'Cabeça fritava, não conseguia respirar': psicólogos narram sobrecarga na pandemia
Niliane atendia 30 pacientes por semana e, duarante a pandemia, a sobrecarga ficou tão grande ao ponto dela ter crise de ansiedade. Milena acompanhava, no máximo, quatro pessoas por dia. Hoje são 11. Anibal tem que conciliar uma média de 20 pacientes clínicos semanais com o trabalho no setor público, atendimentos voluntários e estudo para ingressar no mestrado. Em comum, as três histórias refletem o aumento na demanda por um serviço cada vez mais necessário: a psicologia.
Nesse momento em que lê o texto, talvez você sinta a necessidade desse atendimento especializado. Só entre os jovens de 18 e 24 anos, de acordo com a Pfizer, 50% disseram que a saúde mental ficou ruim ou muito ruim durante a pandemia. Na população geral, o índice é de 30%. Já os dados do Ministério da Saúde mostram que a ansiedade é o transtorno mental mais presente entre os brasileiros. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o Brasil tem a maior prevalência de depressão na América Latina, além de ser o país mais ansioso do mundo.
Num cenário de tanto sofrimento psicológico, os especialistas na área desempenham papel de destaque, mas não deixam de sentir efeitos no cotidiano profissional.
“O que a população, em geral, passa na pandeia, o psicólogo também vive. É stress, ansiedade, tristeza, medo, insegurança... só que esse profissional é constantemente buscado para dar auxílio aos demais. E como ele faz para se adaptar a tudo isso?”, questiona Nathalia Caurin, psicóloga clínica e pesquisadora da Universidade São Francisco (USF).
Junto com outros colegas, Nathalia escreveu o artigo “Impactos da pandemia da Covid-19 em profissionais da Psicologia”, um dos poucos trabalhos acadêmicos que abordam o tema, como explica o também autor do estudo, André Sousa Rocha. “É escasso a quantidade de trabalhos que trazem a visão do psicólogo. Tem estudos que falam dos impactos nos profissionais da saúde, mas por vezes os psicólogos perdem o protagonismo, são como se eles não fossem afetados pela pandemia”, diz.
Mas eles são. A psicóloga de 36 anos, Niliane Brito, por exemplo, teve que lidar com a crise de ansiedade. “Chegou um momento em que a cabeça fritava e eu estava sem raciocinar direito, não conseguia respirar, queria passar o dia todo na cama, não conseguia levantar. Crise mesmo! Fui diminuindo o ritmo aos poucos e percebi que precisava cuidar da saúde. Tenho acompanhamento psicológico e psiquiátrico”, diz a profissional, dismistificando o preconceito que impede alguns colegas de expressarem seus problemas.
“Ao falar sobre isso, encontro pessoas que dizem se inspirar e se identificar em mim. Eles pensam que eu estou mais próxima deles, por estar mais aberta”, afirma. Dos 30 pacientes que ela tinha no auge da pandemia, hoje são apenas 13 que fazem a chamada psicoterapia, o acompanhamento realizado através de diálogos periódicos entre o profissional e o paciente. No entanto, isso não quer dizer que seu trabalho reduziu.
“Num turno, atuo na clínica. Em maio, comecei a trabalhar na linha de frente da covid em um hospital privado de Salvador. Lá pude vivenciar uma outra face da pandemia, pois realizava o atendimento de pacientes e familiares, que também demandavam muito. Toda a equipe ficava abalada com esse cenário e os sintomas se manifestavam de formas diferentes em cada profissional. Saber lidar com isso é o X da questão”, relata.
Estar bem consigo mesmo para poder cuidar do outro
O pesquisador André Sousa Rocha defende que, para o atendimento psicológico ser oferecido da melhor forma possível, é de interesse que psicólogos estejam saudáveis fisicamente e mentalmente. “O profissional precisa reconhecer o seu limite e saber até onde pode ir. Ele precisa ver se as demandas que surgem podem ser atendidas, se ele tem capacidade técnica e domínio teórico para lidar com isso. Se não, vai ter que encaminhar para outro profissional”, defende.
O especialista também recomenda a adoção de um planejamento profissional que inclua atividades de lazer e intervalos entre os atendimentos. A psicóloga Milena Oliveira, 32 anos, faz exatamente isso. Nos dias mais atarefados, ela chega a atender 11 pacientes, três vezes a mais do que era antes da pandemia. Para lidar com isso, ela divide os clientes em três turnos: quatro pela manhã, quatro pela tarde e três pela noite. Cada turno é seguido de um intervalo de descanso de 1h30.
“Foi em setembro do ano passado que minha agenda começou a ficar cheia”, lembra. Coincidência ou não, esse é justamente o mês da campanha brasileira de prevenção ao suicídio, o Setembro Amarelo. Esta sexta (10), inclusive, é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio e, novamente, Milena vê o número de pacientes buscando atendimento aumentar.
“Só hoje (quarta-feira), fiz duas novas anamneses. (...) Agora, literalmente agora, tem intensificado muito mais”, diz.
Para os especialistas, o relato é um reflexo de que a campanha está fazendo efeito, uma vez que as pessoas estão buscando mais ajuda. “Elas buscam a terapia para lidar com os efeitos da pandemia: enfrentar tantos óbitos, adoecimentos e o isolamento social”, afirma a pesquisadora Nathalia Caurin.
O estudante Carlos Bahia, 22 anos, também começou a fazer terapia em setembro de 2020, influenciado pelos desafios vividos durante a crise sanitária. “Eu até tinha vontade antes, mas a coisa do ficar em casa talvez tenha ajudado a amadurecer de vez e decidir que eu precisava fazer”, diz o rapaz, que não tem intenção de interromper as consultas tão cedo. “Esse é um momento bem importante da minha semana”, relata.
