificar em R$ 70, além do vale-transporte do dia.
Já no caso dos supermercados, o valor será de R$ 74,88 e o pagamento poderá ser feito até o sexto dia útil após o feriado.
O Secretário Marcelo Britto indica que a abertura do comércio também é uma estratégia para que as pessoas não se aglomerem em festas com as lacunas de feriados como o da Independência da Bahia e como foi o São João, no dia 24, quando o município não decretou feriado e as atividades da cidade funcionaram normalmente.
"Neste último feriado, por exemplo, de São João, não houve decretação de feriado, Feira de Santana continuou aberta para evitar que as pessoas se aglomerassem em festas. Todas as noites, o município faz ronda com a guarda municipal, a Polícia Militar. O pessoal da vigilância epidemiológica, sanitária, do Procon, justamente para não permitir as aglomerações e, quando encontra, faz as punições previstas em lei", disse.
Até esta quarta-feira (30), Feira de Santana havia recebido 282.018 doses de vacinas da Sesab. Foram 199.649 doses aplicadas em 1ª dose e outras 79.038 em 2ª dose de acordo com o Vacinômetro do município. O índice de quem completou o ciclo de vacinação em Feira é de 11,74%, ou seja, aqueles que tomaram as duas doses. O número é levemente superior à média do estado, que é de 10,67%.
Comércio de Feira é autorizado a funcionar nestes sábado e domingo (8 e 9)
O comércio de Feira de Santana está autorizado a funcionar no sábado (8) e no domingo (9), das 8h às 14h, véspera e dia das mães. Isso inclui o Shopping Cidade das Compras, Feiraguay, Mercado de Arte Popular e Galpão de Arte. A medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial Eletrônico da segunda (3).
As casas lotéricas também foram autorizadas a funcionar nestes dias, até 14h. Shoppings centers poderão ficar abertos das 10h às 20h30. O escalonamento dos estabelecimentos comerciais e de serviços continua entre 3 e 10 de maio.
No sábado, atividades de feira livre podem funcionar até 14h. O Centro de Abastecimento deve fechar às 16h. No domingo, estes serviços não podem funcionar.
Bares e restaurantes podem abrir com atendimento presencial de 3 a 10 de maio, encerando sempre às 20h30. A venda de bebidas alcóolicas fica proibida em qualquer local, incluindo delivery, das 21h às 5h, de 7 a 10 de maio.
Celebrações religiosas ficam permitidas até 20h30 todos os dias, desde que seguindo os protocolos sanitários como distanciamento.
Os serviços de entrega em domicílio de medicamentos e materiais de construção estão permitidos, independente do horário. Já os serviços de delivery de alimentos somente até a meia-noite.
Cerimônias de casamento, solenidades, eventos desportivos coletivos e amadores, assim como quaisquer outros eventos e atividades que envolvam a presença de público estão suspensos em Feira de Santana, ainda que previamente autorizados.
O uso do transporte coletivo com passe estudantil está restrito para uso somente das 9h às 16h, por conta da suspensão das aulas presenciais.
ONG aponta Feira de Santana como 9ª cidade mais perigosa do mundo; SSP contesta
Uma pesquisa feita pela ONG mexicana "Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal" deu a Feira de Santana, no interior da Bahia, o título de 9ª cidade mais violenta do mundo. No top 50 também são litados os muncípios baianos de Vitória da Conquista (20ª posição) e Salvador (28ª).
A ONG é considerada uma das principais entidades internacionais no monitoramento de taxas de crimes violentos, segurança pública, narcotráfico e políticas de governo.
O principal dado utilizado no estudo é a taxa de homicídios em cidades com mais de 300 mil habitantes. É feita uma média levando em conta o número de assassinatos a cada 100 mil habitantes.
O levantamento é feito anualmente levando em conta dados oficiais ou fontes alternativas, como jornais e portais de notícia.
No caso das cidades baianas, a ONG afirmou que os dados usados no estudo foram encontrados publicamente no site da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
A SSP-BA, no entanto, discorda do veredito. Em nota, o órgão afirmou que o estudo usa fontes não oficiais, como recortes de jornais e revistas para levantar informações.
"Diferentemente do que foi divulgado pelo estudo, a taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais por 100 mil habitantes em Vitória da Conquista foi de 35,8, em Salvador fica em 40,8 e na cidade de Feira de Santana 62,9", corrige.
