Preço de itens do café da manhã aperta o bolso do consumidor
Começar o dia com um pão quentinho e a manteiga derretendo, acompanhados de um cafezinho, tem o seu lugar. Quer dizer, tinha. Isso porque a alta constante do preço da cesta básica não deu sossego nem para o café da manhã. De acordo com dados mensais da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no último mês, Salvador foi a cidade que registrou o maior aumento no valor da manteiga entre todas as capitais pesquisadas do país, chegando a 9,27%.
A psicóloga Gustavia Varjão, 25 anos, fez mudanças radicais no desjejum. Nem o café escapou: “Compramos pelo preço. O mais barato é o escolhido e também diminuímos a quantidade de colheres para uma garrafa, comparado ao que usávamos habitualmente. Com essas medidas, a diferença no carrinho chegou a R$ 200”, conta.
Salvador também registrou o segundo maior aumento no leite integral, produto que o consumidor está pagando 35,23% a mais. Sobrou até para o nosso pão francês de cada dia, que já acumula uma alta de 28,30% nos últimos 12 meses. E o impacto do desjejum nas alturas tem sido mesmo indigesto para o bolso.
A supervisora técnica regional do Dieese-BA, Ana Georgina Dias, destaca o que mais chama atenção nesse momento é a combinação de fatores, que vão desde a questão da oferta reduzida até o aumento do custo de produção para alguns desses produtos.
No caso do leite e dos seus derivados, por exemplo, a extensão do período de entressafra, devido ao clima seco e à ausência de chuvas, somada ao aumento do custo de medicamentos e alimentação do rebanho fizeram com que o consumidor realmente pensasse duas vezes antes de colocar o produto no carrinho do supermercado.
“Teoricamente, com o fim do período da entressafra até agosto, o preço do leite e dos laticínios já deveria começar a apresentar uma tendência de queda. No entanto, tem a questão do custo da produção mais elevado. Então, a gente já não consegue mais fazer uma estimativa de quando isso ainda vai demorar”, comenta.
Será que há esperança de pagar menos pelo pão ou o café? Mais um prognóstico difícil, ainda de acordo com Georgina. Apesar de nós importarmos o trigo da Argentina, a guerra da Rússia e Ucrânia – dois importantes produtores mundiais - causou uma redução na oferta e elevou o preço.
“A tendência é que, com o escoamento das produções desses países, sua oferta no mercado internacional comece a se regularizar. Mas também não podemos esquecer que toda importação do trigo é feita em dólar. Então, tem aí também a questão do câmbio. No caso do café, a mesma coisa: uma oferta menor em termos globais elevou o preço. O Brasil é um dos grandes exportadores de café. Só a próxima safra vai decidir se realmente haverá essa queda”, afirma Ana Dias.
O jeito é mesmo buscar alternativas ou trocar os produtos por marcas mais baratas, movimento que o consumidor já está acostumado - e cansado - de fazer. “O preço dos produtos que compõem o café da manhã está em alta já há algum tempo. Está tudo muito caro de forma generalizada. E aí, infelizmente, as pessoas reduzem a quantidade consumida, opta por marcas mais inferiores, tenta colocar no orçamento para fazer caber esses preços."
‘Nem queijo eu compro mais’
A enfermeira Aline Soares da Silva, 40 anos, tem também suas estratégias. Reduziu pela metade o consumo de laticínios.
“Eu comprava a caixa fechada de litro de leite. Agora compro metade. Se antes eu gastava com os itens de café da manhã entre R$ 50 e R$ 60, hoje isso pulou para R$ 150. O jeito foi substituir leite por suco de frutas, usar menos manteiga no pão e laticínios de forma geral”.
No caso da professora Ana Maria Oliveira, 62 anos, o café agora é com mais banana-da-terra e batata-doce no lugar do pão. “Nem queijo, eu compro mais. Nunca mais comprei leite em pó. Antes eu ia ao supermercado sem me importar em conferir os preços. Comprava o que eu precisava. Hoje a gente vai fazendo sorteio do que vai ser possível realmente levar para casa”, afirma.
Ainda de acordo com o levantamento feito pelo Dieese, em julho deste ano, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 120 horas e 37 minutos – sete horas a mais do que a jornada necessária no mesmo período do ano anterior, que ficou em 113 horas e 19 minutos. O trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, no último mês, 59,27% do rendimento para adquirir os produtos alimentícios básicos. Em Salvador, o valor da cesta básica chega a R$ 586,54 - alta de 21,54% no acumulado de 12 meses.
Para o economista e educador financeiro Edísio Freire, com uma inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/ IBGE) chegando a dois dígitos (11,89%) no acumulado de 12 meses, de um jeito ou de outro é a população quem paga mesmo a conta.
“Cada ida ao supermercado vai exigir a compra somente do necessário de maneira bem fracionada. Por força da alta nos preços, estamos vivenciando com coisas não vistas como produtos em reduflação com a quantidade comercializada reduzida, itens sendo vendidos com qualidade inferior. É preciso ficar atento e modificar hábitos de consumo.”
O também economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), Edval Landulfo, concorda: “É apertar os cintos e buscar alternativas. Preparar um café matinal com mais frutas da época, fazer suco com elas, reduzindo um pouco a quantidade de café e leite. Buscar as raízes como o inhame. Fazer pesquisa, tentar aproveitar as promoções de alguns produtos porque não atravessamos ainda toda a turbulência causada nesse mercado de gêneros alimentícios”, aconselha.