Já a autônoma Daniele*, 29 anos, aproveitou o dinheiro do auxílio emergencial, em 2020, para começar a terapia. “Eu me sentia inútil dentro de casa, sem motivação. Tive que ficar longe de muitas pessoas e isso me levou a uma solidão. Se não fosse o auxílio, não teria como fazer”, aponta. Quando o benefício emergencial diminuiu, ela não conseguiu dar conta dos custos e precisou parar a terapia (Veja no final do texto onde procurar atendimento gatuito ou com valores sociais).
“Não por escolha e, sim, por falta de opção, busco mais conhecimento em livros, páginas da internet, lives e vídeos do YouTube. Nunca é a mesma coisa e nem sempre são fontes seguras, logo, nem se compara ao benefício de uma terapia. Saber que alguém pode te ouvir, não te julgar, te acolher e te ajudar com os problemas é algo muito bom”, comenta.
Dicas do laboratório Pfizer para cuidar da saúde mental durante a pandemia:
Descanse. O sono regular interfere diretamente no equilíbrio emocional. Busque atividades que auxiliem no sono profundo e de qualidade.
Alimente-se bem. Ter atenção ao que se come e priorizar uma dieta balanceada permite a ingestão de todos os nutrientes necessários ao organismo.
Evite drogas como escape do estresse. Álcool e tabaco se tornam vícios e, a longo prazo, causam muito malefícios à saúde física e mental.
Fortaleça seus contatos, ainda que à distância. Uma conversa com amigos ou com a família por mensagens, ligações telefônicas ou videochamadas pode aliviar sensações ruins.
Tire um tempo para você. Não preencha seus dias apenas com atividades obrigatórias - libere um espaço na sua agenda para atividades de lazer
Não é apenas sobrecarga de trabalho
Coordenada pelo professor Pedro Henrique Antunes da Costa, da Universidade de Brasília (UNB), o projeto Impactos da Pandemia de Coronavírus para a Psicologia nas Políticas Públicas identificou outros problemas vividos pelos psicólogos além da sobrecarga de trabalho. Alteração da rotina, impossibilidade ou restrição de atendimento presencial, receios de usuários dos serviços e carências estruturais são algumas das outras barreiras que os profissionais superam para trabalhar.
“As principais formas de cuidado à saúde mental destes profissionais referem-se a melhores condições de trabalho: realização de concursos com estabilidade e melhores salários; aprimoramento da infraestrutura; fornecimento de insumos; ampliação e potencialização dos serviços e redes, diminuindo a demanda e a consequente sobrecarga", avalia o coordenador da pesquisa à UNB.
O psicólogo Lucio Oliveira, 47 anos, por mais que tenha dobrado o atendimento na pandemia, não deixou de lado o programa Rádio África, na Educadora FM, que ele comanda todo sábado, às 15h. “Nunca peguei tantos pacientes em tão pouco tempo. Além da clínica, atuo como psicólogo social junto a uma instituição de educação e faço doutorado. Algumas coisas do programa de rádio só consigo fazer no final de semana, mas não deixo esse serviço”, diz.
Anibal Dantas, 40 anos, segue essa mesma linha. Ele concilia o atendimento clínico com trabalhos voluntários e estudo para o mestrado, além de atuar num Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), no interior baiano. O espaço público recebe pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade social, como mulheres vítimas de violências, adolescentes vítimas de abusos e idosos vítimas de maus-tratos.
“No Creas, o atendimento tem aumentado muito. Eu comecei lá no início do ano, mas pegando os dados de 2020 e 2019, dá para perceber esse aumento em todos os casos. E são temas densos, pesados, onde muitas famílias estão em situação de extrema vulnerabilidade. No início, era muito difícil, pois sou muito sensível, sobretudo a questões sociais, mas somos técnicos e temos que estar preparados para acolher a demanda”, afirma.
Mesmo tendo menos de um ano de formada, a psicóloga Carla Leticia, 26 anos, pensa igual. Ela já atende 13 pacientes semanalmente e precisa lidar com casos graves, algo comum durante a pandemia. “Já aconteceu de domingo a noite ou segunda, de madrugada, às 1h, o paciente me ligar com algum tipo de crise. Olha que tenho o sono pesado, mas acordei na hora e dei toda a assistência necessária”, lembra.
Quais são os sinais aos quais devemos ficar atentos?
Sono (alterações; não conseguir dormir; dormir demais; sono bagunçado, etc);
Alimentação (perda de apetite; comer muito mais ou muito menos do que normalmente come);
Tristeza muito forte e frequente (muito além de uma tristeza normal);
Hipersensibilidade;
Humor alterado;
Ansiedade patológica (é normal ficar ansioso nesse contexto, mas uma ansiedade que tira o sono não é normal);
Não conseguir ter a rotina;
Taquicardia e respiração ofegante;
Falta de motivação;
Dificuldade para organizar o pensamento;
Pensamentos catastróficos com frequência;
Abuso de álcool e drogas;
Não conseguir ter contato com as pessoas que gosta;
Feedback familiar (se outras pessoas, que convivem com você, têm notado alterações no seu comportamento).
Leia mais: Covid-19: confinamento e distanciamento social preocupam psicólogos
Quais são as principais doenças psiquiátricas que têm se manifestado na pandemia?
Ansiedade: Todo mundo pode estar ansioso em algum momento. No entanto, a ansiedade patológica é quando esse sentimento é excessivo e interfere na vida cotidiana. É uma preocupação intensa e persistente que pode envolver dor no peito, frequência cardíaca elevada, tremores e respiração ofegante.
Depressão: A depressão é um dos transtornos de humor. É uma doença crônica que provoca uma tristeza profunda e forte sentimento de desesperança. Pode vir associada a dor, amargura, desencanto e culpa, além de alterações de apetite e no sono.
Transtorno bipolar: Também é um dos transtornos de humor. Nesse caso, é uma doença marcada pela alternância entre períodos de depressão e períodos de euforia (mania). Os episódios de mania podem incluir perda de contato com a realidade e falta de sono. Cada episódio pode durar dias, meses ou semanas, além de vir com pensamentos suicidas.
