Após mais da metade do período de campanha, em Salvador, apenas 4,8% do público-alvo para a vacinação contra o sarampo receberam o imunizante, o que corresponde a 10.144 das crianças de 6 meses a menores de 5 anos. Os baixos números acontecem em todo o estado. De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), apenas 11,7% das crianças baianas foram imunizadas na campanha nacional que teve início no dia 4 de abril e vai até 3 de junho. A baixa adesão, somada ao surgimento de casos suspeitos da doença, vem preocupando autoridades.
Após um surto de sarampo em 2019, a Bahia não registra casos da doença desde 2020. Mas, em 2022, até agora, já são 52 casos suspeitos. Desses, 27 foram descartados e 25 seguem em investigação. O sarampo é extremamente contagioso e chega a ser seis vezes mais transmissível que a covid-19. A doença pode levar à óbito, principalmente, crianças com menos de 5 anos. Em 2022, já há casos confirmados da doença ao menos em São Paulo e no Amapá.
A técnica de vigilância epidemiológica da Sesab, Adriana Dourado, alerta para a queda da cobertura vacinal no estado. Segundo ela, em 2019, o percentual foi de 84,75%; em 2020, de 78,48% e, em 2021, o percentual caiu para 62,31%. Até agora, em 2022, a taxa está em 17,45%.
“São números muito baixos, o ideal era ao menos 95%. Isso preocupa porque, com níveis baixos, a partir do momento da entrada do vírus no território, fatalmente vamos conviver com um surto”, coloca.
A secretaria de Salvador também fez um alerta em relação à baixa cobertura vacinal contra o sarampo. Na capital, em 2019, a cobertura ficou em 71, 92%. No ano seguinte, em 68, 20%. Em 2021, uma queda acentuada para 24,11%. Com a campanha nacional em 2022, iniciada no dia 4 de abril, não somente a vacinação de crianças teve baixa adesão na capital.
Os profissionais de saúde de até 59 anos também podem se vacinar, mas, por enquanto, apenas 23.153 deles se vacinaram, o que corresponde a 16,24%. Na Bahia, o percentual de vacinação dos profissionais de saúde na campanha está em 21,05%, representando 78.815 pessoas. Vale ressaltar que, para as crianças, a vacinação está sendo aplicada como um reforço, ou seja, mesmo aqueles que já se vacinaram devem ir aos postos novamente.
De acordo com a coordenadora de imunização da Secretaria Municipal da Saúde, Doiane Lemos, a vacinação é a melhor forma de se proteger contra a doença. A gestora convoca pais e responsáveis a comparecerem aos postos de saúde para atualizar a situação vacinal das crianças.
“Uma cobertura vacinal favorável é de suma importância para quebrar a cadeia de transmissão e evitar que o vírus circule em nossa cidade. Infelizmente, ainda temos uma adesão muito baixa à estratégia e isso nos preocupa ainda mais. É necessário que pais e responsáveis levem as crianças até os postos de saúde para regularizar a situação vacinal dos pequenos”, explicou.
Os casos em investigação
Os 25 casos de sarampo em investigação na Bahia estão distribuídos entre os municípios de Lauro de Freitas, Camaçari, Água Fria, Ipiaú, Alagoinhas, Aporá, Barreiras, Caculé, Castro Alves, Correntina, Ibotirama, Irecê, Taperoá e Vera Cruz. Segundo a Sesab, os casos estão sendo monitorados e, a partir de uma confirmação, o estado entrará em nível 1 de alerta de acordo com o Plano de Contingência do Sarampo.
Em Vitória da Conquista, há três casos em investigação. Ao todo, já são 14 suspeitos no município, sendo 11 descartados. A vigilância epidemiológica do município emitiu um alerta para as unidades de saúde e tem reforçado a recomendação para que os profissionais de saúde e a população estejam em total alerta para qualquer caso suspeito de doença exantemática febril, relacionadas à erupções na pele.
“Estamos aguardando o resultado dos outros três. Já fizemos o inquérito de bloqueio vacinal no território, ou seja, vacinamos as pessoas que tiveram contato com os suspeitos”, diz Ana Maria Ferraz, diretora de Vigilância em Saúde do município. O órgão atribui o aumento à retomada do convívio escolar e à baixa vacinação contra a doença. Em 2021, a cobertura vacinal contra a doença no município foi de 63,29%. Neste ano, a cobertura está em 10,71%.
Os três casos estão em investigação em Vitória da Conquista ainda não entraram para o somatório total de 52 casos do estado feito pela Sesab. De acordo com a secretaria, os três devem ser adicionados ao sistema ainda esta semana, assim como casos de outros municípios que foram identificados durante a mobilização e busca ativa em curso.