Variação de preço dos itens de café da manhã na Bahia*
1. Leite integral (litro): Entre R$ 5 e R$ 10,99
2. Queijo mussarela (quilo): Entre R$ 27,99 e R$ 111,99
3. Manteiga (500 gramas): Entre R$ 8,89 e R$ 41,98
4. Café (250 gramas): Entre R$ 2,99 e R$ 28,99
5. Pão francês (quilo): Entre R$ 6,99 e R$ 27,19
* Pesquisa realizada no site Preço da Hora, da Secretaria da Fazenda do Governo do Estado, na tarde do dia 7 de agosto
Provas do vestibular da Uneb começam a ser aplicadas no próximo domingo (31)
As provas do vestibular da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) para o semestre 2022.2 serão aplicadas nos próximos domingo (31) e segunda-feira (1º). Os 12.206 inscritos devem se informar sobre os locais onde realizarão os exames no site oficial do processo seletivo. A Uneb oferece neste ano 3.401 vagas no processo seletivo, para cursos de graduação na modalidade presencial (2.291) e na modalidade a distância (EaD), oferecidos pela instituição (650) e pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), ministrados pela Uneb (460)
Os portões serão abertos às 7h20 e fechados às 7h50, seguindo o horário local, e as provas terão início às 8h. Para acessar o Cartão Informativo do Candidato, os participantes devem informar número de inscrição ou CPF e data de nascimento. Mais detalhes sobre o processo seletivo podem ser consultados no Manual do Candidato.
No primeiro dia, os candidatos farão as provas de língua portuguesa (incluindo literatura), língua estrangeira (inglês, espanhol ou francês) e ciências humanas (história, geografia e atualidades). Já no segundo dia, serão aplicados os exames de matemática e ciências da natureza (física, química e biologia). As opções de curso ofertadas estão distribuídas em todos os territórios de identidade do estado da Bahia. O certame prevê entrada para o semestre 2022.2.
Recomendações aos candidatos:
O Centro de Processos Seletivos (CPS) da UNEB divulga recomendações para que as provas sejam realizadas em clima de tranquilidade, buscando evitar imprevistos e garantindo a segurança dos candidatos participantes do Vestibular 2022.2:
– É importante que os candidatos localizem, com antecedência, o local de prova;
– É essencial que os candidatos cheguem no local de prova com, no mínimo, 30 minutos de antecedência;
– É obrigatório o uso de caneta transparente com escrita na cor preta ou azul;
– Para assegurar seu acesso à sala de provas, o candidato deverá apresentar o original do mesmo documento de identificação utilizado para realizar sua inscrição, o qual deverá conter impressão digital, fotografia recente e estar em bom estado de conservação;
– Serão aceitos como documento de identificação para acesso ao local de provas: o Registro Geral (RG); Carteira Nacional de Habilitação (CNH), somente modelo com foto; Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); Passaporte; carteiras expedidas pelos Comandos Militares, pelas Secretarias de Segurança Pública, pelos Institutos de Identificação e pelos Corpos de Bombeiros Militares; carteiras expedidas pelos órgãos fiscalizadores de exercício profissional (ordens, conselhos, etc.), desde que apresentem foto atualizada e contenham os números do RG e CPF;
– Não será aceita cópia de documento mesmo que esteja autenticada.
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– Acesse o seu local de prova
Informações: Centro de Processos Seletivos/Uneb – tel. (71) 3117-2352 ou e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..
Acordo do Bahia com Opportunity é de pagar R$ 35 milhões em 7 anos
O Bahia está próximo de dar um passo importante no imbróglio envolvendo o Banco Opportunity, antigo investidor do Esquadrão. Nesta quinta-feira (28), o Conselho Deliberativo tricolor analisará e votará o acordo proposto entre clube e instituição financeira para colocar fim no processo existente entre as partes.
Segundo apuração do CORREIO, no acordo o Bahia pagará ao Opportunity R$ 35 milhões divididos em 84 parcelas mensais, o que totaliza sete anos para a quitação da dívida.
O Opportunity cobra na Justiça cerca de R$ 114 milhões do Esquadrão referente ao distrato do Bahia S/A realizado em 2006, durante a gestão do então presidente Petrônio Barradas.
Com a negociação, o Esquadrão conseguiu abatimento de R$ 79 milhões, o que representa quase 70% de desconto no valor cobrado.
Além do pagamento das parcelas mensais, fica estabelecido que caso o Bahia negocie direitos de transmissão, direitos de atletas ou se aderir a uma liga durante esses sete anos, repassará ao Opportunity percentuais do valor de cada contrato para amortizar a dívida. Esses percentuais variam de 5% a 15%, a depender do tipo de contrato assinado.
O acordo entre Bahia e Opportunity foi enviado inicialmente ao Conselho Fiscal do clube, que emitiu parecer. As comissões Jurídica e de Administração e Finanças do Conselho também foram consultadas.
O processo entre Bahia e Banco Opportunity é considerado pela diretoria o último entrave para a oficialização da proposta de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube. O tricolor está em negociação avançada com o Grupo City, e a expectativa é que após a resolução do imbróglio, a diretoria encabeçada pelo presidente Guilherme Bellintani leve ao Conselho Deliberativo a oferta de compra feita pelo fundo árabe.
“Estamos em um empecilho formal que estamos perto de resolver. Após resolver isso, em dias a gente consegue formalizar a proposta. É a proposta que o parceiro e o Bahia construíram juntos, por isso demorou tanto. Tem um representante do nosso potencial investidor aqui no Brasil trabalhando", explicou Bellintani em entrevista ao Podcast do InfoBahêa, no início do mês.
Apesar do dirigente falar “em dias”, não significa que, aprovando o acordo com o Opportunity hoje, o Bahia já constituirá uma SAF na próxima semana, por exemplo. Isso dependerá de outra consulta ao Conselho Deliberativo e, posteriormente, da aprovação dos sócios em assembleia geral. Mas é seguro considerar que deve ocorrer ainda este ano.