Síndrome do pânico: O transtorno do pânico envolve crises repentinas de ansiedade aguda, vindas de forma inexplicável. Costumam ser associadas a medo e desespero, com a sensação de que a pessoa vai morrer ou enlouquecer. Ataques de pânico podem também um sintoma da ansiedade.
Entidades médicas se mobilizam em campanha de conscientização sobre o suicídio
Com o objetivo de chamar atenção para o tema numa abordagem responsável e acolhedora, diversas instituições médicas se uniram nesse Setembro Amarelo. Trata-se do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Associação Bahiana de Medicina (ABM), Cooperativa dos Medicos Anestesiologista da Bahia (Coopanest-BA) e a Sociedade dos Anestesiologistas do Estado Bahia (Saeb).
De acordo com o psiquiatra Lúcio Botelho, quase a totalidade dos suicídios está relacionada a distúrbios mentais, envolve pessoas portadoras de algum sofrimento psíquico e os transtornos de humor como a depressão respondem por cerca de 36% dos casos.
“A depressão tem alta prevalência na população mundial. É uma doença crônica com tendência a recorrência. Isso significa que quem teve um episódio de depressão na vida, pode vir a ter outros”, relata.
Os sintomas comuns de depressão são tristeza constante; perda do interesse em atividades rotineiras; redução do apetite com perda de peso, ou o contrário, aumento do apetite e ganho de peso; insônia ou necessidade aumentada de dormir; cansaço e fraqueza todo o tempo; sensação de inutilidade, culpa e falta de esperança; irritação constante; dificuldade em concentrar-se, tomar decisões ou lembrar-se das coisas; e ter pensamentos frequentes de morte e suicídio.
Entre profissionais de saúde, segundo as instituições, a taxa de suicídio é de três a cinco vezes maior do que na população em geral. A exaustão pode ser fruto da cobrança inerente à profissão, à rotina de trabalho ou ainda por questões individuais e sociais. E o cenário da pandemia agravou a pressão sobre os trabalhadores, que passaram a ter inúmeras demandas, não só entre os que estão na linha de frente do combate à covid-19.
Cuidar da saúde mental é a melhor estratégia para a prevenção ao suicídio, de acordo com o psiquiatra. “Alimentação saudável, sono regular, rotinas bem estruturadas e exercício físico são medidas não farmacológicas que diminuem as chances de depressão. No entanto, quando a pessoa estiver passando por um problema, o recomendado é que se procure ajuda de um profissional. Cuidar da saúde mental é ser gentil consigo mesmo. É preciso se permitir. Adoecer faz parte da condição humana. Não é demérito, não é vergonhoso ter depressão”, salienta.
Saiba onde buscar ajuda de forma gratuita ou com "valores sociais”:
CVV: É gratuito em todo o país e funciona 24 horas por dia, através dos telefones (71) 3322-4111 ou 188 e do site www.cvv.org.br.
Programa Escuta Acessível: Atendimento psicológico online ou presencial com valor social. Entre em contato pelo WhatsApp (71) 99637-1226 e faça seu agendamento. O psicólogo Anibal Dantas atua nesse projeto. “A sessão ou o valor mensal fica bem acessível, chegando a mais de 50% de desconto no valor real dos honorários”, explica.
Escola Bahiana de Medicina: A clínica de psicologia tem atendimentos com valores sociais. É preciso entrar em contato pelos telefones (71) 3286-8259, (71) 99249-3483 ou (71) 99287-3091 para fazer o agendamento. Os atendimentos estão ocorrendo de forma online e presencial de segunda a sexta, das 8h às 12h e 13h às 17h.
UniFTC: A instituição mantém o Ambulatório de Saúde Mental, espaço que disponibiliza atendimento interprofissional e conta com atendimentos gratuitos por dois modos:
Modalidade Plantão Psicológico: Um espaço de acolhimento e escuta especializada, na modalidade online, oferecido por profissionais da psicologia de modo pontual. Possui caráter breve, com foco no atendimento em momento de necessidade daquele que busca o serviço. Disponível de segunda a quinta, de 8h às 12h e de 14h às 18h. Nessa modalidade a pessoa não precisa de agendamento. Poderá realizar o atendimento com o profissional disponível no plantão. Link de acesso: bit.ly/plantaopsicologico_uniftc
Modalidade Atendimento Convencional: Os serviços disponibilizados à comunidade contemplam os projetos de acolhimento psicológico, grupos terapêuticos com adolescentes, grupos terapêuticos com idosos, grupos terapêuticos com professores, grupos terapêuticos com comunidade LGBTQIA+, grupo de acolhimento a ansiedade em tempos de pandemia, grupo de gestantes e puérperas, orientação profissional, clínica do trabalho, clínica do luto, psicoterapia individual. Sujeito a disponibilidade de atendimento e é necessário realizar agendamento. Link de acesso:
Unijorge: Oferece o plantão psicológico, um serviço do curso de psicologia com atendimentos feitos por psicólogos egressos da instituição, que estão inscritos nos Conselhos Regionais de Psicologia e estão autorizados a fazer atendimento virtual. O serviço é feito por telefone, através de plantões com dias e horários pré-determinados. Contato para marcação:
Mônica Hanhoerster
CRP 03/18470
Segunda-feira 18h às 22h
(71) 98113-3519
Lelciu Muniz
CRP 03/22799
Terça-feira 18h às 22h
(71) 98216-1222
Jorge Ícaro Medeiros
CRP 03/22992
Quarta-feira 08h às 12h
(73) 98239-1000
Larissa Caires
CRP 03/23015
Quinta-feira 13h às 17h
(71) 99198-6620
Vandeilton Trindade
CRP 03/23889
Sexta-feira 08h às 12h
(75) 99200-3115.