Com os dados da SSP, Feira de Santana cairia para a 11ª posição, Salvador para 36ª e Conquista para 37ª.
Apesar da discordância da secretaria, o estudo estudo aponta um crescimento dos crimes de homicídio em Feira de Santana. Em 2017, por exemplo, a cidade estava em 15º lugar na lista, com índice de 60,23 homicídios a cada 100 mil habitantes. Agora, a taxa subiu para 67,46.
Salvador, por outro lado, caiu na mesma comparação. Em 2017, a capital baiana aparecia em 20º lugar, com índice de 54,71. Agora, em 28º, apresenta taxa de 46,80 – também por homicídios a cada 100 mil habitantes.
Comércio de Feira de Santana vai funcionar em escalonamento a partir dessa quarta
O comércio de Feira de Santana vai funcionar em escalonamento a partir dessa quarta-feira (10). O esquema vai funcionar desta forma até sexta-feira (12), quando começa o lockdown na cidade e se estende durante o final de semana.
Além disso, a cidade também continua com o toque de recolher em vigor, que começa às 20h. A proposta de fazer um escalonamento é reduzir o número de passageiros nos ônibus nos horários de pico.
Veja a divisão:
Grupo A - das 8h às 17h
Auto peças e Oficinas,
Locadoras e Consorssionárias
Oticas e Relojolherias e Bijouterias
Eletrodomesticos, Móveis, Colchões
Artigo de festas e Bomboniere
Cosmético e Perfumaria
Artigo Eletrônico e Informática
Embalagens e Limpezas
loja Conveniência e Floristas
Feiraguay Box nº PAR
Grupo B - das 9h às 18h
Material de Construção
Armarinho e Utilidade do lar
Cama e Mesa e Tecidos
Vestuário, Moda e Artigo Esportivo
Calçados e Bolsas e Acessórios
Artigo Escritórios e Papelaria
Despachantes e Corretoras
Barbearia e Salão de beleza
Feiraguay Box nº IMPAR
Grupo C
Shopping das 11h às 19h
Centro Abactecimento das 4h às 15h
Shopping Cidade das Compras das 8 h às 16h
Galerias e MAP e Galpão Arte das 9h às 16h
Grupo D - Horário Normal
Industrias Geral/ Construção Civil
Açougue, abatedouros e peixarias
Transportadoras, Segurança e TI
Bancos, lotéricas
Clínicas e laboratórios
Fertilizantes e Produtos Veterinária
Grupo E - Horário Normal
Padarias e Supermercados e Farmácia
Postos Gasolina e Borracharias
Ração Animal e Distribuidora Água e Gás
MP recomenda fiscalização do toque de recolher em Feira de Santana
O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) recomendou na segunda-feira (22) que o município de Feira de Santana instaure medidas de fiscalização que garantam o respeito ao toque de recolher estabelecido por meio de decreto pelo Governo do Estado.
Na recomendação, o promotor de Justiça Audo da Silva Rodrigues solicita ao prefeito Colbert Martins Filho que restabeleça o monitoramento por geolocalização dos serviços de aparelho celular, com o objetivo de identificar o grau de isolamento social e os locais com maior índice de movimentação de pessoas na cidade.
Audo também destacou que houve “recente aumento no nível de ocupação dos leitos clínicos e de UTI dedicados à Covid-19 em Feira de Santana, com alcance da capacidade máxima em determinadas unidades”.
O município terá 24 horas para informar ao MP sobre as medidas adotadas para cumprimento da recomendação.
Ainda segundo a recomendação do MP-BA, Feira deverá aplicar sanções administrativas aos estabelecimentos comerciais que desrespeitarem o toque de recolher, estabelecido a partir de hoje, entre as 20h e 5h com vigência até o próximo dia 28.
Feira de Santana não terá micareta em abril, diz prefeito
O prefeito Colbert Martins afirmou que a micareta de Feira de Santana não vai acontecer em abril, como é tradicional, por conta da pandemia. A festa segue sem data definida, devendo ocorrer só quando a vacinação estiver produzindo resultados e o número de mortes por covid-19 diminuir na cidade. As afirmações foram feitas em coletiva na quarta-feira (27).