Entenda o caso
A disputa judicial entre Bahia e Opportunity teve início em 2016. Dez anos antes, em 2006, durante a gestão Petrônio Barradas, o tricolor fez um acordo para reaver as ações do Bahia S/A – o banco detinha 51%. O clube se comprometeu a repassar ao banco porcentagem da venda de atletas, sendo 10% em 2007, 20% em 2008 e 30% entre 2009 e 2023. O que nunca aconteceu.
Além disso, o Esquadrão possuía uma dívida de R$ 13,5 milhões com o então parceiro no momento do distrato, que também não foi paga. De acordo com uma comissão do próprio Bahia, esse valor corrigido ultrapassaria os R$ 35 milhões – valor do acordo que será votado hoje. Nos R$ 114 milhões pedidos pelo Opportunity, o banco inclui também valores corrigidos das porcentagens das vendas de jogadores realizadas pelo clube.
A parceria entre Bahia e Banco Opportunity teve início em 1998, um ano depois da primeira queda do clube para a segunda divisão. No boom da formação de clubes-empresa no Brasil, o tricolor tornou-se o Bahia S/A. Através da Liga Futebol, criada apenas para administrar o Esquadrão, o Opportunity virou dono de 51% do clube. Os outros 49% continuaram com a associação Esporte Clube Bahia.
A instituição financeira fez investimentos no início da parceria, mas em campo os resultados não aconteceram. O time não conseguiu voltar à primeira divisão nos dois primeiros anos. Só em 2000, com a criação da Copa João Havelange, o clube retornou à elite através de uma “virada de mesa”.
Três anos depois, em 2003, o Bahia foi rebaixado novamente. Com a relação desgastada, o Opportunity se afastou do clube. Em 2006, quando a equipe já estava na Série C, o Bahia fez uma oferta para retomar o controle da S/A. Na época, grupos de oposição ameaçavam negociar com o banco a compra das ações.
Viúvas de militares falecidos em 2022 estão sem pensão e reivindicam o benefício
As viúvas dos militares falecidos em 2022, que estão sem pensão, se reuniram nesta quarta-feira (27) na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) para participar de uma audiência pública e fazer um protesto com o objetivo de chegar a um acordo sobre o Projeto de Lei 24.532/2022, que estabelece novas regras para a concessão dos benefícios de pensão de militares baianos. O Governo do Estado alega que determinou que todos os requerimentos administrativos de pensão por morte fossem suspensos devido a inexistência de lei permissiva estadual.
O projeto de lei já foi adiado três vezes desde que entrou em tramitação em abril deste ano e vem gerando divergências entre autoridades e também entre os beneficiários. Algumas viúvas argumentam que o documento não deve ser aprovado, pois prejudicaria os pensionistas. Outras, apesar de não concordarem com algumas regras, preferem que a Assembleia realize o quanto antes a votação para que o benefício seja liberado.
Maria Raimunda de Lima, de 74 anos, aposentada na área da educação, conta que seu marido, sargento Antonio Bispo de Santana, morreu no dia 11 de maio aos 85 anos e, desde então, ela não recebeu a pensão pelos mais de 30 anos que o seu companheiro serviu. “Existem outras pessoas que perderam seus companheiros em janeiro e estão sem a pensão desde lá, com o plano de saúde suspenso, isso é muito doloroso. A audiência na Alba foi ótima, pudemos tratar dessa problemática e espero que tudo se resolva o quanto antes”, desejou.
Já a professora aposentada Ana Dolores Monteiro, 78, recebe pensão do marido, mas decidiu participar da audiência pública na Alba para prestar solidariedade e apoiar as viúvas. “Não consigo apoiar uma lei que tira direitos de pensionistas, nunca vi isso antes, isso é abominável. Conheci várias que estão passando por muitas dificuldades, com filho pequeno e escola para pagar. O plano de saúde da pensão também está suspenso, é um absurdo. Têm viúvas que passaram mal, foram procurar atendimento pelo plano e não foram atendidas porque cortaram”, relatou.
Ana só recebe 50% da pensão, porque cortaram o restante do valor. Muitas mulheres, assim como ela, alegam que estão sem o benefício e sem o plano de saúde que deveria ser disponibilizado junto com a pensão. O Governo do Estado foi procurado para um posicionamento sobre essa questão, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Dentre os resultados positivos da audiência pública e do protesto ocorrido ontem na Alba, os pensionistas afirmam que o ato pode dar visibilidade e voz para quem está vivenciando o problema. “Meu marido contribuiu por 35 anos. É um direito nosso receber a pensão, não estamos pedindo muito, estamos cobrando o nosso direito”, relata Avani de Jesus, 57, que perdeu o companheiro em fevereiro deste ano.
Segundo a Alba, a votação do projeto pode acontecer ainda hoje. A Assembleia não deu motivos para o adiantamento da pauta. Os pontos do Projeto de Lei que incidem em perda de direitos conquistados na legislação federal de 2019, correspondem aos artigos 5° e 11°, onde estabelecem limite temporal para o recebimento da pensão, dentre outros prejuízos, são os responsáveis pelas divergências e protestos.
A Secretaria de Administração do Estado da Bahia (Saeb) argumentou que não pode utilizar uma lei federal, que garante benefícios aos dependentes do militar, para pagar as pensões e, por isso, encaminhou o PL à Assembleia e espera a aprovação para que os benefícios sejam liberados.
Registros de armas novas triplicam na Bahia em quatro anos
A quantidade de armas novas registradas na Bahia deu um salto nos últimos quatro anos. Nos três primeiros meses de 2019, foram 400 registros novos de armas de fogo no estado. Neste ano, o número cresceu para 1.363, o que representa um aumento de 240%, segundo dados da Polícia Federal. A escalada se dá em um momento em que o governo federal se mostra favorável ao armamento da população.