Confira quatro dicas para cuidar da saúde mental durante a pandemia, segundo o laboratório Pfizer:
1. Lembre-se que você não está sozinho. Todos estão na mesma situação. E, apesar disso, cada um encontra uma melhor forma de lidar com este momento. Não se compare com outras pessoas e tente encontrar o que mais funciona para você.
2. Este é um momento intenso e fora do comum. É completamente normal se sentir triste, assustado e/ou menos produtivo que o habitual. Uma pandemia e o distanciamento social geram diversas emoções que são difíceis de lidar. Novos sentimentos são esperados. Não se cobre para estar bem 100% do tempo.
3. Observe suas demandas internas. Abafar e ignorar sentimentos não é saudável. Tente colocar tudo o que está acontecendo no mundo em perspectiva e relacione ao que você está sentindo - estão interligados? Se colocar como parte do todo vai trazer autoconhecimento e facilitará encontrar o equilíbrio da situação.
4. Limite o tempo ligado nas notícias. É importante estar informado, mas são muitos processos acontecendo ao mesmo tempo - e todos eles bastante intensos. Mudanças na rotina de trabalho, no relacionamento com amigos e família, dilemas políticos e financeiros em todo o mundo. Estipule quanto tempo do seu dia você pode se dedicar ao consumo de notícias e, se necessário, reduza. Não se esqueça de buscar fontes oficiais para evitar notícias falsas.
* Nome alterado a pedido da entrevistada.
Flexibilização na pandemia ajuda na recuperação do setor de serviços
O Índice de Confiança de Serviços, divulgado hoje (30) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), subiu 1,3 ponto, ficando em 99,3 pontos em agosto, no maior nível desde setembro de 2013, quando o indicador estava em 101,5 pontos. Na comparação com agosto de 2020, a alta foi de 14 pontos e em médias móveis trimestrais o índice avançou 3,7 pontos, a quarta alta consecutiva.
O economista do FGV/Ibre Rodolpho Tobler explicou que esse é o quinto avanço seguido. Com isso, a confiança dos serviços se consolida em patamar acima do nível pré-pandemia e próximo ao nível neutro.
“Ao contrário do que foi observado nos últimos meses, a alta foi mais influenciada pela melhora no volume de serviços no mês, enquanto as expectativas ficaram estáveis. A combinação sugere que a recuperação do setor vem avançando em paralelo às flexibilizações na pandemia. Vale ressaltar que o cenário para os próximos meses ainda depende da recuperação da confiança do consumidor e carrega muita incerteza, especialmente associados aos riscos da variante delta”, destacou Tobler.
Segundo o Instituto, o resultado da confiança dos serviços do mês foi influenciado principalmente pelo Índice de Situação Atual, que subiu 2,6 pontos, para 93,0 pontos, ficando no maior nível desde junho de 2014, quando o indicador alcançou 94,3 pontos. Já o Índice de Expectativas cresceu 0,1 ponto, para 105,7 pontos, patamar mais alto desde novembro de 2012 (106,2 pontos).
Seguindo a tendência positiva, o saldo do emprego previsto tem demonstrado recuperação contínua, com médias móveis trimestrais em alta pelo terceiro mês consecutivo, ficando em 10,4 pontos em agosto, maior resultado desde maio de 2014. O saldo se refere ao percentual de empresas que planejam aumentar seu quadro de funcionários nos próximos meses, menos o percentual que planejam reduzir. No pico da pandemia, em junho do ano passado, no pico da pandemia, o indicador ficou negativo em 35 pontos.
Bolsonaro rebate STF e insiste em dizer que teve poder de ação limitado na pandemia
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) rebateu o Supremo Tribunal Federal (STF) e disse a apoiadores que vai responder por nota oficial a Corte. Ontem, o STF reafirmou que não proibiu o governo federal de agir na pandemia, como Bolsonaro gosta de dizer.
Bolsonaro diz que o STF tirou seu poder de agir com uma decisão de abril no ano passado. A decisão diz que o poder Executivo tanto federal, estadual quanto municipal devem atuar em conjunto para evitar a disseminação da covid-19.
"Vou rebater logo mais a nota do STF dizendo que não tirou poderes meus. Isso é fake news. Uma decisão o STF decidiu que as medidas impostas por governadores não poderiam ser modificadas por mim, então o Supremo na verdade cometeu crime ao dizer que prefeitos e governadores poderiam suprimir direito do art. 5º da Constituição, como o de ir e vir", afirmou o presidente, aos apoiadores que ficam em um "cercadinho" em frente ao Palácio da Alvorada.
O STF reafirmou sua posição em post feito ontem nas redes sociais."O STF não proibiu o governo federal de agir na pandemia! Uma mentira contada mil vezes não vira verdade!", diz o texto.
No final de semana, Bolsonaro chegou a dizer a apoiadores que se ele tivesse "coordenado a pandemia" o Brasil teria menos mortes.
Já foram várias vezes que o presidente repetiu que estava proibido de agir, o que, segundo o STF, não é verdade. A decisão dá autonomia para estados e municípios, mas não isenta o governo federal. A falta de coordenação federal no combate à pandemia, inclusive, é alvo de investigação na CPI da Covid no Senado. Entre os pontos citados estão a demora da vacinação e aposta em tratamentos ineficazes contra a doença.
Novos ataques
O presidente também voltou a atacar o ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmando que ele é "contra a democracia".
"Por que um ministro do Supremo Tribunal Federal vai para dentro do Congresso conversar com lideranças e várias delas trocam os integrantes de comissão. Qual é o poder de convencimento de Barroso?", questionou.
Bolsonaro se referia à proposta de voto impresso que tramita em uma comissão da Câmara e, provavelmente, será derrotada. O tema é caro ao bolsonarismo, com o presidente insistindo que o sistema eleitoral atual, pelo qual ele mesmo se elege há anos, não é seguro.
