Se o eleitorado baiano fosse uma pessoa, 'ele' seria mulher, solteira, com ensino médio completo e idade adulta na faixa dos 35 a 39 anos. Assim como na última eleição municipal, no pleito deste ano as mulheres continuam sendo a maioria dos eleitores. Entre os mais de 14,9 milhões de moradores da Bahia, 10,8 milhões deles estão aptos a votar, sendo que 5,7 milhões são do gênero feminino, um percentual majoritário de 52,45%, segundo estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Essa taxa, inclusive, cresceu de 2016 para cá. No último pleito, elas eram 52,1%, com 5,5 milhões de votantes mulheres. Este ano, os homens são 47,54%. Cerca de 40,4 mil pessoas preferiram não declarar o gênero e 549 pessoas escolheram usar o nome social.
Professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), o cientista político Cláudio André de Souza observa que, embora seja pequena a diferença entre a taxa de eleitores mulheres e homens — aproximadamente 5% —, ela é suficiente para motivar propostas e discursos direcionados ao público feminino, sobretudo nas médias e grandes cidades do estado.
Souza pontua que esta variável de gênero tem sido uma preocupação dos candidatos por um fator sociológico: “O voto da mulher é tido como o ‘voto da mãe’, que costuma se preocupar mais com questões como a marcação de consultas, com a saúde e a educação dos filhos”, explica. Por conta dessas vivências, propostas como construção de creches, maternidades e unidades de saúde são incluídas nos programas de governo.
“Para esse segmento do eleitorado, mulher, adulta e solteira, podemos nos perguntar: ‘Que tipos de serviços a prefeitura pode oferecer? Podem ser creches, caso ela tenha filhos e precise trabalhar fora e deixá-los sob proteção. Agora, com a pandemia, se a prefeitura põe um posto de saúde perto de onde ela mora, isso é importante. As mulheres estão mais economicamente ativas, buscam trabalhar, então a questão do transporte também é um elemento essencial para elas”, aposta o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.
Solteirões
Quase 65% dos eleitores são solteiros, cerca de 30% são casados, 2,8% são divorciados e 2,5% são viúvos. Considerando o total de votantes, homens e mulheres, a maior fatia do eleitorado é adulta, tem entre 35 e 39 anos — são mais de 1,2 milhão de pessoas com essas idades. A segunda maior fatia é a dos que têm entre 30 e 34 anos, que somam mais de 1,1 milhão. Essas duas faixas etárias somam 22% do eleitorado.
Nos extremos da pirâmide, entre os segmentos que têm votos facultativos, há quase 7 mil votantes com mais de 100 anos e 33,2 mil com 16 anos. A aposentada Raquel Silva, de 90 anos, é uma das aptas a votar, mas já não faz isso desde os 70 anos. “Votei muitas vezes, era sempre a primeira a chegar, mas já estou velha, não preciso mais, ainda mais agora que eu não posso sair de casa, é perigoso, por causa do coronavírus”, conta ela, que tem orientado outras pessoas idosas a justificarem o voto para reduzir os riscos de infecção.
Escolaridade
Quanto ao grau de instrução, a maior parte do eleitorado baiano possui ensino médio completo, são mais de 2,8 milhões de pessoas, o que representa 26,3% do eleitorado. Em seguida, o grau mais frequente é o ensino fundamental incompleto, com mais de 2,5 milhões (23,3%) e depois aqueles que apenas lêem e escrevem, com 1,5 milhão (14%). Entre os registrados no TSE, 54,8 mil têm algum tipo de deficiência, sendo 84% relacionada à locomoção. O tribunal não forneceu dados raciais nem de renda.
Conquista de voto pela internet
Com as limitações impostas pela pandemia, o voto vem sendo disputado pela internet. Em 2018, 8,3 milhões de pessoas usaram internet na Bahia, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. Deste total de usuários, 53,4% eram mulheres e 22,2% tinham entre 30 e 39 anos. No estado, 70% das casas estão conectadas à rede e os usuários mais assíduos têm entre 20 e 24 anos.
Para Ricardo Ismael, a internet será potencializada nessa reta final para conquistar votos, sobretudo dos indecisos. De um lado, estarão os candidatos com as propagandas em redes sociais e, do outro, os eleitores que agora usam mais essas plataformas para pesquisar e tomar suas decisões.
“As pessoas procuram muito se informar sobre política na internet e, claro, tem conversas que nem sempre são amistosas, mas estão discutindo as opções. Eles procuram ver com um amigo, um familiar em quem vão votar. Com a covid-19, a internet se tornou um canal principalmente para saber mais sobre candidatos a vereadores porque a propaganda eleitoral é muito curta. Então, quase todos os políticos hoje estão criando páginas e o eleitor entra nelas para participar dessas discussões”, observa Ismael.
Representatividade
Cláudio André de Souza observa que esses dados gerais de perfil acabam sendo mais utilizados pelos políticos das grandes cidades, como a capital, que é o quarto maior colégio eleitoral do país, enquanto nos pequenos municípios prevalece como estratégia política a relação das famílias e formação de grupos para ocupar as prefeituras. Ainda assim, o pesquisador repara que os partidos, em praticamente todo lugar, estão mais preocupados e mesmo impelidos a lançar candidaturas mais representativas, com negros, mulheres e gente da comunidade LGBTQIA+.
Souza menciona que, no caso específico de Salvador, houve um realinhamento da política neste sentido, visto com as candidaturas de Major Denice (PT) e Olívia Santana (PCdoB) à prefeitura, e de Ana Paula (PDT) e Eleuza Coronel (PSD) à vice-prefeitura. Apesar dessa inclusão de minorias, isso não significa, por exemplo, que eleitoras mulheres vão se identificar automaticamente com candidatas mulheres ou que pessoas negras irão votar em pessoas negras.
“Em Salvador, entradas dessas candidatas seguem essa perspectiva da representatividade, o que faz avançar a democracia porque torna o jogo político mais plural”, completa o pesquisador.