“Sobre a questão da micareta, em abril não vai haver de forma nenhuma. Vamos analisar a vacinação a fim de que se reduzam as mortes. Vamos começar a ter possibilidade de pensar sobre esse assunto assim que tivermos, no mínimo, essa situação delimitada e delineada. Essa cidade precisa ter, pelo menos, 50% das pessoas vacinadas. Vamos aguardar atingir esse limite para pensarmos no assunto da micareta”, disse Colbert.
A micareta de Feira não ocorreu no ano passado, quando estava prevista para os dias 23 a 26 de abril.
Colbert também disse que o planejamento da prefeitura é para o retorno das aulas em fevereiro, mas ainda on-line. O prefeito defendeu aulas híbridas, misturando presencial com on-line, para mais à frente.
"Nós estamos prontos para iniciar o primeiro semestre de 2020 agora em 2021 online. Temos todas as condições para fazer isso agora em fevereiro. Depois estaremos defendendo a necessidade do retorno híbrido, semipresencial quando for possível e quando for necessário", disse.
Feira de Santana prorroga proibição de venda de bebidas alcoólicas em locais públicos
A prefeitura de Feira de Santana prorrogou até 11 de janeiro o decreto que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais localizados em praças públicas, feiras livres e outros espaços.
A medida veta ainda a realização de shows e eventos, que seguem suspensos, e reduz o horário de funcionamento de bares, restaurantes, lanchonetes, lojas de conveniência, casas de recpções e buffets, que seguem fechando as portas às 21h.
O decreto determina ainda que os estabelecimentos cumpram os protocolos de segurança, como distanciamento mínimo de dois metros entre as mesas, utilização de apenas 50% da área, capacidade máxima de quatro pessoas por mesa, disponibilização de álcool a 70%, sabão e papel toalha para clientes e funcionários. Também é obrigatório higienizar o ambiente e usar máscara facial.
Covid-19: Feira de Santana começa 2021 beirando a ocupação máxima nos leitos de UTI
Depois de 12 dias da noite de Natal, a cidade de Feira de Santana inicia o ano de 2021 beirando os 100% de ocupação nos leitos de UTI reservados para a covid-19. No Hospital Geral Clériston Andrade, todos os 40 leitos estavam ocupados. Já no Hospital de Campanha, administrado pela prefeitura e exclusivo para pacientes da cidade, há apenas dois leitos livres e uma taxa de ocupação de 89%, mas que já chegou a atingir 100% nos últimos dias.
Para Francisco Mota, diretor do hospital de campanha, não há dúvidas de que os dados obtidos agora são um reflexo da festa natalina. “Esse aumento é por conta das aglomerações de Natal. A gente tem uma resposta das aglomerações de oito a 15 dias”, explica o médico, que está ainda mais preocupado com o possível reflexo das comemorações de Ano-Novo, que devem impactar mais ainda o sistema.
“Muito provavelmente não vamos ter como acolher mais doentes. Até há espaço para abertura de leitos, mas o processo não é rápido. Infelizmente, não caiu a ficha da população que a doença é contra o sistema de saúde. Enquanto a população não tiver consciência da importância das medidas de segurança, a gente pode abrir o maior número de leitos possíveis, mas tem uma hora que vai faltar profissional, medicamentos, materiais... o problema é a falta de conscientização”, declarou Mota.
Coordenadora do Comitê Gestor Municipal de Controle ao Coronavírus em Feira, a infectologista Melissa Falcão também se vê preocupada com o cenário que é agravado pela chamada segunda onda, marcada pela alta taxa de transmissão da doença na cidade. “Desde dezembro, nós estamos vendo alta taxa de ocupação nos leitos e uma incidência grande de casos. Só que o Ano-Novo é mais preocupante do que o Natal, pois teve muita gente viajando, fazendo festas. Estamos preocupados em como estará a situação daqui as duas semanas”, diz.
Mesmo com essa realidade, não é discutido pela prefeitura a realização de algum tipo de lockdown ou mesmo fechamento do comércio. A infectologista explica o motivo: “Não é cogitado fechamento do comércio, a não ser que saia muito do controle. Não existe possibilidade de lockdown, pois como a taxa de transmissão está muito grande e espalhada, as pessoas se contaminariam em casa”, explica Falcão.
Medidas anunciadas pela prefeitura em dezembro, quando a cidade já registrava o pior momento da pandemia desde julho, continuam valendo: houve aumento do número de realizações de exames, mesmo das pessoas assintomáticas; fechamento de bares, restaurantes, lanchonetes e lojas de conveniência às 21h; e aumento da fiscalização.