Vinícius Neves, 35, tem em sua árvore genealógica amantes de armas de fogo. Por conta da família morar na zona rural, no interior do estado, onde o policiamento é fraco - quando não, nulo -, o advogado se acostumou a ter pessoas armadas ao seu redor. Ele conta que um de seus tios chegou a ser campeão de tiro em uma competição no Espírito Santo.
Quando medidas do governo Bolsonaro passaram a flexibilizar a posse de armas no país, Vinícius, que mora atualmente em Vitória da Conquista, decidiu comprar a sua primeira e, por enquanto, única arma. “Quando teve essa oportunidade que flexibilizou um pouco o acesso, eu decidi ter. Quando eu comprei, achei que fosse ficar muito mais ativo no clube de tiro, mas não foi o que aconteceu, por conta do tempo e do custo”, diz o advogado.
Sua arma é uma pistola G2C - 9mm e foi comprada em 2019 por R$ 4.500. Atualmente, Vinícius Neves frequenta o clube de tiro uma ou duas vezes ao mês. Apesar de nunca ter precisado utilizar a arma, diz que a posse transmite sensação de segurança. O advogado não possui o porte de armas, mas pode andar com a pistola se estiver no trajeto entre sua casa na cidade e a fazenda, a cerca de 160 quilômetros de distância.
“Já passei por dois assaltos e sei como é estar com uma arma apontada para a cara ou colada no peito. Lógico que ter uma arma não evita passar por situações como essas, mas possibilita que eu tenha o direito de reação, se eu for capacitado para isso”, diz Vinícius, que pretende adquirir mais armas em breve.
Pequeno arsenal
Em fevereiro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro assinou quatro decretos que flexibilizaram o uso e a compra de armas de fogo no Brasil. Uma das medidas foi justamente o aumento do número de armas que o cidadão comum pode adquirir, que subiu de quatro para seis. O governo também passou a permitir o porte simultâneo de duas armas.
Para Sandro Cabral, professor de estratégia no setor público no Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa - e na Universidade Federal da Bahia (Ufba); e autor de trabalhos na área de segurança pública, a posse e o porte de armas além de não diminuírem a violência, transferem a responsabilidade de conter o crime para os cidadãos comuns. Esses que, muitas vezes, podem não ter recebido o treinamento correto.
“Imagine você ser vítima de um assalto. É horrível ter o celular roubado, mas se tem alguém armado ali, a chance de alguém reagir é maior e o prejuízo que poderia ser só o celular, pode ser a vida [...] Querer armar a população é uma forma de eximir a polícia da sua responsabilidade de patrulhar e fazer investigações”, afirma Sandro Cabral.
Tradição
O médico cirurgião Wanilton Rios, 52, ganhou sua primeira arma como um presente de seu pai, quando tinha 14 anos. Era uma de pressão. Desde novo acostumado a conviver com armas de fogo em Mairi, onde nasceu, hoje o médico tem porte legal de três armas.
Wanilton vive em Senhor do Bonfim e possui o certificado de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). O médico nunca precisou utilizar as armas para se defender e faz uso delas em clubes de tiro especializados.
“Uma coisa é atirar em uma silhueta metálica em um clube, outra é atirar em um ser humano. São completamente diferentes e eu não sei se todos estariam preparados para isso”, afirma.
Apesar de ser a favor da posse, Wanilton acredita que é preciso ter cautela. “Tem ocorrido um incentivo [do governo], que antes não existia, e eu sou a favor que a pessoa possa ter sua arma se for idônea e tiver tudo legalizado. Mas tem que saber também que o que acontecer com ela [arma] é de sua responsabilidade”, diz.
Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o advogado Ivan Marques explica que em sociedades onde a violência já predomina, o uso de armas não torna a cidade ou país mais seguro. “Experiências feitas no mundo inteiro apontam que a arma de fogo sozinha não costuma ser geradora de violência. Mas em sociedades que já apresentam comportamentos violentos, como é o caso da Bahia e do Brasil todo, isso estimula o uso de armas em conflitos interpessoais. O que acaba gerando mais mortes do que se as armas não estivessem presentes”, diz.
Em janeiro de 2019, no início de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro flexibilizou a posse de armas para moradores de áreas rurais ou de cidade ou estado em que a taxa de homicídios seja superior a 10 para cada 100 mil habitantes. A Bahia possui taxa de 8,8 mortes para cada 100 mil habitantes, de acordo com o Monitor da Violência, feito pelo G1.
No primeiro ano de flexibilizações para a posse de armas, o estado registrou 5013 homicídios dolosos - o número significa uma queda de 6% em relação ao ano anterior, quando houve 5346 mortes do tipo. Três anos depois, quando adquirir uma arma se tornou mais fácil, o quantitativo saltou para 5532, em 2021, o que representa um aumento de 10% no número de mortes violentas na Bahia. Em 2020 foram 5360 homicídios, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que não específica se os homicídios no estado foram causados por arma de fogo.
Acidentes
Casos que resultam em mortes com disparos acidentais de armas de fogo não são incomuns na Bahia. Na segunda-feira (13), um menino de 12 anos morreu após ser baleado pelo irmão de 8 anos, na zona rural de Remanso. O menino mais novo estava com a espingarda do pai e, ao tentar carregar a arma, acabou disparando.
Quando a polícia chegou ao local, encontrou Wagner Lopes de Almeida morto. O pai dos meninos e dono da arma poderá responder por posse irregular de arma de fogo e omissão de cautela, segundo a Polícia Civil.
Em abril deste ano, um menino de 10 anos também faleceu após ser atingido por um disparo acidental de espingarda no povoado de Santa Maria Eterna, em Belmonte. Pedro Jorge Vale Nascimento estava limpando o quintal de casa com o irmão mais velho.
