Onze meses depois da liberação da prefeitura para a realização de aulas semipresenciais, as faculdades particulares de Salvador ainda preferem se manter no ensino remoto. Apenas a Faculdade Baiana de Direito e Gestão, no Costa Azul, que tem carga horária 100% teórica, voltou a receber os alunos presencialmente nas salas de aula, desde 30 de agosto.
As outras, como Unime, UniFACS, UniFTC, Ucsal, e o Senai Cimatec rejeitam o modelo semipresencial. Ele só é adotado para as atividades práticas. As outras disciplinas, que não precisam de laboratório, continuam mediadas por tecnologia. Algumas universidades não têm sequer previsão de quando ocorrerá o retorno completo de todas as matérias, como a Faculdade 2 de Julho e a Unijorge.
Legalmente, as instituições de ensino superior da capital baiana já estão autorizadas desde outubro de 2020 a funcionarem na modalidade híbrida, desde que seguissem os protocolos sanitários exigidos pela prefeitura. Porém, caberia a cada uma definir quando e como ocorreria esse retorno. A maioria preferiu manter-se no on-line. Desde o início da pandemia, quase 200 professores foram demitidos, as reclamações cresceram mais de 1300% no Ministério Público da Bahia (MP-BA) e os salários reduziram até 90%.
Segundo o sindicato, as instituições de ensino privadas só não retornaram por resistência dos alunos. “As instituições já estão autorizadas há muito tempo, mas o que está havendo é resistência dos estudantes em terem aula presencial. A probabilidade de voltar ao ensino presencial como antes da pandemia é remotíssima, porque 65% dos alunos não têm mais interesse no modelo anterior”, declara o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino Superior da Bahia (Semesb), Carlos Joel, citando uma pesquisa nacional, feita pela Associação Brasileiras de Mantenedores de Ensino Superior (ABMES).
Segundo Joel, a probabilidade é que o modelo híbrido se mantenha mesmo após a pandemia do novo coronavírus, a partir da lógica de as aulas teóricas serem de forma remota e as práticas de maneira presencial. “Ninguém tem resposta definitiva, mas estamos estudando novas metodologias para que o ensino seja mais interativo e não tenha necessidade de as pessoas estarem se deslocando”, argumenta Joel.
Ele ainda diz que o curso de Direito, por exemplo, não precisa mais ser presencial, visto que até as audiências judiciais são feitas remotamente.
“Não há lógica de trabalhar esse modelo e ter um aglomerado de pessoas na sala de aula, porque a vacinação não está demonstrando que é suficiente para inibir as pessoas que tenham covid. Então não queremos trazer para gente a responsabilidade de algum aluno ser contaminado e termos problema”, justifica.
Alunos prejudicados
Ao contrário do que diz o Semesb, os estudantes ouvidos pelo CORREIO querem retorno das aulas. Eles se sentem prejudicados pelos estudos remotos. Morador do Bairro da Paz, Alonso Andrade, 20, está no 1º semestre de enfermagem na Unime.
“Gostaria muito de ter o presencial, porque o ensino virtual é mais complicado, tem zoada em casa e a internet às vezes não pega bem”, relata.
O mesmo acontece com Marisa Moreno, 24. Ela acha que seu desenvolvimento nas aulas tem caído, com o formato on-line. “A interação com os colegas e meu desenvolvimento caíram mais em algumas áreas. Não conseguia focar muito, desenvolver os trabalhos como queria e tirar todas as dúvidas”, relata a estudante, que cursa arquitetura e urbanismo na Unime, em Lauro de Freitas, e mora em Camaçari, ambos na Região Metropolitana de Salvador. Em parte, o ensino remoto foi positivo para ela, pois evitou deslocamento entre cidades.
Primeira a retornar com aulas teóricas semipresenciais
Na Baiana de Direito, as aulas acontecem de forma escalonada e com 50% da turma. Uma primeira metade frequenta a faculdade às segundas, quartas e sextas e, na semana seguinte, às terças e quintas. Na outra semana, isso se inverte, como nos protocolos da rede municipal e estadual de ensino.