Os estabelecimentos são obrigados a manter os protocolos sanitários, como disponibilizar álcool a 70%, sabão e papel toalha para clientes e funcionários; não permitir mais de quatro pessoas em uma mesma mesa; e utilizar apenas 50% da área total.
Segundo a assessoria da prefeitura, estão em vigor ainda a proibição de bebidas alcoólicas em espaços públicos e a proibição de shows e apresentações musicais e de transmissão de jogos de futebol.
Progressão da doença
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o "período de incubação do coronavírus" se refere ao tempo entre a infecção do ser humano pelo vírus e o início dos sintomas da doença, intervalo que pode variar de 1 a 14 dias. Outros estudos apontam que se leva cerca de 14,5 dias do início dos sintomas até a intubação, que é quando o paciente já está no leito de UTI. Uma vez intubado, os casos podem evoluir a óbito de 4 a 5 dias.
Se no Natal e Ano-Novo muitas pessoas foram contaminadas, o reflexo disso no sistema de saúde - com aumento de internação e número de óbitos - só será sentido ao longo de janeiro. “Nós já vivemos um período em que os pacientes da rede particular começaram a ser transferidos para a rede pública, devido à alta ocupação. Se Feira não conseguir dar conta, essas pessoas terão que ir para outras cidades. Hoje, observamos ainda aumento na contaminação e internação de idosos. As pessoas estão tendo menos cuidado e levando o vírus para casa”, aponta a infectologista Melissa Falcão.
Segundo o diretor médico do Hospital de Campanha de Feira, há relatos de que a ocupação dos leitos de UTI na rede particular da cidade está acima de 90%. Já o Hospital Estadual da Criança, localizado na cidade, possui cinco leitos pediátricos voltados para covid-19 e apenas um ocupado. Em outras cidades também do centro-leste baiano, onde Feira de Santana está localizada, a ocupação nos leitos de UTI é de 80% no Hospital Regional da Chapada, em Seabra, e de 70% nos hospitais da Chapada, em Itaberaba, e Municipal, em Serrinha.
Tudo isso ajuda a pressionar o sistema de saúde feirense. Mesmo assim, para Francisco Mota, ainda não é possível falar que podemos chegar a um colapso. “O que eu posso dizer é que, quando os hospitais lotam, os pacientes vão ficar nas UPAs [unidades de pronto-atendimento] e policlínicas, esperando atendimento, ou serão remanejados para hospitais de outras regiões. O colapso pode acontecer quando esse remanejamento não for mais possível”, explica.
Dezembro já foi o mês com maior número de casos de covid-19 em Feira de Santana desde que começou a pandemia. No total, foram 4,9 mil casos confirmados no último mês de 2020, o que representa 25% de todos os casos notificados desde o início da pandemia, segundo o boletim epidemiológico municipal. Feira também já registrou 354 mortes; 1,5 mil pessoas ainda aguardam o resultado do exame para saberem se estão contaminados pelo vírus. Mais de 20 mil casos da doença já foram confirmados.
Lista dos hospitais que estão com mais taxa de ocupação na Bahia:
Hospital Geral Clériston Andrade (Feira de Santana) - 100%
Hospital Santa Helena (Camaçari) – 100%
Hospital São Pedro (Remanso) - 100%
Hospital Municipal Dom Antonio Monteiro (Senhor do Bonfim) - 100%
Hospital São Vicente (Jequié) 100%
Hospital Regional Costa do Cacau (Ilhéus) - 93%
Hospital de Ilhéus - 91%
Hospital Regional Dr Mario Dourado Sobrinho (Irece) - 90%
Hospital de Tratamento Covid19 de Eunápolis – 90%
Promatre de Juazeiro – 90%
Hospital São Vicente de Paulo (Vitoria Da Conquista) 90%
Vida Memorial (Ilhéus) - 90%
Hospital de Campanha de Feira de Santana – 89%
Feira de Santana vive pior fase da pandemia e supera o pico de julho
Depois dos plantões no Hospital de Campanha de Feira de Santana, o diretor médico da unidade, Francisco Mota, percorre 4 quilômetros até chegar em casa. Deixa para trás um hospital que trabalha quase sempre no limite, mas encontra, no percurso, um revoada de gente em bares e restaurantes. “Estamos ocupados praticamente o tempo inteiro”, conta o médico sobre a situação vivida pela cidade nas últimas três semanas, considerada a mais grave desde o início da pandemia do coronavírus pelos profissionais de saúde locais.