Em Taperoá, também há três casos em investigação com resultado de primeira amostra de sorologia reagente (positivo) para sarampo. “Para os três serão coletadas segundas amostras de sorologia para avaliar a produção de anticorpos e será processada PCR pelo Laboratório de Referência Nacional da Fiocruz, no Rio de Janeiro”, informa Adriana Dourado.
A técnica de vigilância epidemiológica da Sesab explica os casos já descartados. “Primeiro são feitos testes de sorologia e, dando positivo, o de PCR. Tivemos alguns municípios com casos suspeitos que tiveram resultados preliminares de sorologia reagentes para sarampo. Imaginamos que são de uma reação cruzada entre vírus, ou seja, quando uma pessoa está infectada com outro vírus, como o da dengue ou da síndrome mão-pé-boca, e ele dá um falso resultado reagente ao ser cruzado com o vírus do sarampo”, diz.
Será a volta do sarampo?
O Brasil implantou, em 1992, o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo e conseguiu alcançar, em 2016, o certificado da Organização Panamericana de Saúde (Opas). Mas houve retrocesso com a reinserção da doença no país em 2018. Na Bahia, foram registrados três casos de sarampo em Ilhéus em 2018 e, em 2019, houve um surto com 80 casos em 25 municípios.
Os últimos casos de sarampo no estado foram registrados em 2020 (7 casos), assim distribuídos: Lauro de Freitas (2), Juazeiro (1), Belo Campo (1) e Paripiranga (2). Em 2021, não foram confirmados casos de sarampo no estado. Nos últimos anos, apesar do surto, de acordo com a Sesab, não foram registrados óbitos pela doença.
O que é sarampo?
De acordo com informações do Ministério da Saúde, o sarampo é uma doença altamente contagiosa causada pelo vírus chamado Morbillivirus, que pode ser muito perigosa, principalmente para as crianças menores de 5 anos, deixando sequelas ou causando óbito. A doença se dissemina pelo ar e a transmissão ocorre de uma pessoa para outra, por meio das secreções do nariz e da boca expelidas ao tossir, respirar, falar ou respirar.
“É uma doença de alta transmissibilidade e alta mortalidade, principalmente entre crianças menores de 5 anos, mas também entre jovens de 20 a 29 anos. O potencial de transmissão do vírus do sarampo é de 1 para 18, ou seja, uma pessoa infectada pode infectar outras 18 pessoas. Numa comparação com a covid-19, por exemplo, a infecção é de 1 para 3”, destaca Adriana Dourado.
Para as crianças, algumas das possíveis complicações são: pneumonia (cerca de 1 a cada 20 crianças com sarampo), otite média aguda (1 em 10 crianças com sarampo e pode resultar em perda auditiva permanente), encefalite aguda (1 em cada 1.000 crianças podem desenvolver essa complicação e 10% destas podem morrer) e morte (entre 1 e 3 a cada 1.000 crianças doentes).
As complicações também podem ocorrer em adultos. A pneumonia é a principal delas. Outro alerta é para as gestantes: mulheres em idade fértil (10 a 49 anos) não vacinadas antes da gravidez podem apresentar parto prematuro e o bebê pode nascer com baixo peso. É importante se vacinar antes da gestação, pois a vacina é contraindicada durante a gestação.
A única proteção eficaz contra o sarampo é a vacinação, para interromper a cadeia de transmissão do vírus e erradicar a doença. Os tipos de vacina são: Dupla viral - Protege do vírus do sarampo e da rubéola. Pode ser utilizada para o bloqueio vacinal em situação de surto; Tríplice viral - Protege do vírus do sarampo, caxumba e rubéola; Tetra viral - Protege do vírus do sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora).
Segundo a técnica de vigilância epidemiológica da Sesab, as crianças recebem a primeira dose com 1 ano e a segunda aos 15 meses. “O ideal é que as pessoas até 29 anos tenham duas doses. Dos 30 aos 59, devem ter ao menos uma dose. Quanto aos idosos, é preciso que cada caso seja avaliado por um médico”, diz. Vale ressaltar que, se a pessoa não recebeu a dose na infância, pode e deve procurar um posto de saúde. Quem já teve sarampo e não se vacinou também deve se vacinar.
Sintomas:
Febre acompanhada de tosse
Irritação nos olhos
Nariz escorrendo ou entupido
Mal-estar intenso
Manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo corpo (aparecem em torno de 3 a 5 dias)