“Não podemos admitir que as mesmas pessoas que tiraram Lula e o tornaram elegível vão ser as pessoas que vão contar os nossos votos em um quarto escuro no TSE”, disse ele. Pesquisas de diversos institutos têm mostrado o ex-presidente Lula à frente de Bolsonaro nas intenções de voto nesse momento, a mais de um ano de pleito.
Consumo virtual de atividades culturais cresce na pandemia
Os brasileiros aumentaram o consumo de atividades culturais no ambiente on-line durante a pandemia e pretendem manter o hábito mesmo depois da volta à normalidade presencial, aponta a pesquisa Hábitos Culturais II, realizada em conjunto pelo Itaú Cultural e pelo Datafolha. Divulgado na manhã desta quinta-feira (22), o levantamento mostra que apresentações de música, teatro e dança e podcasts experimentam crescimento de público on-line, enquanto que o acesso a webinares e as visitas a museus e exposições perdem terreno em 2021.
De acordo com a pesquisa, que ouviu 2.276 indivíduos em todo o país, entre os dias 10 de maio e 9 de junho, o aumento de consumo de cultura no ambiente virtual ocorreu no momento em que os brasileiros passaram a ficar mais conectados à internet. O levantamento aponta que 76% dos entrevistados passaram a se conectar todos os dias, em contraponto ao ano de 2020, quando índice era de 71%. Interessante dizer que cada ponto percentual representa cerca de 1,5 milhão de pessoas.
O consumo de apresentações artísticas de teatro, dança e música dobrou de 2020 para cá. No ano passado, 20% dos indivíduos disseram que consumiam este tipo de atividade no ambiente on-line, já em 2021 esse índice subiu para 40%. Ou seja, significa que houve um aumento de 30 milhões para 60 milhões de pessoas que vivenciaram esta experiência.
"É um dado bem expressivo. É um número bastante relevante e que responde ao que o mundo cultural e artístico fizeram com ainda mais intensidade, de setembro até o comecinho de junho. O quanto essa intensidade de produção reverberou no público", enaltece Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
De acordo com os dados, 80% dos que assistiram a apresentações de teatro, música e dança nesse ambiente pretendem seguir com a prática mesmo após a volta à normalidade. O índice é o mesmo declarado para aulas ou oficinas de arte. Já entre os espectadores de apresentações infantis, o índice é de 81%, semelhante aos 82% declarados pelos habitués de seminários nas redes.
Saron destaca que a pesquisa é importante porque joga luz sobre os desafios que estão por vir. "Claro que queremos o contato físico que virá com a imunidade coletiva, a partir da vacina. Nós queremos voltar, precisamos do contato físico. Mas o desejo é continuar acompanhando as atividades virtuais. Quase 80% das pessoas disseram querem permanecer realizando atividades culturais por meio remoto. Então o digital veio pra ficar. O mundo da cultura precisa estar pronto para receber as pessoas", defende.
Mais podcasts, músicas e jogos eletrônicos
Outra atividade que teve forte crescimento durante a pandemia foi a audição de podcasts. Em 2020, 24% dos entrevistados informaram que acessavam plataformas do gênero. Este ano, o índice subiu para 39%, um salto de 15 pontos percentuais.
O consumo de jogos eletrônicos também apresentou aumento, com salto de 32% para 43% no percentual de entrevistados que realizaram a atividade, no comparativo entre 2020 e 2021. O consumo de música on-line foi outro que ganhou novos adeptos (de 74% para 79%), bem como o consumo de filmes e séries, que saiu de 68% para 75% dos entrevistados.
Os cursos livres (de 35% para 41%) e a leitura de livros digitais (de 36% para 40%) também ganharam espaço no consumo on-line. Os espetáculos infantis, por outro lado, se mantiveram estáveis (23%). “Instituições, corpos estáveis, grupos artísticos e uma legião de profissionais da área criaram um ambiente mais leve para estes tempos tão duros”, completa Saron.
Quedas
A pesquisa Itaú Cultural/DataFolha aponta, entretanto, que nem todas as atividades ganharam força on-line durante a pandemia. Os webinares, que estouraram logo no início do distanciamento social, perderam terreno. Em 2020, 30% dos entrevistados praticavam a atividade. Em 2021, o índice caiu para 23%.
As visitas on-line a exposições e museus também recuaram. No levantamento realizado em 2020, 16% diziam realizar este tipo de atividade. No levantamento atual o índice encolheu para 11%.
É menor o índice de continuidade da prática no caso das exposições e museus (67%). Registraram patamares equivalentes, estatisticamente, visitas virtuais a centros culturais (78%), oficinas de criação para crianças (75%) e visitas guiadas a projetos artísticos (76%).
Esta edição procurou investigar, ainda, outras atividades não mensuradas na versão anterior da pesquisa. De acordo com o levantamento, o índice de consumo virtual de seminários ficou em 24%, seguido por aulas ou oficinas de arte (21%), visitas a centros culturais (15%), oficinas de criação para crianças (15%) e projetos artísticos (12%).
Democratizaçnao do acesso
Outro dado levantado pela pesquisa mostra que as atividades on-line ampliaram o acesso e aumentaram o interesse do público para a cultura. De acordo com o levantamento, 72% informaram que as atividades on-line permitiram acesso a atividades culturais que, de outra forma, não seriam experimentadas. Na pesquisa anterior, realizada em 2020, o índice tinha sido de 67%.
O conteúdo on-line ampliou o acesso especialmente entre os jovens de 16 a 24 anos onde a concordância com a afirmativa foi de 79%. Os que se dizem menos impactados foram os indivíduos entre 45 e 65 anos, que apontaram taxa de concordância de 69%.
O interesse por atividades culturais também aumentou graças à oferta de conteúdos on-line. Os mais impactados foram os indivíduos entre 16 e 24 onde a concordância com a afirmativa foi de 64%. O estrato da Classe C registrou 59% de concordância com o benefício.