Em dezembro, os hospitais – públicos e privados – de Feira de Santana, a 115 quilômetros de Salvador, trabalham com ocupação entre 85% e 100%. Nunca abaixo disso. Já foram 3.417 casos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o que resulta numa média de 1.139 casos semanais. No boletim diário da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), constam 3.354 casos em dezembro, pois ainda há testes à espera de resultado no Laboratório Central de Saúde Pública.
Foi o recorde semanal desde o início da pandemia. Cinco meses antes, em julho, quando se acreditava que Feira vivia o pico da pandemia, eram 809 notificações semanais, em média. A cidade registrou o primeiro caso de coronavírus do Norte e Nordeste no dia 8 de março.
Feira de Santana tem, hoje, 63 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). São 18 no Hospital de Campanha, onde trabalha Francisco, 40 no Clériston Andrade, e cinco no Hospital Estadual da Criança. Deles, 86% estão ocupados. Em Salvador, a ocupação de leitos de UTI está em 78% e foram 2,4 mil casos por semana, em dezembro, o dobro do notificado em Feira.
A capital baiana tem 3,6 milhões de habitantes, estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seis vezes mais que Feira. Em toda Bahia, a ocupação média é de 77%, com 19,7 mil notificações semanais de covid-19 neste mês.
Em julho, os leitos do Hospital de Campanha foram ampliados de 10 para 18. Como o fluxo de pacientes caiu, os leitos extras foram desativados. No final de novembro, depois das eleições municipais, Francisco recebeu a ordem de reativá-los. Os pacientes, notava-se, voltavam em maior volume, como em julho, com sintomas de infecção pelo novo vírus.
A espera para conseguir atendimento pode chegar até 12 horas nas unidades de saúde de Feira, e os médicos, sem escolha, precisam, em alguns casos, decidir quais pacientes entram e saem da UTI. A decisão não depende exclusivamente da necessidade, como deveria ser, mas da disponibilidade. “Não é um fenômeno de Feira de Santana, claro. Mas a situação é de trabalhar no limite. Está fora do controle”, frisa Francisco. “E não vamos conseguir abrir novos leitos de UTI de uma hora para outra aqui [no Hospital de Campanha]”, explica. Para isso, seriam necessários entre 15 e 20 dias para expansão de estrutura e contratação de pessoal.
Aumento na curva
“Eu estou notando aqui na sala de projeção que o aumento na curva começou, em Feira de Santana, no dia 5 de novembro”, compartilha o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, um dos coordenadores do comitê científico do Consórcio Nordeste, que reúne informações sobre a covid-19 para orientar estados e municípios nordestinos. Nicolelis, que já foi considerado um dos 20 pesquisadores mais importantes de sua área pela revista estadunidense Scientific American, enxerga erros e reflexos das próprias características de Feira.
O primeiro, nas palavras de Nicolelis, foi “resultado de políticas que não foram sincronizadas”. O segundo, como consequência dessa falta de sincronização, foi a oscilação entre fechamentos e aberturas do comércio e dos bares. Além disso, o mês iniciou depois de campanhas eleitorais que inauguraram um novo ciclo de contaminações, segundo Nicolelis. “Lembro de estar numa entrevista, porque o prefeito de Feira queria reabrir as coisas e eu afirmava que ia ter uma explosão de casos se abrisse. Isso é reflexo da falta de políticas consistentes que levem em consideração em primeiro plano os riscos de infecção”, avalia.
O comércio do município chegou a ficar fechado em março e julho, mas a reabertura veio logo em seguida. Aglomerações em botecos se tornaram cada vez mais comuns.
O prefeito de Feira, Colbert Martins (MDB), que também é médico e professor de Epidemiologia da Universidade Estadual do município (Uefs), nega qualquer “erro” que justifique o momento atual. Na quarta (23), ele participou de uma reunião para pensar novas medidas restritivas contra o avanço do vírus (confira abaixo). “Não vejo erro de Feira de Santana. Ao invés de fecharmos tudo, Salvador fechou tudo, flexibilizamos e acertamos. Abrir e fechar é mais eficaz do que fechar, porque existem os problemas econômicos também”, defende Colbert, que vê uma situação “mais grave, pior não sei”, ao contrapor número de casos mais elevados com quantidade de óbitos.