Pessoas comuns têm mais acesso
De todas as 11 categorias de pessoas que podem ter registro de armas de fogo, a de cidadãos é a que possui a maior quantidade de armas novas, ainda de acordo com dados da Polícia Federal. Do total de 1.363 armas no estado, 1.092 são de pessoas comuns - o equivalente a 80%.
Em seguida, estão as pessoas que possuem armas por conta da função pública que ocupam (164) e empresas de segurança privada (87%). Exceto em 2020, quando houve um número atípico de registros de armas para órgãos públicos, em todos os outros anos, os registros para cidadãos lideram o ranking.
Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, afirma que em alguns momentos o uso de armas de fogo por pessoas comuns pode ter êxito. Como, por exemplo, se alguém invade uma casa e o proprietário percebe antes que seja tarde. Mas, em geral, a diretora acredita que as armas causam mortes desnecessárias.
“A arma não mata ninguém sozinha, obviamente, mas ela catalisa situações que não precisariam do uso de armas, como brigas entre vizinhos e no trânsito. Também temos percebido que tem aumentado o percentual de mulheres mortas em residências por arma de fogo”, afirma Carolina Ricardo. O Instituto Sou da Paz tem a missão de contribuir para a implementação de políticas públicas de segurança eficientes.
Armas legais vão para o crime
As armas de fogos são um bem visado por criminosos em todo o país, tanto pelo seu valor como pela sua função. Por isso, acabam indo facilmente parar no mundo do crime, através da venda direta ilegal ou assaltos.
Um estudo feito pelo Instituto Sou da Paz em parceria com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santos, apontou que 30% das armas usadas em crimes que tinham número de série vieram do mercado legal. A análise foi feita com 8.862 armas apreendidas no estado. Da amostra de 1.404 com número de série, 420 estavam registradas no Sistema Nacional de Armas (Sinarm).
“O estudo aponta que 73% das armas apreendidas no crime são nacionais, o que derruba aquele mito de que elas vêm só pelas fronteiras do país”, diz Carolina.
Para Ivan Marques, advogado e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estudo mostra que as armas não nascem ilegais, mas que acabam indo parar nas mãos do crime organizado.
“É muito raro ver uma arma artesanal fabricada em algum fundo de quintal. A maioria das armas apreendidas pela polícia em crimes são nacionais e vendidas no Brasil. Isso quer dizer que a arma não foi desviada na fábrica, ela foi vendida para alguém que perdeu para o crime”, explica Ivan Marques.
Uma operação policial realizada no Espírito Santo e mencionada no estudo do Instituto Sou da Paz, descobriu que um grupo criminoso recrutava pessoas para se inscrevessem como CACs, terem acesso legal às armas e depois repassá-las. Mas, além de casos como esses, armas também podem parar no crime através de assaltos.
“Ainda que bem intencionado, um cidadão que leva uma arma para casa, corre o risco dessa mesma arma parar na mão de criminosos”, acrescenta o advogado
A Polícia Federal e a Secretaria de Segurança da Bahia foram procuradas, mas não forneceram dados sobre a quantidade de armas de fogos legais apreendidas em operações policiais no estado.
Como ter acesso às armas de fogo legalmente
Para cidadãos brasileiros e estrangeiros residentes no país conseguirem ter acesso a arma de fogo, é necessário ter idade mínima de 25 anos; declarar necessidade de possuí-la; comprovar idoneidade (apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais); apresentar documento comprobatório de ocupação e residência além na necessidade de comprovação de capacidade técnica e aptidão psicológica.
Preenchendo os requisitos, é preciso realizar uma solicitação através do GOV.BR e comparecer à unidade da Polícia Federal selecionada para a entrega da documentação necessária.
Quando a arma for enfim adquirida, deve ser registrada em um prazo de até 15 dias. Neste processo é expedida a guia de trânsito, que autoriza o transporte da arma do estabelecimento comercial ao local de guarda.
A reportagem entrou em contato com a Secretária de Segurança Pública (SSP) em busca de dados sobre o número de homicídios, feminicídios e lesões corporais seguidas de morte ocorridos nos últimos quatro anos no estado, mas até a públicação desta reportagem não houve resposta. A Polícia Federal (PC) também foi procurada para informar os tipos de armas de fogo mais registrados na Bahia no mesmo período, mas não houve retorno.
Bahia tem mais de 4 milhões de endividados; veja como evitar ou se livrar dívidas
O aumento de 65% no percentual de empréstimos na Bahia já reflete também no número de endividados no estado. Segundo o indicador Serasa de inadimplência do consumidor na Bahia, mais de 4,1 milhões de baianos estavam com dívida em aberto em maio deste ano. No mesmo período de 2021, eram 3,9 milhões, o que representa aumento de 6,5% no número de consumidores inadimplentes. No mesmo período deste ano, o valor das dívidas negativadas superou a faixa de R$ 13 bilhões, alcançando o maior valor em quatro anos. As restrições para quem tem o nome de Serasa são o acesso ao crédito, por conta da redução do score de crédito do consumidor.
A pesquisa é complementada por afirmação da última pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor divulgada pela Fecomércio-BA, cujo levantamento mostra aumento no número de pessoas que não conseguem pagar o crédito que tomaram emprestado. Em junho, a taxa de famílias com contas em atraso chegou a 38,2%, quinta alta consecutiva e patamar mais elevado desde 2013. Atualmente, são 356,5 mil famílias inadimplentes, um aumento de 117 mil em relação ao mesmo período do ano passado.
A professora municipal de Salvador, Sarajane Bispo, 52, precisou contrair alguns empréstimos entre 2019 e 2020 para cuidar da saúde. Com esclerose múltipla, foi necessário pagar consultas caras, remédios, e até tentar um atendimento melhor em São Paulo. Passagens e hospedagens se somaram aos gastos e, no final, a servidora havia contraído cerca de R$ 15 mil no empréstimo consignado.