Medidas preventivas são pouco adotadas por crianças, aponta estudo
Menos da metade das crianças com idade entre 7 e 11 anos que vivem em comunidades vulneráveis e estão matriculadas na rede pública de ensino disseram adotar quatro das principais medidas preventivas à covid-19. A constatação é da pesquisa A Voz dos Alunos, divulgada hoje (16) pela ONG Visão Mundial em nove estados e 15 municípios.
O levantamento, feito entre março e abril deste ano, aponta também que 8% das crianças ouvidas dizem conviver com conflitos familiares, e que isso prejudica os estudos. A maior incidência dos problemas foi observada entre crianças negras.
Com relação à adoção das quatro medidas de prevenção citadas na pesquisa - aplicação de distanciamento social, uso de máscara, utilização de álcool gel e utilização de produtos de limpeza - apenas 40% relataram adotá-las. Outras 28% declararam adotar apenas uma das medidas de prevenção.
A ONG explica que, “diante de toda essa crise imposta pela pandemia, as crianças ainda não haviam sido ouvidas, apesar de serem prejudicadas de distintas formas”, e que, por esse motivo, é preciso escutar esse grupo, a fim de melhor entender quais foram as ferramentas encontradas por elas para superarem esse momento, como se sentem longe da escola e como seu tempo é ocupado durante esse período.
“Escutá-las nos dará uma dimensão sobre o impacto da pandemia e ajudará os governos a elaborarem as estratégias necessárias para apoiá-las”, avalia o coordenador de Advocacy da Visão Mundial, Reginaldo Silva.
De acordo com a organização, 688 crianças foram ouvidas. Com relação às dificuldades enfrentadas por elas durante a pandemia, cerca de 58% relataram que têm dificuldade de acessar a internet para assistir às aulas, e 34% disseram enfrentar problemas com relação a materiais escolares.
Sobre o retorno às aulas presenciais, 45% delas disseram ter preocupações com o risco de serem contaminadas pelo novo coronavírus, bem como em não conseguir acompanhar os conteúdos apresentados pela escola.
“Dentre as crianças ouvidas, cerca de 60% relataram que necessitam do apoio da escola para proteção pessoal contra uma possível contaminação com o vírus e necessitam de materiais escolares para uso diário”, aponta o levantamento. Outro dado preocupante é o pouco acesso que as famílias têm a produtos de limpeza e higiene.
Subsídios
Diante desse cenário, e visando um futuro melhor para essas crianças, a ONG ressalta a necessidade de mais investimentos na educação, além de canais que possibilitem dar voz a esse público, para que se manifeste.
Segundo de Advocacy da ONG Visão Mundial, Reginaldo Silva, é preciso “criar ferramentas que deem subsídios para que elas [as crianças] possam assumir protagonismo na transformação das suas realidades e de suas comunidades”.
“Esse processo começa escutando cada uma delas e garantindo que as mesmas tenham acesso à Educação de qualidade”, complementa o coordenador da Visão Mundial.
“O estudo mostra que professores e professoras estão trabalhando bastante na pandemia e que a maioria das crianças recebeu acompanhamento durante as aulas remotas, apesar de todas as dificuldades. Mesmo com toda essa dedicação, nossa recomendação é que professoras e professores intensifiquem o acompanhamento das crianças, para buscar garantir que não aumente a evasão escolar e para que as crianças voltem a se reconhecerem dentro ambiente da escola. É urgente garantir condições de saúde, segurança e de prevenção contra o coronavírus, e isso inclui a disponibilização de itens de higiene e limpeza, o distanciamento social e o uso adequado de máscaras.”
O levantamento foi feito nas seguintes cidades: Anori (AM), Boa Vista (RR), Camaçari (BA), Caraúbas (RN), Contagem (MG), Fortaleza (CE), Jaboatão dos Guararapes (PE), Manacapuru (AM), Manaus (AM), Nova Iguaçu (RJ), Olinda (PE), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Luís (MA).
Vítimas da pandemia no Brasil tiveram vida reduzida em 18 anos em média
Um estudo internacional divulgado pelo Fantástico, da TV Globo, mostra que, em média, cada vítima da pandemia teve a vida reduzida em 18 anos. Ao total, um de cada 425 brasileiros morreu de covid-19 desde o ano passado.
Neste domingo o país atingiu a marca de 500 mil vítimas da doença. O Brasil é o segundo lugar com mais mortes, atrás apenas dos Estados Unidos.
Unidades da Justiça da Bahia seguem com trabalho interno até 18 de junho
O Poder Judiciário da Bahia anunciou a manutenção, até o dia 18 de junho, do funcionamento das unidades judiciais e administrativas limitado à realização de trabalho interno.
A prorrogação foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico desta segunda-feira (14), por meio de decreto.
O atendimento às partes, advogados, Defensores Públicos e membros do Ministério Público ocorrerá através do Balcão Virtual e da Central de Agendamento.
Baixa dos Sapateiros: 40% das lojas fecharam por causa da pandemia
A Baixa dos Sapateiros, que ao longo dos anos vinha perdendo o posto como uma das principais regiões de comércio de rua e popular de Salvador, amarga dias ainda mais difíceis com a pandemia. De acordo com a Associação dos Lojistas da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha (Albasa), das 360 lojas locais, aproximadamente 40% fecharam as portas.
Para o vice-presidente da Albasa, Rui Barbosa, o principal problema começou em 2014, com a reestruturação das linhas de ônibus na cidade. “A Lapa ficou hoje com 107 linhas, além do metrô, e nós ficamos só com 10. É uma deslealdade com a Baixa dos Sapateiros. Aí o cliente não chega”, pontua. A reclamação é comum entre os lojistas, que dizem precisar pegar dois ônibus e o metrô para chegar ao trabalho e, por vezes, ainda caminhar cerca de 1km.