As medidas restritivas planejadas pela prefeitura preveem a ampliação das fiscalizações e reduzir o horário de funcionamento dos estabelecimentos, entre bares e restaurantes. Ficaram estabelecidas regras como o encerramento das atividades de estabelecimentos como bares, restaurantes, lanchonetes e lojas de conveniência às 21h e a proibição de mais de quatro pessoas em uma mesa. Lockdown não está nos planos.
Os bares, por outro lado, podem voltar a ser fechados, pois são uma das principais armadilhas para a população e um dos paraísos do vírus – pessoas aglomeradas, falando alto e trocando fluidos, como gotículas de saliva no ar. O prefeito Colbert pede que sejam evitados encontros para a virada do ano.
Para entender como Feira chegou até aqui é preciso, ainda, enxergar outros fatores. Dezembro é, tradicionalmente, mês de viagens e reuniões entre familiares que moram na capital com os do interior, complementa Nicolelis, o neurocientista do Consórcio Nordeste. É mês de pegar a estrada para o reencontro e também de comprar presentes. E Feira de Santana é tanto o maior entroncamento rodoviário do Norte e Nordeste, quanto um forte polo comercial no estado.
Número de casos pode quase dobrar em um mês
Desde o início do mês, especialistas alertam sobre uma segunda onda da pandemia de covid-19 no Brasil. No dia 22 de dezembro, o país registrou 963 mortes por covid, o valor mais alto desde 17 de setembro, quando 779 pessoas morreram vítimas do coronavírus. A tendência se repete nos estados e cidades brasileiros. Hoje, o comitê científico do Consórcio Nordeste tem voltado a atenção, no que diz respeito a interiores baianos, a Feira de Santana, Brumado, Itaberaba, Itabuna, Jequié e Vitoria da Conquista.
A preocupação direcionada a Feira de Santana é potencializada pela localização da cidade e a falta de UTIs para atender a demanda, que só cresce.
“O que acontece é que por mais que estejamos mostrando os fatos, a responsabilidade individual não é uma realidade. Não temos leitos disponíveis, quem adoecer, não vai ter leito”, conta Melissa Falcão, infectologista que coordena o Comitê Gestor Municipal de Controle ao Coronavírus em Feira.
Mesmo a rede privada enfrenta desafios em Feira. Há pacientes que esperam, em leitos na emergência, de dois a três dias, por uma vaga na UTI.
No horizonte, não há nenhuma previsão de abertura de novos leitos na cidade. O que se tem é um temor quanto as consequências das festas natalinas e de Réveillon. Caso o crescimento permaneça o mesmo, calculou Miguel Nicolelis, do comitê científico do Consorcio Nordeste, em um mês os casos podem saltar de 22.437 mil para 35 mil no município.
Quando completa o percurso até em casa, Francisco, o diretor do hospital de campanha, não consegue se desligar dos números e das histórias que, diariamente, se repetem – a idosa isolada que foi contaminada por um parente, a jovem que evoluiu para estado grave, a filha que foi para o bar e levou o vírus para casa. Na véspera do Natal, Francisco não reuniu a família, mas não foi o que viu na vizinhança do bairro onde mora. “Eu tenho que passar tranquilidade, mas a palavra que me define é ‘angustiado’”.
Até esse domingo (27), a cidade registrava 387 mortes e 22.450 casos confirmados da doença.
Confira as medidas adotadas pela prefeitura:
- Aumento do número de realizações de exames, mesmo das pessoas assintomáticas
- Fechamento de bares, restaurantes, lanchonetes e lojas de conveniência às 21h
- Aumento da fiscalização
- Horário do comércio foi estendido para até 22h, para evitar aglomeração em espaços.
- Proibição de bebidas alcoólicas em espaços públicos
- Proibição de shows e apresentações musicais e de transmissão de jogos de futebol
- Proibição de mais de quatro pessoas em uma mesma mesa
- Utilização de 50% da área total de um espaço
- Estabelecimentos são obrigados a manter os protocolos sanitários, como disponibilizar álcool a 70%, sabão e papel toalha para clientes e funcionários.