De acordo com diretora acadêmica da Baiana, Ana Carolina Mascarenhas, a faculdade elaborou um plano de ação com protocolos rígidos para a prevenção da covid-19. “O protocolo contém medidas de prevenção, controle e diminuição dos riscos de transmissão no âmbito coletivo e individual, como ações para identificação precoce e afastamento de pessoas com sinais e sintomas, além de estratégias de afastamento, identificação e orientação para pessoas pertencentes a grupos de risco”, enumera Ana Carolina.
A Baiana é a primeira faculdade de Salvador a retornar com as aulas teóricas no formato semipresencial. Assim como o Senai, ela não obriga os alunos a voltarem, se não se sentirem preparados. Metade deles quis retornar.
“Com o avanço da vacinação e os números da pandemia reduzindo, percebemos que era o momento de voltar, seguindo todos os protocolos. Acreditamos que estar em ambiente de sala de aula é importante para a formação do aluno e era um desejo da nossa comunidade voltar”, acrescenta a diretora.
Todos os funcionários e professores receberam a duas doses da vacina contra covid-19.
Maior aceitação
No Senai Cimatec, poucos alunos optaram pelo ensino híbrido no início do semestre. Porém, esse cenário mudou após o início do semestre. “A gente percebe um povoamento maior de pessoas, porque os alunos se sentem mais seguros, até pelo aumento da vacinação entre os jovens. Quem não se sentir confortável, pode continuar assistindo às aulas remotamente, não vamos obrigar ninguém a retornar”, explica o pró-reitor de graduação, Rafael Bezerra, sem precisar qual percentual de alunos teria retornado.
As matérias de menor carga horária e/ou teóricas são as que permanecem com aulas virtuais. De acordo com Bezerra, os investimentos para adaptar as salas ao modelo híbrido foi alto. Dentre os novos aparelhos, estão as mesas de som, microfones, projetores interativos, mesas digitalizadoras e câmeras 4k.
“Tivemos que readequar nossas infraestruturas para respeitar o distanciamento e agora temos dois níveis de tratamento no sistema de ar condicionado, com infravermelho, que extermina os vírus da covid-19, além da implantação de equipamentos para transmissão simultânea das aulas”, conta o pró-reitor.
Retorno indefinido ou só em 2022
A Universidade Católica de Salvador (Ucsal) e o Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge) preferem continuar no ensino remoto até o final do ano. Segundo a Ucsal, foi feita uma pesquisa com a comunidade acadêmica, no final de julho, sobre o retorno presencial neste semestre e 74% optaram por manter as aulas remotas. Alguns cursos, no entanto, estão com reposições de disciplinas presenciais desde o início de 2021, assim como na Unijorge.
“No momento, estão sendo realizadas de forma presencial somente as aulas práticas para os cursos de graduação presencial e semipresencial e os estágios supervisionados. Estamos acompanhando a evolução do cenário da pandemia e a definições do MEC e do poder público, para definirmos quando será feito o retorno das aulas presenciais”, esclarece a Unijorge, por meio de nota.
A Faculdade Bahiana de Medicina e Saúde Pública retornou com as aulas, mas pela modalidade remota há cerca de um mês e meio. Não há previsão para o semipresencial, exceto algumas disciplinas que adotam esse modelo para atividades práticas, como as de internato. A 2 de Julho informou que o mais provável é que as aulas in loco voltem somente em 2022.
Na Universidade Salvador (Unifacs) e a UniFTC, o retorno ocorre de forma gradual, prioritariamente, para as disciplinas práticas e de estágio, que já ocorreram presencialmente desde 2020. “Conforme o semestre avançar - e a partir do acompanhamento dos índices epidemiológicos da cidade -, há possibilidade de retorno faseado também de disciplinas teóricas, respeitando as métricas de isolamento social definidas pelos protocolos de segurança vigentes”, respondeu a Unifacs, por meio de nota. Os alunos que desejaram prosseguir com o ensino remoto estão autorizados, segundo a Unifacs.
Procuradas, a Unime, Unopar, Pitágoras, Faculdade Batista Brasileira (FBB), UniRuy e Área 1, que tiveram mais duas semanas para enviar resposta, não se pronunciaram até o fechamento da matéria.