O vice-presidente explica que a pandemia veio para piorar ainda mais o cenário e que, apesar de mais de um ano depois, as coisas ainda não voltaram ao normal. “É como se a gente tivesse saído da UTI para a enfermaria. Tem muita gente com dívidas, devendo impostos. Tem FGTS, INSS, IPTU, ICMS. As contas continuam chegando e não temos nenhum auxílio. É, no máximo, a possibilidade de jogar o problema para frente. Só Deus mesmo na vida do comerciante para suportar uma situação dessas”, ressalta Barbosa.
“Nós esperamos que melhore, já que foi inaugurada a Barroquinha, o Mercado São Miguel e vai ter obra no Aquidabã. São mais de 180 anos de existência. É um comércio importante e tradicional que não pode morrer”, finaliza.
Obstáculos da pandemia
Carol Souza, de 37 anos, montou uma loja de cosméticos há cerca de dois anos na Baixa dos Sapateiros, mas, ainda no começo da pandemia, foi forçada a fechar as portas. “Com as restrições, a gente teve que fechar a loja por quatro meses e aí não aguentei. Era a única loja de cosméticos daqui”, conta.
Mas outro fator que contribuiu para o fechamento foram os assaltos constantes na porta da loja. Segundo os comerciantes, a concentração desse tipo de crime fica nas proximidades do Pelourinho. “Era todo dia e, principalmente, com turistas. Os meninos saíam do beco e levavam as correntinhas. Recentemente eles colocaram a polícia para rondar ali, aí até melhorou, mas não resolveu”, diz Carol.
Com o fim da sua loja de cosméticos, Carol foi trabalhar na loja do marido, a Casa do Bebê, que vende roupas e artigos para bebês. Ela fica na outra extremidade da Baixa dos Sapateiros, que diz ser “mais tranquila”. Por lá, a saída para a crise foram as vendas online. “A gente começou a vender pela internet. Graças a Deus, conseguimos manter todos os funcionários, mas por aqui é exceção isso. Muita gente foi demitida, principalmente aqueles com carteira assinada e contrato”, coloca.
“Aqui em frente você já tem umas cinco lojas fechadas; andando mais um pouco já soma umas 10. Até lá na Barroquinha já tem um monte. Essa loja aqui do lado já tem três anos que ninguém aluga. O movimento não é mais o mesmo há um tempo já. Reformaram a calçada, colocaram um certo policiamento, mas o cliente mesmo não vem. Isso aqui precisa se tornar atrativo, precisa ser divulgado”, acrescenta a gerente.
Já para a loja de produtos de cama, mesa e banho, A Sergipana, de sete anos de existência, a pandemia teve ainda mais impacto. A proprietária, Rita Maria, de 46 anos, precisou demitir os dois funcionários que tinha. “Agora é só meu marido e meus filhos me ajudando. A gente criou dívidas porque é muita coisa para pagar e pouco cliente para comprar. “Fica cada dia mais difícil e tem muita loja fechando, seja pequena ou grande. A Baixa dos Sapateiros está morrendo aos poucos”, destaca.
Decaindo aos poucos
Luciene Oliveira, de 55 anos, começou a trabalhar na Baixa dos Sapateiros ainda aos 18. “Comecei no Centro Comercial Santa Bárbara, com uma loja de moda masculina. Foi um sucesso aqui até 1996. Depois, foi caindo aos poucos e o movimento foi diminuindo cada vez mais”, conta.
Segundo ela, a piora começou no final dos anos 1990, quando os camelôs passaram a não ser mais bem-vindos no local. “Antes, aqui tinha camelô. Era um pouco de bagunça, mas ajudava muito no movimento. Depois que a prefeitura tirou eles, isso aqui enfraqueceu”, diz Luciene.
Hoje ela tem sua loja de variedades ainda na Baixa dos Sapateiros, a Lu Embalagens, mas isso é motivo de animação. “Eu até troquei de ponto e vim para esse, que fica mais visível, mas a pandemia foi um baque grande, é muita conta para pagar. E olha que não tem funcionário; aqui é meu filho e minha sobrinha comigo me dando suporte. Mas os poucos clientes que chegam ainda pedem desconto. O lucro já é pouco. Aqui na minha eu pego menos de 30% às vezes e já vi especialista dizendo que não é certo”, explica a lojista.
Paulo Silva, de 66 anos, é proprietário da Street Wear, loja de roupas masculinas há 25 anos. Para ele, os anos fizeram muito mal para a Baixa dos Sapateiros e a situação atual é lamentável. “Isso aqui piorou muito nesses anos todos. Nem tinha violência e agora alguns lojistas até se reúnem para bancar uma empresa de segurança particular. O transporte foi o pico da piora. Eu tenho muitos clientes antigos que deixaram de vir. Aí o resultado é loja fechando”, diz ele, que já chegou a ter quatro funcionários e, agora mantém apenas um.
Paulo faz uma avaliação do que vem acontecendo com o local. “Por aqui, a gente tem mesmo clientes de mais idade. Os mais jovens só querem saber dos shoppings, que é cheio de atrativos. Aí o comércio de rua fica em segundo plano”, opina.
Sobre o problema trazido pela Albasa e pelos comerciantes a respeito da insuficiência do transporte público para a Baixa dos Sapateiros, a Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob) disse, em nota, que algumas linhas foram substituídas, mas o serviço não deixou de ser oferecido à população.
Segundo a secretaria, no novo Terminal da Barroquinha, entregue recentemente totalmente requalificado, os usuários contam com 10 linhas e cerca de 50 ônibus por hora, favorecendo bairros como Paripe, Pirajá, Acesso Norte, Pau da Lima, São Marcos, Vale das Pedrinhas, Fazenda Grande, Parque São Cristóvão, entre outros. Além do atendimento de linhas que passam pela Baixa dos Sapateiros, Terminal de Aquidabã, e Campo da Pólvora.