“Eu tenho renda pelo INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], pelo governo do estado e pela prefeitura de Salvador, então o empréstimo foi distribuído em vários bancos: uma parte no Banco do Brasil, outra no Banco Bradesco, e outra no Banco Pan. Algumas já quitei, mas outras ainda tem parcelas, tem o valor real para quitar. Não foi de vez um valor só, eu pagava e financiava. A coisa foi muito grotesca, hoje eu sei disso, mas na época eu achava que era 'ok'”, conta Sarajane.
A professora conta que chegou um período que começou a perder o controle das dívidas. “De 2019 para 2020, eu refinanciava empréstimo, uma bola de neve. Tem mais ou menos um ano que estou tentando quitar pelo menos esses empréstimos e agora está mais difícil. As pessoas devem respirar e contar até 10 antes de tomar um empréstimo, você acaba pegando um empréstimo e paga outros três”, diz Sarajane, que tem feito cursos de organização de finanças para lidar melhor com o dinheiro.
Em 2019, com a pandemia e o medo da recessão, os governos diminuíram os juros, chegando a oferecer taxas de 2% ano ano. O efeito disso, segundo o consultor da Fecomércio, foi um estímulo ao consumo e uma maior facilidade na concessão de empréstimos. No entanto, a inflação continuou a aumentar e, com ela, os juros das parcelas do empréstimo anteriormente contraído.
“Com esse estímulo a subida de juros ficou muito rápida, deixando esse crédito mais caro para pagar juros, e veio a inflação muito forte. Então as famílias não conseguiram equilibrar as contas e foi virando uma bola de neve”, afirma.
Têm dívidas? Saiba o que fazer:
*Não se desespere - o desespero pode atrair ainda mais dívidas e dificulta a reorganização financeira;
*Faça orçamento doméstico - liste os gastos da família com alimentação energia e tudo o que exige dinheiro. Depois identifique elementos que podem ser cortados ou substituídos por algo mais barato;
*Transferência - Use todo o dinheiro que sobrar a partir dos cortes e substituições para pagar as dívidas;
*Valor integral – É importante lembrar que só deve ser negociado o pagamento integral da dívida. Se o orçamento já está 100% comprometido, não tem como negociar parcelas, pois não vai ter como honrar;
*Renda Extra - Se o salário já estiver 100% comprometido, é necessário buscar alguma atividade que gere renda extra
Fonte: Edval Landulfo, economista, conselheiro do Corecon-Bahia e especialista em educação financeira.
Cuidados que evitam endividamento:
Recorrer a empréstimo só em caso de urgência - nunca é o momento de pegar empréstimo ou fazer financiamento, a não ser que seja por uma situação de emergência e a pessoa não tenha de onde tirar recursos;
Calcule os juros e analise a melhor opção - é preciso fazer todos os cálculos das prestações. Por exemplo: se pegou R$ 1.000 e vai ter entre 24% a 50% de juros sobre esse valor. É necessário calcular o valor inicial e final para analisar se vale a pena financiar ou tomar o empréstimo;
Use o crédito conforme sua renda - o cartão de crédito não é extensão da renda. De R$ 10 em R$ 10 vem aquela fatura bomba, que você nunca sabe no final quanto vai pagar. Para quem já tem planejamento, pode utilizar o cartão de crédito principalmente onde não vai ganhar desconto, mas para isso a pessoa precisa de educação financeira, para saber o preço máximo a pagar na parcela;
Parcelamento de compras - no mercado, os produtos já têm juros, então nessa situação é possível comprar no prazo no momento de inflação prejudicial à compra familiar. O ideal é pagar tudo no crédito e dividir no máximo de parcelas possíveis, porque os juros já estão calculados;
Renda alternativa - o ideal é abrir mão do lazer um pouco mais e buscar uma renda alternativa complementar, oferecer serviços naquilo em que se é bom, por exemplo, e utilizar essa renda extra para pagar prestações ou se alimentar melhor. Para pessoas que não têm possibilidade de fazer trabalhos extras, a solução é não buscar novos empréstimos, mas pedir ajuda aos amigos e à família e explicar que não tem condição a curto prazo para honrar a dívida. Além de fazer cursos para mudar de cargo e ter salário melhor através de conhecimento e aperfeiçoamento técnico;
Atenção ao consignado - no caso do servidor público ou pensionista, há uma facilidade de conseguir empréstimo. Mas os servidores devem observar que apesar de ser um crédito com valor muito mais em conta que qualquer outro, acaba sendo um valor ainda alto em relação a outros países do mundo.
Homem que fingia ser delegado para ganhar droga de graça é preso na Bahia
Moradores da cidade de São Francisco do Conde, interior da Bahia, ficaram surpresos após, nesta quinta-feira (21), um delegado ser preso e encaminhado para a 21ª Delegacia Territorial.
Trata-se de um homem que se passava por delegado na cidade. Ele já tinha um mandado de prisão em aberto por roubo, expedido pela comarca de Pernambuco. A prisão só ocorreu após denúncias.
De acordo com o delegado Ítallo Bruno Melo, além de se passar por uma autoridade, o homem ainda obrigava os trabalhadores a comprarem drogas para ele na cidade.
“Fomos informados que ele estava se apresentando como autoridade policial e obrigando alguns mototaxistas a comprar drogas para ele. De imediato, o Setor de Investigação (SI) se deslocou ao endereço do investigado e encontramos o homem com uma carteira de delegado dos direitos humanos”, explicou.
O falso delegado seguirá na unidade da 21ª DT à disposição do Poder Judiciário.