“Também é possível realizar a integração com ônibus ou metrô na estação da Lapa ou no Terminal Acesso Norte, de onde saem ônibus com intervalos de aproximadamente 10 minutos para a região da Baixa dos Sapateiros”, diz a nota.
Quanto ao problema da falta de segurança, em nota, a Polícia Militar informou que, de acordo com o 18º Batalhão de Polícia Militar (BPM/Centro Histórico), o policiamento na Baixa dos Sapateiros é realizado diuturnamente por guarnições motorizadas e policiamento a pé, que fazem rondas ostensivas preventivas.
"Além do policiamento ordinário, a unidade dispõe de guarnições de motociclistas e da Companhia de Emprego Tático Ostensivo (CETO), que se sobrepõem ao policiamento do setor, de acordo com a mancha criminal. O Batalhão tem intensificado o policiamento, com vistas a coibir ações delituosas de quaisquer naturezas, contando com o reforço e o apoio da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT) RONDESP BTS, que realiza constantes ações preventivas e repressivas na localidade", informou a PM.
A PM destacou ainda que o 18º BPM tem um diálogo permanente com gestores da Albasa e está de portas abertas para a comunidade da região. "É importante salientar ainda que o cidadão deve registrar as ocorrências na delegacia, pois a PM trabalha a partir dos dados estatísticos de cada área. Além de ligar para o Disque Denúncia, 3235-0000, para informar dados sobre qualquer crime que aconteça nos bairros", reforça a corporação.
'Medo que julho tenha uma tragédia pior que março', diz Rui sobre pandemia
O governador Rui Costa demonstrou preocupação com a situação da Bahia no próximo mês, por conta do cenário atual e pensando no período pós-São João. "Estamos com medo que o começo de julho tenha uma tragédia pior do que o mês de março", afirmou Rui, que participou nesta quinta-feira (10) de uma inauguração de policlínica em Eunápolis, no sul da Bahia.
A situação agora também exige cautela, diz. "Estamos muito preocupados agora. Chegamos em março a 20 mil contaminados, e o que aconteceu em março? Uma tragédia", afirma. "Qual a diferença do mês de fevereiro e março para agora? Tínhamos leitos vazios na Bahia inteira, e nós tínhamos capacidade para absorver a multidão que chegou aos hospitais", considerou.
Agora, há menos leitos vazios. "Se as festas de São João provocarem uma avalanche de pessoas nos hospitais, só temos 15% de leitos disponíveis", acrescenta. "Se não conseguirmos regular em até 24h, está comprovado que a taxa de mortalidade aumenta".
Rui disse que se isso vai acontecer ou não, "depende do comportamento das pessoas" durante o período junino. "Já vimos que até pequenas aglomerações como no Dia das Mães afeta nos índices", explicou.
Por isso, ele pediu à população que colabore evitando aglomerações. Também criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo ritmo de vacinação no país. "Quero pedir ajuda de vocês porque ninguem faz nada sozinho. Precisamos da ajuda e consciência da população. Se dependesse de nós, o povo já estaria vacinado, mas não estamos porque o presidente não comprou vacina e nós temos que superar esse momento agora".
Sem ônibus no São João
Rui já anunciou em maio que durante o período junino a Bahia ficará sem ônibus intermunicipais, para desestimular festas e aglomerações. "Alguns dias antes do São João, vamos proibir a colocação de horários extras e estipular a lotação máxima dos ônibus de 70%. Nos dias mais próximos ao São João, três dias antes e depois, nós vamos suspender totalmente o transporte. Então, funcionará dessa forma para não prejudicar quem precisa fazer uma viagem por necessidade de saúde ou de trabalho, sem estimular que as pessoas se locomovam com a intenção de se aglomerarem em festas e reuniões vinculadas ao período das festas juninas”, disse.
Para ele, falta sensibilidade em quem insiste na festa. "Independente da cidade e da região, digo que nós não permitiremos qualquer festa no São João. Não entendo a falta de sensibilidade das pessoas porque fazer qualquer festa nessa situação é um desrespeito a vida humana", afirmou o governador.
Orla da Barra voltará a ter barreiras após aglomerações
Após um fim de semana com aglomeração na Orla de Salvador, a prefeitura anunciou que vai colocar barreiras na região da Barra para controlar o uso de máscaras. O CORREIO revelou que no sábado (22) muitas pessoas faziam caminhadas e exercícios físicos sem o equipamento de proteção.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (24), o prefeito Bruno Reis disse que é difícil que as pessoas fiquem em casa após tanto tempo de pandemia, mas é necessário que elas mantenham os cuidados. “É difícil, depois de tanto tempo, e ainda mais em um final de semana ensolarado, e diante de exemplos que estamos vendo em outras cidades e até mesmo de autoridades, consegui conversar as pessoas a ficarem em casa. Vamos voltar a colocar na orla os totens, que fiscalizam e permitem a entrada apenas de pessoas com máscara e fazer a higienização com álcool em gel, mas precisamos da conscientização das pessoas”, disse.
Atividades coletivas também estão proibidas para evitar tumultos. O prefeito afirmou que as equipes não conseguem fiscalizar toda a cidade ao mesmo tempo, e pediu a colaboração da população. Ele citou como exemplo a desmobilização de pessoas que estavam aglomeradas atrás do Farol da Barra para ver o pôr do sol. Depois que a Guarda Municipal saiu para atender outra ocorrência, as pessoas retornaram e voltaram a se aglomerar.
Final de semana termina com UTIs e ruas lotadas
Entre o Porto e o Farol, o caminho estava tão cheio na manhã do último domingo (23) que era preciso desviar de ciclistas e corredores - quase nunca com máscaras, que estão quase sempre sob o queixo. As praias estavam fechadas, mas, segundo moradores, uma corrida foi realizada logo no início do dia.
Na área do Porto da Barra, mais de 30 pessoas deram as mãos, também sem máscara, antes de uma competição de triatlo. Num bar próximo, homens, mulheres e crianças interagiam livremente.