Legislativo e Judiciário pedem suplementação, apesar de ‘negativa’ antecipada de Rui
O Judiciário e o Legislativo baiano anunciaram que pedirão suplementação orçamentária para fechar as contas de 2022, apesar de o governador Rui Costa (PT) ter sido taxativo ao antecipar a impossibilidade de dar retorno positivo a qualquer pedido. Nas palavras de Rui, “o bicho vai pegar”, pois o cenário estadual é de perda de arrecadação de R$ 5 bilhões.
A justificativa do governador, no entanto, vai de encontro ao argumento do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), que confirmou a decisão nesta quarta-feira (20), durante sessão plenária, segundo o site Bahia Notícias.
O presidente da Corte, desembargador Nilson Castelo Branco, alegou que o pedido será feito diante da alta arrecadação do Estado. A estimativa orçamentária de RS 2 bilhões do TJ-BA teria sido feita com base na expectativa de arrecadação do Poder Executivo. O entendimento é de que foi arrecadado mais do que o previsto, e, por isso, o TJ-BA, junto com o Ministério Público da Bahia (MP-BA), Defensoria Pública (DP-BA) e os Tribunais de Contas do Estado e do Município pedirão a aplicação da Lei Orçamentária, segundo a qual cada Poder tem direito a uma parcela do valor excedente. O pedido do Judiciário é de R$ 160 milhões.
O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Adolfo Menezes (PSD), também nesta quarta, confirmou que requer suplementação para “fechar as contas”. Neste caso, o pedido é de R$ 90 milhões.
“Com certeza nós vamos precisar de suplementação. Aí você me pergunta: se não aumentar o custo, por que vai precisar de suplementação? Acontece que os orçamentos, sempre, e eu sei não o porquê, já são aprovados sabendo que não são suficientes”, disse Menezes em entrevista à TV Band Bahia.
Em junho, durante uma coletiva, Rui Costa foi enfático ao dizer que já havia encaminhado aos chefes dos demais Poderes o recado de que qualquer suplementação orçamentária não seria atendida.
“Já pedi ao secretário Manoel Vitório [Fazenda] para avisar ao Judiciário baiano, ao Ministério Público da Bahia, à Defensoria da Bahia que esse ano o bicho vai pegar. Não vai ter suplementação de recursos porque, para quem está perdendo R$ 2,5 bilhões, não tem como suplementar absolutamente nada. Nós vamos ter que fechar a conta, apertar para fechar a conta no final do ano. Já pedi aos outros Poderes para fazer o ajuste necessário”, disse o gestor.
74% dos soteropolitanos usam mais de um modal para economizar tempo e dinheiro
Dói no bolso pensar em atravessar a malha soteropolitana usando apenas um tipo de veículo devido ao custo-benefício. Para fugir dos altos preços e demora para chegar no destino, 74% das pessoas que fazem seus trajetos com mais de um meio de transporte - utilizando bicicletas, carros ou caminhada a pé - complementam as viagens com uso de transporte público. O levantamento é resultado de pesquisa feita pela Tembici, empresa de tecnologia para micromobilidade.
Professora da Universidade Federal da Bahia no Departamento de Engenharia de Transporte, Denise Ribeiro explica que, o fato de pessoas de baixa renda não terem condição de comprar o próprio automóvel ou de se deslocar diariamente pagando transporte, a solução encontrada é integrar os meios possíveis. Assim, é comum ver em Salvador pessoas que vão a pé até estações e terminais, ou utilizam bicicletas.
A estudante de direito, Patrícia Pires, 22, vai a pé de casa até a estação da Lapa, onde ainda pega duas linhas de metrô e um ônibus para chegar no local em que estagia. Ela faz o processo invertido para voltar do trabalho. Patrícia conta que existe um ônibus que roda o caminho direto entre sua casa até o trabalho, mas prefere fazer de modo integrado por questão de tempo, segurança e dinheiro.
“Como sou estudante, uso meia passagem. Se fosse de Uber pagaria R$ 30 só de ida e comprar um carro agora é impossível por conta do custo do carro. Vou de metrô por ser mais seguro. [Mas] muitas vezes já peguei Uber na estação de metrô justamente pelo fato de sair mais em conta o preço do Uber que a passagem”, diz.
A coordenadora do Observatório da Mobilidade em Salvador (ObMob), Erica Telles, explica que a mobilidade integrada - quando se usa vários tipos de transporte para um deslocamento - é comum em Salvador por conta das particularidades da capital, como tamanho da Região Metropolitana.
A mescla de transportes é indicada justamente para percursos de longa distância, assim, é possível que a pessoa inicie o trajeto com bicicleta, deixe o veículo em algum bicicletário, após 5km a 7km de corrida, e prossiga com o uso de metrô ou ônibus, orienta Telles. O mesmo método pode ser utilizado por quem mora em Itaparica, por exemplo, indo de bicicleta até a lancha e, após chegar no continente, voltar ao micro transporte, podendo alternar com veículos públicos.
"O transporte público é quem estrutura o direito à cidade. [Mas] precisa ter ao redor dele outros meios que alimentem a infraestrutura e garanta acessibilidade. Como a rede cicloviária, metrô, Elevador Lacerda", afirma o doutor em urbanismo e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), Pablo Florentino.
É o que o professor Marcelo Sant’Anna, 24, costuma fazer. “Misturo os dois [bicicleta e transporte público]. Avalio o destino que quero chegar e, se eu ver que é mais rápido utilizar no meio do percurso a bicicleta, eu mesclo. Utilizo a bike de aluguel do Itaú, que tem pontos na cidade toda, então facilita que eu adapte meu plano aos pontos disponíveis”, diz.
Bicicleta para aluguel
Em um cenário de alta na passagem de ônibus e preço do combustível, a bicicleta apareceu como salvadora para quem quer economizar. São 50 estações e mais de 400 bicicletas espelhadas por toda cidade através do Bike Salvador, sistema de bicicletas compartilhadas da Tembici em parceria com o Itaú Unibanco em Salvador. A vantagem do aluguel de pequenos veículos é justamente ter a liberdade de traçar o próprio trajeto com economia de tempo e dinheiro.
Erica Telles ressalta que a bicicleta é também uma ferramenta de transformação social. Isso porque pode ser objeto de economia, através do dinheiro poupado no transporte público ou gasolina, assim como serve de emprego e renda para quem trabalha com entregas. “É um veículo barato, de fácil manutenção. Se bem cuidada pode durar mais de 10 anos, a minha tem 11 anos. O ciclista pode estar sempre com ela em dia e fazendo percursos que precisa por questão de trabalho, lazer ou estudo”, avalia.
O porteiro Anderson Figueiredo, 28, conta que utiliza bicicleta diariamente para ir e voltar do trabalho e não tem interesse em comprar automóvel por agora devido ao valor investido para combustível. O fator que facilita o uso diário do veículo é que, entre o trajeto de casa até o trabalho, há uma ciclovia pela qual Anderson se sente mais seguro para transitar com segurança todos os dias.
“Escolhi a bicicleta porque é uma forma de chegar mais rápido ao meu trabalho. [Mas] não costumo usar bicicleta fora das ciclovias, há falha nas regiões mais afastadas do centro. Rio Vermelho, Ondina, Barra, Avenida Sete sempre têm ciclovia”, afirma.
Embora haja iniciativas para criação de ciclovias, o professor no Departamento de Engenharia de Transporte da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Juan Pedro Moreno, salienta que algumas, como a da Avenida Garibaldi e Suburbana precisam ser reajustadas. “Estão expondo ciclistas ao risco, a única ciclovia segura que temos é a que está abaixo do metrô. Em termos de infraestrutura, a solução é [...] aproveitar faixas de circulação destinada para automóvel para criar ciclofaixas”, orienta.
Já Erica acrescenta que a malha precisa ser mais conectada e ter recursos, a exemplo de estacionamento para os veículos. Ela recorda a inauguração do bicicletário na Ribeira, estrutura instalada por meio do Movimento Salvador Vai de Bike, por iniciativa da prefeitura. Para ela, no entanto, ainda é preciso que mais “estacionamentos” sejam instalados em locais populares, como a estação da Lapa e Mussurunga, a democratizar o uso da bicicleta com segurança e integrar outras modalidades de transporte, como metrô e ônibus, junto à bicicleta.
Plano Cicloviário
Para tornar Salvador uma cidade mais segura a todos pilotos, a prefeitura tem desenvolvido projetos cicloviários no cronograma de ações. O secretário municipal de Mobilidade (Semob), Fabrizzio Muller, diz que o município está desenvolvendo um plano cicloviário que deve guiar a gestão atual e gestões seguintes no sentido de Salvador ser uma cidade com maior infraestrutura. Segundo Muller, ainda neste ano será aberta audiência pública para que ciclistas participem da construção da guia e apontem as necessidades da classe.
“O plano incluirá desde informações técnicas de melhorias de ciclovias e ciclofaixas existentes como até novas ciclofaixas entre uma e outra que ainda não tem conexão. [Também discutirá sobre] velocidade de vias que precisam ser remodeladas para que haja ciclofaixa de forma segura”, detalha o secretário.
Presidente da Saltur, Isaac Edington destaca o Movimento Salvador Vai de Bike - do qual é coordenador -, projeto iniciado em torno de 2013 a partir do governo ACM Neto e válido até hoje com objetivo de ampliar a infraestrutura cicloviária. Quanto às críticas sobre a distribuição das ciclovias na capital, Edington relembra que a iniciativa é recente e antes de 2013, a malha tinha cerca de 20 km, hoje, já passa de 300km.
Ele ainda cita capacitações feitas para motoristas de ônibus com intuito de promover o respeito a pedestres e ciclistas no trânsito. Para ele, a capacitação é importante porque, tendo ou não ciclovia na região, é importante que motoristas saibam usar as vias públicas com respeito. “São ações que atuando em conjunto ao longo dos anos progrediram na cidade”, afirma.
Bruno Reis critica protesto de ex-funcionários da CSN que travou a cidade
O prefeito Bruno Reis criticou o protesto realizado pelos ex-funcionários da extinta CSN, que causou um imenso congestionamento em Salvador, nessa terça-feira (19). Para ele, os trabalhadores não devem penalizar a população por uma situação que é "privada".
"Se eles querem se manifestar, que vão para porta da prefeitura, do cartório. Somos a favor das manifestações, mas fechar a rua também não dá. Esse é um problema privado, de relação empregador-empregado. A prefeitura está indo além das responsabilidades para tentar resolver", disse o prefeito, nesta quarta-feria (20).
Bruno ressaltou que vem acompanhando de perto o processo de indenização dos trabalhadores e que tem atuado no que é possível para acelerar o pagamento.
"Se não fosse o prefeito de Salvador, sabe quando eles iam receber indenização? Nunca porque a CSN quebrou, e os bens estão alienados. O terreno que está para vender a MRV avaliou em R$12 milhões, e o prefeito pediu para avaliarem de novo, e a MRV vai pagar R$20 milhões. Esse terreno devia R$18 milhões. O prefeito foi até o Bradesco e reduziu o débito para sobrar R$12 milhões para a indenização", detalhou.
O prefeito lembrou ainda que desde a confirmação da venda do terreno há um prazo de 90 dias para que o pagamento da indenização seja realizado. O prazo é estimado para que seja concluída a parte burocrática da transação.